Nessa reportagem, vamos contar um pouquinho da história de um casal que está junto há 45 anos e há 37 escolheu ser pinhãoense
Alceu e Maria Izabel Lupepsa, eram dois jovens ousados e dispostos a construir seu caminho, que tem suas origens em Prudentópolis.
Em maio de 1977 casaram-se, e, apenas um dia após o casamento, partiram para o estado do Pará, decididos a fazer a vida por lá.
Lá ficaram por 8 anos e conseguiram se estabelecer. Mas as voltas da vida os fizeram retornar.
Dois acontecimentos foram decisivos.
O primeiro foi a morte do irmão do jovem Alceu, que os convidara para ir para lá.
O segundo foi quando Alceu, seguindo os passos do pai, trabalhava no Pará com madeira. Num carregamento da carga, uma tora acabou caindo em cima do seu pé.
Um convite
“Voltamos porque aqui as possibilidades de tratamento eram maiores, como foi. Consegui, na época, salvar o meu pé e estávamos pensando no que trabalhar e onde nos estabelecer. Foi quando meu irmão Deco, que já estava no Pinhão e trabalhando nas Indústrias João José Zattar, me convidou para vir pra cá”, relata Alceu.
A chegada
O casal contou com muito orgulho a sua história e a escolha de se tornar pinhãoense.
“Chegamos aqui em setembro de 1985 para mexer com madeira. Estamos aqui há 37 anos, gostamos, ficamos e fincamos as raízes. Sair daqui nem pensar. Aqui criamos nossos filhos e fizemos nossa vida”.
“Quando chegamos já tínhamos os filhos Mauricio e Alcione. Aqui veio a Mabely, mas os meninos ficam bravos se disser que eles não são pinhãoenses. Eles amam viver aqui”, complementam.
Acolhidos
“Pinhão nos acolheu logo que chegamos, e fomos cada vez mais gostando de estar aqui e ser pinhãoense. Não existe e nem nunca existiu o pensamento de sair daqui”, afirmou Izabel.
“Aqui a terra é boa, seja pra lavoura ou comércio. Tudo que nós fizemos deu certo porque aqui há oportunidades. Nós nos dedicamos a trabalhar para fazer a nossa vida e contribuir, retribuir pela acolhida que recebemos”, disse Alceu.
O Pinhão que encontramos
Quando chegamos em Pinhão, o município tinha 3 postos: o do seu Assis, do Luiz Alberto e o do Trevo, que na época era dos senhores José e Sebastião Dellê. E foi em 1993 que nós negociamos.
A pavimentação da Avenida Trifon terminava na esquina em que hoje está o Posto do Alceu, como o povo habituou a chamar o nosso posto. Dali pra frente era de terra, como era a maioria das ruas do município.
Quando chegamos aqui, as pessoas faziam muito pão em casa porque não tinha panificadora no município.
O Mercadolar fazia, mas era em um único horário. Também tinha uma Kombi que vinha de Guarapuava e trazia pão para os mercados. Depois que surgiu a panificadora da Aninha e do Elcio.
Da madeira para o comércio
Um mês após estabelecidos em Pinhão, o casal vê uma oportunidade de entrar no ramo do comércio e compra um posto de gasolina.
“Dali um mês que eu estava aqui, comprei o posto do senhor Assis e começamos a lidar. Não foi fácil porque era algo novo, mas fomos aprendendo”, contou Alceu.
Um Ponto de Encontro
O posto do Alceu, como até hoje é conhecido, ficava na rua XV de Dezembro esquina com a rua Francisco Dellê.
Era mais que um local de abastecer os veículos, era um ponto de encontro.
“ Os vizinhos e muitos amigos iam todos os dias no posto tomar chimarrão e contar causos. Entre os que nunca faltavam, estavam o senhor Airton Caldas, Ireno, Silvio Caldas, o Dorinho Ribas e o Hélio Ferreira. Mas lá também eles faziam negócios, compravam boi e vendiam bezerro, era um ponto de referência”, relembrou Alceu de forma saudosa dos amigos.
O jeito de negociar foi mudando
Ao longo dos anos, o jeito de trabalhar e negociar foi mudando. Desde a maneira de operar o posto até o atendimento ao cliente.
“O preço era tabelado tanto para a compra como para a venda. Os horários de atendimento eram regulamentados, tinha horário certo de abrir e fechar. Hoje está tudo liberado, temos liberdade para agir”.
No início, todo o controle era feito manual, hoje é tudo informatizado.
