Francisco Carlos Caldas

No dia  26/01/2024, último dia de nossas férias como servidor da Câmara  Municipal de Pinhão, estivemos acompanhando os trabalhos de georreferenciamento de área de uma familiar, que divide com o Arroio do Pião e Rio Floresta, no imóvel “Boa Vista ou Iguaçu”, no Faxinal dos Coutos. Foi um incrível teste de resistência. Foram em torno de 10 horas de caminhada pelo citado arroio e pirambeiras do imóvel, que na realidade hoje só serve para Reserva Legal. Antigamente lá se faziam roças de toco, sistema de coivara, mas pela lei  nº. 11.428/2006, de 22/12/06 da Mata Atlântica, só insignificantes locais poderão ser alvos de formação de pastagens.

Mas o registro dessa aventura e meio que façanha, é mais em função do mergulho que fizemos no passado ao fazer essa jornada. Há uns 60 anos atrás, quando éramos menino, nesse imóvel participamos de uma pescaria liderada pelo meu pai Eugênio Estevam Caldas-EEC, e que também faziam parte, o meu primo Leopoldo Francisco Bischof e seu Fleury Ferreira de Lima, amigo da nossa família e todos de saudosas memórias. Ficamos lá por uns 2 dias, e houve muita chuva e a volta subimos serra à cavalo por tempo de 2 horas e Leopoldinho na garupa, debaixo de uma capa, chegou com o corpo esgualepado da posição do trajeto.

A pescaria  em cima de pedras e pelo leito do Rio Floresta, e muitos e graúdos lambaris foi um encanto. A dormida em rancho, pelegos em roda de fogo, era um desconforto, mas tudo fazia parte da aventura. Outra vez tivemos lá numa férias, ajudando a colheita de uma roça, mas lembrança boa foram só os virado de feijão e melados com farinha de mandioca que devoramos.

Mas a razão de ser desse enfoque, foi o filme que passou na minha cabeça ao me relembrar do meu pai, do seu Fleury e do Leopoldinho, que anos mais tarde virou médico formado pela Universidade Federal do Paraná-UFPR e no início da carreira e jovem  foi vítima fatal de um acidente de trânsito na rua dos fundos do Hospital São Vicente de Paula de Guarapuava, onde trabalhava. Um acidente desses que acontecem dezenas e até sem maiores consequências em termos de saúde, mas ele com o impacto foi jogado para fora do carro e bateu a cabeça num meio fio.  Uma das muitas tragédias que a nossa Família Dellê já teve. Golpe duro que levou nossa tia Arina Dellê Bischof e Leopoldo Bischof, da tradicional Casa Favorita de Guarapuava, a grande inconformismo e martírio que devem ter antecipado suas idas para o andar de cima e que a exemplo de outras perdas trágicas que já mencionamos numa  crônica de 8/11/2019, como de: Angela Cristina, em 1980, Ângelo César Brolini, Gilberto Sens, Luiz Alexandre Dellê, Angelita de Fátima  Brolini Rech dos Santos, e depois de 2019, a jovem médica Luana Dellê Ditzel, mexem profundamente conosco e Família até os dias de hoje.

E no dia 26/01/24, ao olhar uma bela e grande cachoeira que tem no local, o rio, as pedras de onde pescávamos, tivemos uma espécie de reprise de um filme, em que dos personagens só este escriba e pensante está vivo. E vem a constatação: a gente é formado por pessoas que conviveu, locais que esteve, histórias que ouviu e participou, eternos laços afetivos, e fica esta matutada como uma lembrança e homenagem ao saudosos: meu pai EEC, seu Fleury de fascinantes causos até de visagens e o primo Leopoldinho,  menino de cidade, que gostava muito de passar férias conosco em Pinhão, com ocorrência de muitas pescarias, natações em lagoas, Lajeado Grande e brincadeiras nas estradas embarreadas do bucólico Dois Pinheiros, espaços que na linha do poema “O rio da minha aldeia”, do poeta e filósofo português Fernando Pessoa, que viveu nos anos de 1888-1935, foram e são locais maiores,  mais belos, mais livres por serem da nossa aldeia.

(Francisco Carlos Caldas, advogado, municipalista e CIDADÃO).

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