Conversar com Gabriela Aparecida Proença Mendes Berté é ir descobrindo uma mulher de 36 anos, tímida, reservada, com princípios bem claros e definidos, pronta para defendê-los com unhas e dentes. Que traz a alegria como companheira constante. Que ama ler, tem na fé e na família, sua sustentação.

Ser confiável, estar próxima aos amigos, pronta a ajudar, solidariedade é um dos seus princípios. Sua palavra constante a tudo é gratidão. Se conhece muito bem, se define sem medo, como uma pessoa teimosa, intolerante, prepotente, mas, em constante luta para se superar, melhorar e se tornar a cada dia um ser humano melhor e mais humano. 

As fotografias registram a vida

Gabriela ama fotografias e tem muitas, daquelas que a gente pega na mão e tem a sensação de que está com a chave do túnel do tempo, foi olhando as várias fotografias da sua vida que a conversa foi acontecendo e fui descobrindo a mulher forte, decidida.

A pinhãoense Gabriela é a primogênita das três filhas do casal Luiz Antônio Ferreira Mendes, o Tutu, e Aparecida de Jesus Proença, a Cida. Nasceu moreninha e foi ficando loira à medida que crescia junto com as irmãs.

Da cidade desse tempo, fala com muito carinho, “Até os 3 anos moramos na casa da Vilma, foi bom e desse tempo na cidade, trago a amizade da comadre Elaine, temos um vínculo forte”.

Contudo, a família foi para o interior, “Minha mãe foi passar umas férias de uns 10 dias na propriedade da família no Faxinal dos Silvérios e faz 25 anos que meus pais moram lá. Eu tinha por volta de 8 anos quando mudamos. Lá as condições eram muito limitadas, sem água e sem luz. Foi muito bom e saudável. Estudei na escola multisseriada, ajudava a minha mãe porque ela era professora, merendeira, a que limpava. Talvez foi isso que despertou a vocação, porque ser professora para mim é profissão, mas é muito vocação”.

Turma do Santo Antonio

Foto: Arquivo/Pessoal

Gabriela foi alfabetizada por sua mãe, “Quando cheguei na escola, já sabia ler e escrever, minha mãe ainda não era professora, mas me ensinou. A professora Neiva fez uma avaliação, fui direto para o segundo ano”.

Da quinta à oitava série foram vividos no Colégio Santo Antonio, “Com essa turma vivi muito tempo, muitas saudades dos amigos, dos professores maravilhosos que tivemos. Era uma turma maravilhosa, com certeza vários professores lembram de nós. Nela foram muitas amizades consolidadas – Joly, a Tereza, a comadre Taine, a Bia, Juliana, a Laura, e muitas outras, minha adolescência e juventude foi com esse povo e nos divertíamos muito”.

1ª turma do Ensino Médio

“Chegamos na 8ª série, não queríamos sair do Colégio, lá não tinha Ensino Médio, os pais se reuniram e fizeram uma sala, o professor Geraldo e Marines, diretores da época, tiveram que abrir o Ensino Médio”.

Família, Igreja e Escola

Gabriela tem 3 casas – a família, a escola e a igreja, “Tenho 3 casas fundamentais para mim, a casa, a família, é a primeira, fico muito em dúvida entre o 2ºe 3º lugar entre a igreja e a escola, tenho amigos verdadeiros dentro da escola e na igreja”.

“Um sonho de Deus”

Foto: Arquivo/Pessoal

“Eu acredito muito que todos nós temos um porquê de estar aqui. Nascemos de um sonho de Deus, Ele sonhou conosco e com o projeto que fez para nós, cabe a nós tentar desenvolver da melhor forma possível esse sonho dEle”.

O sagrado, os sacramentos, são importantes na vida dela “É algo bem presente na minha vida, eu acredito muito que os sacramentos são graças mesmo”.

O seu envolvimento com a igreja lhe trouxe vários amigos, “ Fui coordenadora do grupo de jovens do Juac, como foi bom, nós saíamos, íamos cantar, participar dos retiros desse tempo, junto comigo estavam a Joly, o Carlan, Lilian comadre, a Cândida, minha irmã, o Ricardo, o Michel, Daiana, que hoje trabalhamos juntas na pastoral”.