“Eu e o Alceu ficamos olhando para o primeiro computador quando ele chegou, deu até uma tristeza. Olhávamos um pro outro e nos perguntávamos: e agora, o que vamos fazer com isso?”, conta Izabel entre muitos risos.
Agricultura
Talvez por ver os amigos ali no posto negociando, Alceu Lupepsa passou a se interessar pela agricultura.
“De início fiquei na madeira e com o posto. Já fazia uns seis anos que estava com o posto quando decidimos deixar da madeira e fui pra lavoura”, contou Alceu.
Surge uma empresária
Com a decisão de trabalhar com a lavoura, Alceu percebeu que precisaria que a companheira Izabel assumisse o comando do posto.
“No começo, eu cuidava da casa, não entendia nada daqui do posto. Mas o Alceu disse: – Aprende, é só querer que aprende! Desça lá e fique só olhando por enquanto”.
“Eu descia e ficava só olhando. Tínhamos um funcionário, o seu Ivo. Quando a gente quer aprender a gente vai pegando o jeito”, contou Izabel, entre risos e olhares saudosos, os momentos que foram difíceis, mas que foram superados e trouxeram grande aprendizagem.
“Sempre houve muito respeito”
Izabel contou que naquela época quase só os homens iam ao posto, seja para abastecer, conversar e/ou negociar.
“Naquela época, poucas mulheres dirigiam e quase nunca elas abasteciam, eram sempre os maridos. Hoje a realidade é outra. Está cheio de mulheres dirigindo”.
Ela complementou, “Eu nunca enfrentei preconceito. Penso que a gente se posicionou e isso eliminou qualquer intenção mais maldosa. Além disso, eram todos senhores muito conhecidos nossos, muito amigos do Alceu”.
Um negócio de família
Hoje, além de 3 postos de combustível, eles atuam na área da agricultura e pecuária e tudo é um negócio de família.
“Nossos filhos saíram estudar, mas voltaram para casa e escolheram ficar trabalhando com nós”.
Alceu complementou, “Nunca impusemos. Fomos sempre fazendo eles participarem, trabalharem com nós. Eles sempre foram tendo seu salarinho. Isso os fez pegar amor ao que fazíamos, ver de onde vinha o sustento da nossa família e foram aprendendo a lidar com o dinheiro”.
Cada filho escolheu a área em que queria atuar.
“Mabely lavava para-brisas dos carros quando adolescente, mas sempre gostou de lidar no campo, com bicho. A parte de pecuária é com ela.
O Mauricio fez Análise de Sistemas. Quando se formou até pensou em dar aula, mas nossas necessidades aqui foram envolvendo. E tinha tanto serviço pra ele!
Alcione pensou e começou medicina, mas desistiu. Voltou pra cá e fez a faculdade de Administração.
Nós fomos dando oportunidade, eles foram gostando e fomos soltando, delegando poderes”.
Entre risos, o casal concluiu, “Agora estamos diminuindo o ritmo, deixando mais os filhos tomando conta. Estamos só na retaguarda colhendo os frutos que plantamos durante 36 anos”.
Noras e genro foram acolhidos
Quando a família cresceu com a chegada das noras Orilene e Vanessa, Izabel e Alceu as acolheram e elas foram assumindo funções dentro dos negócios da família. O mesmo aconteceu com o genro Paulo.
“A Orilene é ótima administradora. Vanessa, eu acabei de criar. Ela começou comigo, foi aos poucos aprendendo. Foi fazendo todo o serviço que eu fazia por interesse prórpio. Agora ela trabalha no escritório da lavoura, e hoje sou eu que dependo dela para fazer as coisas. A tecnologia é com eles”.
O genro Paulo é engenheiro agrônomo e, junto com a Mabely, está à frente da fazenda.
Terceira geração já chegou
Após 37 anos em Pinhão empreendendo, os avós Alceu e Izabel têm a alegria de ter a neta Maria Eduarda ajudando-os a administrar os negócios da família.
“Sou um homem de muita sorte, todos os filhos trabalham comigo. Também as duas noras, o genro e a neta. A administração do nosso grupo é totalmente familiar!”
Geram 50 empregos
Atualmente, entre os postos de combustível e os investimentos na agricultura e pecuária, o casal gera 50 empregos diretos e mais 15 temporários.
Eles falam do quanto é bom ver que podem contribuir para que mais de 50 famílias possam viver com dignidade.
“Com certeza gerar esses empregos traz muita alegria, despedir alguém é algo muito difícil para nós”.
