Por Mariana Huller

O município de Pinhão chegou de forma vigorosa, com muita garra e luta de seus munícipes aos seus 58 anos de emancipação política.

Seja suas terras que são belas e férteis, seja seu espaço urbano e comercial em todas as áreas, está aberto para o desenvolvimento, crescimento e modernização.

Essa construção do futuro do Pinhão tem a experiência, o desejo de ir muito além dos seus desbravadores e das gerações que o trouxeram até aqui.

Mas, com certeza, o futuro e rumos dos próximos 58 anos está nas mãos das novas gerações, e do que podemos ver pelo que tem aprontado a equipe Inove Girls, o futuro do Pinhão é lindo, moderno, e, principalmente, pensado para que todos tenham qualidade de vida e vida com alegria e prosperidade.  

O futuro de Pinhão está em boas mãos

            O projeto de robótica no Colégio Estadual Professor Mario Evaldo Morski vem dando muitos frutos e demonstra a capacidade dos jovens pinhãoenses.

Tudo começou em 2019

Em 2019, o professor de Biologia, João Manoel de Lima, deu início à caminhada com as alunas Odaiana Jocoski, Pamela Cordeiro, Roberta Oliveira Serapio, uma história de companheirismo, força de vontade e muita ciência.

A jornada começou no Colégio Estadual do Campo Izaltino Rodrigues Bastos, na comunidade dos Ribeiros, no interior do município de Pinhão. Mesmo com as dificuldades de pouca estrutura e poucos materiais, as três alunas decidiram dedicar seu tempo para aprender sobre lógica e programação, e com o auxílio do professor começaram a trilhar seu caminho do interior do Pinhão para o mundo.

Tendo que enfrentar todos os dias cerca de 60km para ir e voltar, as dificuldades para chegar até a escola eram muitas, mas, mesmo com as estradas ruins, dias de chuva e a longa distância, as três jovens não desistiram de seus objetivos.

Odaiana destacou que sempre tiveram vontade de mudar o mundo e participar do projeto foi um primeiro passo muito importante em sua caminhada. “A gente sempre teve uma vontade de ajudar o próximo e ajudar o mundo.”

O professor

João Manuel é professor formado em Ciências Biológicas e participou de um curso de programação fornecido pelo Núcleo Regional de Educação, o curso contava com oficinas em Guarapuava. Foi assim que ele apresentou a robótica para as três alunas, que se encantaram e passaram a se dedicar, ele foi o responsável por aflorar o lado cientista delas.

“Eu achei que ia ser legal trazer para a escola, mas nós tínhamos apenas um kit de material, então comecei com três alunos”, contou João. A ideia era que o projeto fosse se desenvolvendo e que mais materiais fossem adquiridos, assim, podendo alcançar novos alunos.

Sendo professor no colégio Izaltino há 10 anos, sua ideia foi prontamente abraçada pela direção, que forneceu o espaço do colégio no contraturno, além de sugerir a ideia de rifas e ações para conseguir materiais, se fosse necessário.

A dedicação e trabalho no projeto é feito durante seu tempo livre, não tendo um horário certo, usando o contraturno e as aulas vagas das meninas. “Utilizei o tempo de hora atividade que eu tinha, não faz parte da grade e não tem apoio oficial, é um trabalho voluntário”.

Participando do Educatech

Pamela conta que o professor João as apresentou à Jornada Educatech, feira que aconteceria pela primeira vez em Guarapuava, as três alunas toparam rapidamente participar. Apresentaram uma fechadura e uma aranha eletrônica, ficando entre os dez primeiros colocados, isso abriu portas para as outras oportunidades que vieram a seguir.

As alunas contam que no começo foi um choque de realidade, e que tinham que processar com calma todas as oportunidades que estavam tendo, pois era difícil acreditar que conseguiriam chegar tão longe na realidade em que viviam.

Várias parcerias foram feitas para dar continuidade ao projeto, que desde 2019 tem o apoio da Cilla Tech Park de Guarapuava. O professor conta que ficaram encantados com a dedicação das meninas e juntamente com Sicredi, Faculdade Campo Real, Faculdade Guarapuava e Uniguairacá, as alunas vêm recebendo apoio dessas empresas. “Elas ficaram uma semana em Guarapuava, montaram acampamento no Cilla Tech Park e das 8h às 22h a gente visitava as empresas parceiras”

Foto: Arquivo/pessoal

As alunas também receberam bolsa de estudos, oficinas e cursos para aperfeiçoar ainda mais seus conhecimentos em robótica. “As universidades prestaram cursos, os professores forneceram oficinas de modelagem e impressão 3D e o Sicredi forneceu uma impressora 3D”.

