O nosso sistema educacional está doente e não é de agora. Nesse último ano e meio tivemos apenas o seu agravamento da sua situação que, francamente, o levou ao estado em que se encontra no momento: em estado terminal.
Sim, ao dizer isso estou usando uma figura de linguagem, porém, francamente, creio que não há nenhum conceito que consiga descrever de uma forma tão precisa o quadro em que nos encontramos atualmente em termos de educação.
Um problema que se faz presente há muitas décadas em nosso sistema de ensinação é a burocratização da relação ensino/aprendizagem. Burocratização essa que é vista, por muitos, como sendo um avanço em termos pedagógicos. Tal percepção atravancada deve-se ao fato de que não são poucos aqueles que confundem, com relativa facilidade, alhos com bugalhos.
Explico-me: a função de todo processo de burocratização é permitir que se tenha um relativo controle sobre uma determinada ação. Seja na esfera doméstica, ou no âmbito público, a finalidade da racionalização das relações humanas é permitir que se tenha um relativo controle sobre algo e, principalmente, sobre as pessoas que estão envolvidas na realização desse algo.
Porém, é importante lembrarmos que a burocratização de algo não pode, de jeito maneira, substituir a sua realização. Os fins que são almejados pela burocratização não podem se sobrepor, ou mesmo substituir, os fins da prática que está sob a regência da estrutura burocrática.
Quando isso acontece, a única coisa que acaba importando, no frigir dos ovos, são os números que serão apresentados ao final do processo burocratizado, pouco importando qual era a finalidade específica a ser atingida por aquela atividade que acabou sendo emoldurada pelas regulamentações que estavam única e exclusivamente preocupadas com o controle do processo e, é claro, com os números positivos que podem ser colhidos e apresentados ao público, pouco importando se esses números realmente refletem a realização ou não dos fins específicos dessa atividade.
De tanto ficarmos atrelados aos ditames burocráticos, acabamos por nos esquecer qual seria a real finalidade da atividade, antes desta ser agrilhoada pelos burocratas e tecnocratas com suas boas intenções.
No que tange ao sistema de ensino, vemos isso com uma enfadonha clareza. A preocupação, fundamental, ao final de cada ciclo, é de que os números correspondam, de forma agradável e pomposa, aos fins almejados pelas determinações burocráticas, pouco importando se tais algarismos, estatisticamente pomposos, não tenham nenhuma relação substancial com o ato efetivo de educar.
Trocando por dorsos e demais miúdos, a única coisa que inquieta o sistema é que o número de notas abaixo da média seja inexistente; e que o percentual de reprovações seja nulo. Só isso e olhe lá.
E o pior de tudo é que tal prática acaba criando um ambiente totalmente contrário a educação porque, o formalismo burocrático, ao enfatizar fundamentalmente os seus objetivos nada educativos, leva os mancebos a aprenderem rapidinho qual é o ritmo em que a banda toca. E o ritmo não é bom.
Repito, os jovens aprendem que o sistema de educação que temos não é um ambiente onde nos lapidamos, mas sim, apenas um lugar onde se preenche um pré-requisito para se obter um papel que diz que ficamos por um determinado tempo neste ou naquele lugar.
Enfim, como havíamos dito no início dessa missiva, esse processo de degradação vem de longa data, porém, a atual crise sanitária apenas agravou a situação. Todos estão vendo, com os dois olhos da cara, o quão caro custará para as futuras gerações esse simulacro de educação que está sendo oferecido a elas como se fosse um modelo a ser imitado pela “zoropa paraguaia”. Quem viver verá.
É isso. Fim de causo.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela
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