Também contam, com alegria, que tem funcionários que estão na empresa há mais de duas décadas.
“Penso que somos bons patrões, pois temos funcionários como o Batista e o Anísio que estão conosco há mais de 20 anos. Já tivemos vários funcionários que se aposentaram conosco.”
Izabel complementou, “Às vezes eu brinco que temos funcionários que acabamos de criar, que começaram novinhos, com 17 anos e já estão aí há mais de 10 anos”.
“Os pais se aposentam e os filhos vêm trabalhar na empresa, como é o caso do Nilton.
Os pais dele trabalharam para nós e, todo final de ano levávamos carrinho para ele de presente de Natal.
Depois, ele foi nosso funcionário e ainda guardava os carrinhos.
Agora o filho do Nilton veio trabalhar conosco no programa Menor Aprendiz e está sempre fazendo um biquinho aqui e acolá no posto.
É uma alegria ter três gerações de funcionários!”
Gerar emprego é nossa contribuição
“Ao gerar esses empregos, dar um trabalho digno que permite aos funcionários cuidarem de suas famílias, consideramos estar contribuindo com o social. Nosso crescimento ajudou essas famílias a ter uma vida mais digna. Essa é a nossa contrapartida para o município”.
Nada se faz sozinho
O casal lembrou que as dificuldades foram superadas porque encontraram apoio.
“Tivemos muita ajuda de companheiros. Começamos pequeninhos, tivemos parceiros, entre eles as cooperativas. Primeiro a Coamig e depois a Coamo. Fomos crescendo junto com essas entidades”.
37 anos em Pinhão
“Tivemos dificuldades, só que a gente nunca desistiu. Tivemos momentos de dizer ‘Está ruim meu Deus’, mas não desistimos e nunca pensamos em ir embora. Firmamos no que queríamos, tentamos e saímos das dificuldades”.
Alceu destacou, “Todo negócio novo tem dificuldade até fazer o capital de giro e se estruturar para aquela atividade. Nem por isso tivemos vontade de demitir ou ir pra outro lugar. Aqui é muito bom de se viver”.
Sempre investindo em Pinhão
O casal conta com alegria que sempre investiram no município.
“O que trouxemos e o que fomos colhendo aqui sempre investimos aqui. Os filhos estão seguindo nosso exemplo”.
As mudanças
Nesses 37 anos no município, o casal presenciou muitas mudanças na cidade, no município, no comércio e na lavoura.
“Pinhão mudou, melhorou. Hoje temos diversidade no comércio, boa parte das ruas estão pavimentadas.
Quando chegamos dava para contar nos dedos quem tinha carro. Hoje todas as casas têm garagem. Na época dos nossos funcionários, só o Silvio tinha um fusca. Hoje todos têm uma moto e um ou dois carros.
Na cidade e no interior a mudança foi grande. Pinhão evoluiu, cresceu muito. Vejo que a Coamo, os Hasegawa e o Matsuda contribuíram para esse crescimento, pois eles investem muito aqui.
Na agricultura foi maior a revolução de quando eu comecei a produzir pra hoje. Ocorreu uma completa transformação. Na área que você produzia, hoje se produz mais que o dobro, os custos aumentaram. Hoje é mais tecnificada, isso permite se trabalhar menos, os defensivos são menos agressivos e mais eficientes.
Pinhão hoje
Pinhão cresceu, evoluiu muito. É um lugar ótimo de se viver, o povo é acolhedor.
Nós que conhecemos bastante o País, não existe uma região que tem o clima que temos aqui, que é favorável para tudo, pecuária, agricultura. No Pinhão, tendo disposição, se ganha dinheiro, só trabalhar.
Podemos afirmar com segurança, pelo menos para nós: Pinhão é o paraíso!
Para Pinhão melhorar
As pessoas precisam criar, reinventar, acreditar. Precisamos ir trabalhando com o que temos: exploração da erva-mate, as pequenas, mas variadas agroindústrias e outros ramos.
É preciso trazer uma extensão de uma universidade pública para cá. Educação é primordial.
Pinhão no futuro
Temos certeza que daqui a 10 anos Pinhão vai ser outro. O município está crescendo, tem surgido oportunidades, cada vez vai ser melhor.
A nova geração está cheia de ideias, tem surgido muitos investimentos, pequenos, mas múltiplos.
Desejamos que Pinhão seja tão abençoado como nossa família foi e é aqui, prospere como nós prosperamos até aqui.
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