Superando as dificuldades da pandemia     

A chegada da pandemia atrapalhou os planos das jovens cientistas, que não tinham internet e computador em suas casas, dificultando sua comunicação. “A gente ficou um ano sem ter contato”,  contou Pamela.

Roberta conta que foi o período mais difícil, pois houve a separação do grupo, “Eu mudei de escola, as meninas ficaram na escola antiga. A questão da internet foi a mais difícil, porque para lidar com robótica precisa, e sem auxílio do professor ainda, foi difícil, mas vencemos.”

Foto: Arquivo/Pessoal

Felizmente, as alunas conseguiram o apoio do Núcleo Regional de Educação e também de alguns parceiros, como o Sicredi, que doaram computadores para ser possível dar continuidade ao projeto.

 A Lixeira Inteligente

Em 2021, o professor inscreveu-as em um projeto da Samsung o “Respostas para o amanhã”. Era necessário pensar uma solução para um problema da realidade de cada grupo. “A gente percebeu que dentro do nosso próprio colégio os alunos não sabiam separar o lixo. Então, a gente decidiu criar uma lixeira inteligente”, comenta Pamela.

           Recicleide, a lixeira inteligente

            A lixeira conta com um sistema de classificação rápida do material descartado, contendo quatro compartimentos, para onde é destinado o lixo de maneira correta. Pamela conta como funciona, “Ela tem um sensor, a lixeira se comunica com a pessoa, conta um pouco da importância do descarte correto, fala um pouco sobre o material descartado e a gente tá tentando ter um olhar voltado para pessoas com deficiência visual e auditiva.”

O projeto, além de ajudar na separação de lixo, também é inclusivo, contendo uma tela com informações para pessoas com deficiência auditiva e a parte sonora garante a acessibilidade para pessoas com deficiência visual. Isso mostra a preocupação das meninas com as questões sociais, o projeto é para todos.

A lixeira foi um sucesso, e dentre os 730 projetos inscritos na feira da Samsung, ficou entre os 20 primeiros. A aluna Odaiana falou sobre a felicidade em participar, “O projeto da lixeira foi nosso passo para ajudar a população, é muito bom ter a sensação de poder ajudar o próximo. Só de participar a gente já ficou muito feliz, de ficar entre os vinte primeiros também, passando ou não para a final, a gente vai concluir o projeto.”

Roberta conta que a experiência tem sido maravilhosa, “É muito legal poder ajudar o mundo, a gente não esperava se classificar, quem diria que o projeto de 2019 ia chegar nesse nível”.

Infelizmente, na segunda fase da classificação as meninas não conseguiram ficar entres os dez melhores trabalhos, mas, isso não as impediu de continuar trabalhando, buscando aperfeiçoar ainda mais seus projetos, tiveram perseverança e em 2022 novas oportunidades surgiram.

Meninas que se dedicam

O professor João conta com orgulho como as meninas são dedicadas e compromissadas, e que tem um potencial imenso, nem mesmo a dificuldade de morar no interior foi o suficiente para segurar as alunas, que mostram sua garra em lutar para alcançar seus sonhos.

O potencial e o compromisso foram reconhecidos pelas empresas que hoje são parceiras do projeto de robótica. Viram o potencial delas, em 2019 havia muitos colégios no Educateh, mas nenhuma levou adiante. No concurso da Samsung, nenhum outro colégio do núcleo de Guarapuava se inscreveu. Se for imaginar, nossa instrutura, com a do Colégio Carneiro, por exemplo, eles têm muito e os alunos não querem e não tem interesse”.

O professor destaca que as meninas se jogaram de cabeça nas oportunidades, como, por exemplo, no curso de programação fornecido pelo governo. “Quando surgiu o curso, elas prontamente toparam, apesar de não ter computador, nem internet. Quando tiveram internet, faziam pelo celular, complicou a vida, o Cilla Tech Park atrás de parcerias e conseguiu o primeiro computador.”

Os pais

            Para os pais das alunas, o coração fica divido entre o orgulho e o receio, eles contam que não foi fácil deixar que ficassem uma semana longe de casa, mas, ao mesmo tempo, é muito bom ver as meninas ganhando o mundo.

