No dia 15 de dezembro, o município de Pinhão completa 58 anos de emancipação política, com certeza, um lugar lindo, com paisagens e cachoeiras lindas. Tem um por de sol maravilhoso. Um município é na verdade o viver e o trabalho de cada cidadão!

Neno Maia, morador de Faxinal do Céu…

Eugênio Ferreira de Macedo, o Neno Maia, aos 84 anos é um senhor forte, lúcido, alegre e disposto.

É filho do casal Antônio Ferreira de Macedo e Olimpia Correia de Macedo, é o filho mais velho dos 10 que o casal teve.

Dia do casamento com a jovem Sebastiana | Foto: Arquivo/ Pessoal

Foi casado com Sebastiana Camargo de Macedo, viúvo há 15 anos, é pai das filhas Ilma, Carmem e Olga e do filho Joel, tem 7 netos e 4 bisnetos, com mais um pra chegar.

Com esposa e filhas |Foto: Arquivo/Pessoal

Cresceu no Faxinal dos Maias, “Tinha esse nome porque morávamos nós, com meu pai, meu avô e todos meus tios, o povo chamava lá de Faxinal dos Maias”.

Pequeno, ele já conhecia a região de Faxinal do Céu, pois, onde hoje é o antigo ambulatório era uma escolinha, “Era um casão de madeira, naquele tempo era difícil professora, veio a Dona Irma, que morava em Cruz Machado dar aula ali, a gente às vezes vinha na escola porque, naquele tempo, ir para a escola era difícil, morávamos a 5km da escola, e nós trabalhava desde pequeno na roça ajudando os pais”.

Um portão para o Jardim Botânico

Tomando informações de como chegar na propriedade do seu Neno, a resposta que me deram me deixou intrigada, “É só ir ao Jardim Botânico”.

Seu Neno divide cerca com o Jardim Botânico, um dos portões da sua propriedade sai dentro do Jardim Botânico, ele vivenciou a transformação de toda aquela paisagem.

Primeiro, ele morou dentro da Vila Residencial. “Eu morava numa localidade que o povo chamava de Morumbi, comprei uma casa antiga e o terreno, um pouco pra cima do lago, até porque naquela época a gente criava os animais tudo solto e aqui era um mundão de mato”.

Em 1970…

Seu Neno vendeu esse terreno para o compadre Lázaro e comprou a propriedade que ele reside. “Me mudei em 70, esse pedaço de terra era de um senhor muito nosso amigo, que morava em Cruz Machado, eu domava os animais para ele, entre risos, na época eu era meio domador. Eu não tinha dinheiro, mas ele fez uma boa proposta e acabei comprando, e nunca mais saí daqui”.

Nos tempos que era Guarapuava

Ele lembra que no seu tempo de piá, as dificuldades eram grandes.  No tempo que Pinhão nem tinha esse nome e pertencia a Guarapuava, existia uma força tarefa chamada Viação.

A Viação

“Tinha o inspetor municipal, que aqui na nossa região era o tal de Chico Martins, ele organizava a Viação, que era intimar alguns homens que por 7 dias trabalham de graça para a prefeitura fazendo as estradas a picareta”.

Ele viu a primeira estrada de Faxinal do Céu ser feita, “A primeira estrada que fizeram aqui eu era piá pequeno e vi meu pai e outros homens fazê-la na picareta. Numa época ele ficou adoentado e justou um camarada para trabalhar no lugar dele. Eu ia levar comida para eles, que paravam na beira da estrada.

Ele foi inspetor Municipal

Pinhão se emancipou, as Viação passaram a ser pagas, “Quando o Juvenal Estefanes, primeiro prefeito de Pinhão assumiu, passaram a pagar para o povo trabalhar”.

Seu Neno foi nomeado inspetor municipal “Naquele tempo tinha muita criação solta que ia nas roças dos vizinhos e tinha que avaliar os danos, era tudo meio comum, dava as encrencas, a gente tinha que marcar uma divisão, apaziguar a situação, eu era autoridade naquela época”.

10 km de estrada na picareta

“Fui encarregado de pegar uma turma para fazer uma estrada de 10 km daqui do centro comercial até a captação da água, peguei uns 8 camaradas, uns iam derrubando as árvores e outros iam roçando para limpar”.

Davi Brolini

Seu Neno vai contando sua vivência e vai se lembrando de amigos, compadres, “Antigamente as pessoas tinham a posse da terra do seu Davi Brolini, pai do falecido Darci Brolini, ele dava a terra para a gente fazer tiguera para dai soltar o gado e a gente encontrava aqueles cargueiros com os animais que eram só barro até em cima, naquele tempo era mato, ai não enxugava”.

“Nosso Bodegueiro”

Aqui nós tínhamos o Sebastião de Matos, ele tinha a bodega e lá nós comprávamos o que precisávamos, naquela época a gente era tudo compadre, a filha dele a Noeli é minha afilhada, uma moça muito trabalhadeira”.

Antes da Usina

Onde hoje é a usina, muitos viviam “Um morava longe do outro, mas todo mundo se conhecia, um plantava cana, outros milho e feijão, que era a base de vender para se manter. Nas horas de folga uns faziam açúcar, outros rapadura, pinga. Tinha os engenhos de madeira.

Carneávamos e vendíamos 

“Outra lida daquele tempo era carnear e vender a criação. Vendia na bodega, o Stanilau Abeia, era um que tinha a bodega e vendia as carnes e outras coisas”.

Tudo vai mudando…“Depois apareceu os compradores que vinham e levavam para vender, em Ponta Grossa tinha um depósito de porco, eu engordei porco para Ponta Grossa”.