“É muito difícil, mas a gente fica muito feliz por tudo que está acontecendo, toda vida eu incentivei os filhos a estudar, estamos torcendo por elas”, destacou Roseli Cordeiro, mãe de Pamela.

Os pais também destacam o quanto ficam felizes pela dedicação do professor, que trabalha voluntariamente no projeto.

Novas experiências e novos lugares

Depois de três anos de projeto, as alunas decidiram dar novos passos, em 2022, as três se transferiram para o Colégio Morski e passaram a morar na sede do município, assim, encontrando uma estrutura melhor para o projeto e com o apoio do colégio surgiram novas oportunidades. Dessa vez se inscrevendo na FIciencias – Feira de Inovação das Ciências e Engenharias, em Foz do Iguaçu. A feira é voltada para alunos do ensino fundamental, médio e superior, os projetos passam por pré-seleção para poder concorrer aos prêmios.

Levando a lixeira inteligente, Pamela, Roberta e Odaiana tiveram a oportunidade de conhecer pessoas e projetos não apenas do Brasil, mas também da Argentina e do Paraguai.

As alunas concorreram com 138 trabalhos dos três países, e levaram o prêmio do primeiro lugar na categoria avanço tecnológico. Roberta falou como foi participar e ganhar o primeiro lugar. “A gente foi com os pés no chão, a gente não foi com a expectativa de trazer um prêmio, é claro que a gente queria, mas foi uma surpresa. Foi muito empolgante e gratificante. Nós enfrentamos muita dificuldade com as meninas e com o professor”.

Essas três jovens cientistas são a prova de que as oportunidades valem a pena, sua persistência para vencer os desafios as tem levado cada vez mais longe, trazendo orgulho para o município de Pinhão.

O projeto cresceu

A ideia de aumentar o projeto finalmente funcionou e o professor João continua auxiliando e buscando novos participantes para a equipe de robótica, agora no Colégio Morski.

Foto: Arquivo/Pessoal

Os novos membros, Kauany de Cássia e Gustavo Marcelo também participaram da FIciencias de 2022, ganhando o terceiro lugar com o projeto “Contabilizador de Alimentos, Desperdício 0”, com esse projeto, também foram os vencedores do núcleo regional no Agrinho Robótica.

Kauany falou como foi entrar para o curso de robótica. “Quando entramos no curso, com as explicações do professor João Manuel, começamos a ter conhecimento sobre o que é a robótica e a ciência e o que ela pode fazer na vida das pessoas.”

O contabilizador de alimentos foi pensado primeiramente para a escola, e começou mais uma vez com o olhar dos alunos para sua própria realidade. “O nosso colégio oferece almoço para os alunos que vão ficar no contraturno, e as cozinheiras tinham o problema de saber quantos alunos iam ficar para almoçar. Pensando nisso, a gente desenvolveu esse projeto”, explicou Gustavo.

Cada aluno tem uma senha para registrar que ficará para o almoço naquele dia, assim, as cozinheiras têm acesso rápido à quantidade de almoços necessária. Gustavo comentou que o projeto também conta com a acessibilidade, tendo módulos de som e imagem.

O professor João Manuel afirma que, cada vez mais as novas gerações se preocupam com questões de acessibilidade e sustentabilidade. “É interessante ver nossos alunos com esse olhar voltado para a sustentabilidade, inovação e para tornar esse mundo um pouco melhor.”

Gustavo contou como foi a oportunidade de participar do FIciencias, tendo contato com tanto conhecimento e diversidade. “A gente adquiriu novos conhecimentos e passou conhecimento também, foi muito bom.”

A segunda edição do Educatech

            A equipe não parou no FIciencias e continua buscando novos horizontes, sua última participação foi na segunda edição da Jornada Educatech, em Guarapuava, novamente apresentando seus dois trabalhos de sucesso, a Lixeira Inteligente e o Contabilizador de Alimentos.

Foto: Arquivo/Pessoal

Roberta destacou a importância de participar. “Foi lá que na primeira edição a gente teve destaque, começou a brilhar e nunca mais parou.”

A Jornada Educatech ocorreu no dia 24 e 25 de novembro, com certeza mais uma experiência recheada de conhecimento para os jovens pinhãoenses.

E não vão parar por aí… Elas não são apenas o futuro do Pinhão, são, na realidade, o presente.

 

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