“Ou levávamos lá para Cruz Machado, lá tinha o Antônio Brossar, ele comprava e fazia banha, linguiça para vender”.

A Carne de Lata

“Naquela época não tinha luz, fazíamos a carne de lata e o toucinho, salgado e enxugava ele na fumaça.  Hoje, não fazemos de preguiçoso, (muito riso) porque eu engordo porco para o gasto”.

Tropeiro

Seu Neno aos 15 anos na égua que ele domou | Foto: Arquivo/Pessoal

Neno Maia foi tropeiro, “Nós íamos com tropa de cargueiro lá para Inácio Martins, eu era para meu pai e vô o madrinheiro e às vezes era também pro seu Alencar Furtoso”.

Eles já tinham pouso certo, “Nós viajávamos aqui pelo Zattar e ia sair lá em Inácio Martins, posávamos, quem tinha comércio já tinha o galpão dos tropeiros, e tinha o potreiro para os animais”.

Ele complementa, “Ali a gente fazia o fogo, às vezes a gente chegava já tinha fogo dos tropeiros que passaram a noite anterior. A gente levava farinha de milho que as mulheres torravam no forno e com o monjolo d’água fazia a farinha”.

Era uma fartura de pinhão

“Naquela época tinha de fartura, daqui da Santa Terezinha até lá era cheio de pinheiro gigante, nós cruzava a estrada que ficava vermelha de tanto pinhão que tinha caído, e tudo pinhão grande”.

Voltavam carregados

“Nós íamos e voltávamos carregados, trazíamos sal, açúcar amarelo, farinha de mandioca e cedia para os vizinhos, pois os que não eram parentes, eram compadre”.

O INCRA veio primeiro

Logo que eu comprei aqui, em meados de 69, o INCRA apareceu, se instalou na Divineia, tem até hoje, o povo até se refere, lá onde era o INCRA velho, que fica pra lá do aeroporto”.

Ele conta: “o INCRA dividiu as terras. Quem tinha documento, que nem eu, eles só conferiram as medidas e no restante do povo, eles dividiram e cederam para quem morava em cima”.

Com o Incra veio a estrada

O Incra trouxe uma estrada melhor, o asfalto era aqui, varando ao lado do terreno e logo depois veio a Copel, fizeram uma estrada melhor ainda”.

Seu Neno viu a usina chegar

“Quando a usina chegou, eu já morava aqui, nós criávamos porco tudo solto, os vizinhos não eram próximos, mas todo mundo se conhecia e sabia o que cada um produzia e os animais de cada um”.

A construção da Usina Hidrelétrica Governador Bento Munhoz da Rocha Neto, iniciou em 1975 e foi concluída em 1979. “ A usina mudou tudo, indenizaram os moradores daqui, de várias partes, aqui do Faxinal, principalmente onde é a Vila,  parente ou compadre da gente foi embora”.

Começaram a mexer, transformar a região bem na divisa do terreno do seu Neno, “Eles começaram a trabalhar bem aqui na minha divisa, ali onde é o horto e ali morava o Armindo, que era filho do meu compadre Sebastião de Matos”.

“Encheu de vereda”

De vereda aqui encheu de casa e de gente, chegou a ter mais de 500 casas daqui até lá na cancela, ainda faltava casa, eu aqui tinha galpão, às vezes arrendava, porque eles pagavam bem, depois mandei fazer 9 casinhas e alugava”.

Usina feita com muito dinheiro

Segundo ele, as firmas que vieram para construir as casas e a usina geraram muito emprego na região, “As firmas contratavam muitas pessoas e pagavam muito bem, porque essa usina foi feita com muito dinheiro, eu acho que ninguém vai ver mais correr dinheiro como correu na época da construção dessa usina”.

Não se vencia vender carne

“Aqui tinha dois açougues, eles não venciam vender carne. Como naquela época se podia carnear em qualquer lugar, eu tinha um chiqueirão de porco, na época de Natal chegava a vender 50 porcos no dia, eles compravam e carneavam ai pelo mato, traziam uma vasilha para esquentar a água e uma caixa de cerveja e ficavam proseando e pelando o porco. Era bem divertido”.

Centro Comercial

“Para nós foi bom quando montaram o Centro Comercial, veio um mercado bem grande, não carecia mais ir até lá no Pinhão, depois foi reduzido, inclusive o Chicão Dellê, era gente boa, montou um mercado aqui, eu tinha um debulhador de milho e ele vinha com a picape cheia de milho pra mim debulhar, eu aproveitava a palha para o gado”.

Tudo muda

Quando a usina chegou, trouxe emprego, aqui era uma cidade, de tanta gente que tinha, ajudou o povo daqui e da Sta Maria, os maridos e as esposas conseguiram trabalhar. Mas tudo muda, tudo foi se acabando, agora está devagar, tudo quieto, para o povo foi pior, porque eles trabalhavam e ganhavam dinheiro e agora vê tudo fracassado, na verdade, acabou, só Deus sabe como vai ficar”.

Às vezes dá tristeza

Ai no horto tem muitas árvores, eles sempre cuidaram muito bem, tem muita beleza e agora quando a gente olha e vê assim, meio sem cuidado, dá uma certa tristeza”.

O portão

Foto: Nara Coelho/Fatos do Iguaçu

Uma época eles queriam me trancar, fechar esse meu portão, mas eu era amigo dos engenheiros mais velhos, dei umas esperneadas. Eu ajudei muito eles, tudo aqui era mato, eles queriam grama, ai eu arrumei a grama, ai consegui que mantivesse o portão”.

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