Família

Foto: Arquivo/Pessoal

“A família é o sustento, o esteio. É tudo para o indivíduo e para a sociedade.

Nós somos muito ligados. É muito bom estar com as minhas irmãs Maria Cândida e Heloisa. Sou a primeira filha, penso que meu pai se assustou quando viu que era uma menina, (muitos risos), foi ele que escolheu o meu nome, sou a mais paparicada pelo meu pai.

Estar em família é estar no fervo, pelo menos na nossa, quando estamos juntos, é bem divertido, tem grito e até brigas, mas, no final, todo mundo junto e um por todos e todos por um, pois uma família unida vence os obstáculos”.

Os avós, um marco na vida

Foto: Arquivo/Pessoal

A ternura fica evidente nos olhos da Gabriela quando fala dos avós maternos, Elvira Proença e José de Paula Proença, o Juca, paternos, Eumenia Mendes e Amauri Mendes, “Meus avós marcaram minha infância, na primeira infância foi marcada pelos avós, Elvira e o vô Juca, e depois, pelos meus avós  Eumenia e Amauri. Tudo aquilo que é bom de vô, eu tive dos meus 4 avós. A gente brinca que nem todos os netos gostavam da minha avó materna, ela separava alguns netos, eu a amava, eu era paparicada por ela”.

Ser professora é uma realização

Foto: Arquivo/Pessoal

Gabriela é professora há 14 anos, tem três formação na área da educação. Fala com muito carinho do ser professora, fica claro o quanto é realizada, “Minha primeira graduação foi em Letras, foi muito marcante porque eu sou uma pessoa realizada com a minha profissão.

No início, eu não queria fazer Letras, queria Serviço Social ou Psicologia, me identifico bastante, mas me encontrei.

Foto: Arquivo/Pessoal

Gabriela tem por características ir fundo naquilo que se propõe fazer. Ela é formada em Pedagogia, é da 1ª turma do Magistério subsequente, ofertado pelo Colégio Morski.  “Ser professora é se envolver com tudo um pouco, existe um dinamismo, me realizo, seja atuando como professora ou pedagoga. Amo estar envolvida com a escola.  Acredito muito na educação, é a única coisa que de fato pode levar ao mundo melhor que agente sonha”.

Amor

Foto: Arquivo/Pessoal

Ela sempre valorizou e muito o matrimonio, “Defendo o matrimonio saudável, tivemos um relacionamento com o Cezar de 16 anos. Nos conhecemos na infância, vivemos a juventude juntos, foi um tempo muito bom.  Construímos a família, a casa, juntos fomos muito felizes”

A fatalidade

De repente, a vida da Gabriela e das suas filhas Maria Antonia e Maria Augusta mudam rapidamente e radicalmente, seu marido falece, “Foi de forma muito repentina, eu nunca tinha vivido a morte de forma tão próxima. Ela é a única coisa certa nessa vida, enquanto você não a vive, não tem ideia da dor, de como é de fato viver essa experiencia. Principalmente assim, como no caso do Cezar, que era novo, 32 anos”.

Foi um doloroso crescimento

A morte do Cezar me fez crescer muito, sempre busquei encarar a vida com os pés no chão, enfrentando a realidade de frente. Tenho sempre comigo que há os desígnios de  Deus, eu os aceito, busco viver dento deles da melhor forma possível.  A compreensão vai vir com o tempo, Deus vai nos mostrando qual é o projeto dEle, vai nos conduzindo.

Não foi fácil, além da fé, pude contar com o amparo da família, foi fundamental naquele período, de todos, pais, irmãs, tios primos, quase que se mudaram comigo, ficaram nos cuidando por um bom tempo. Isso nos fez enfrentar as coisas de forma diferente.

O amor renasce

Foto: Arquivo/Pessoal

Gabriela conta que após ficar viúva, passou a ter um foco, a felicidade de suas filhas, “Eu jamais  imaginava que iria reconstruir a minha vida, eu não buscava isso, tinha as filhas pequenas, mas foi uma coisa muito natural e saudável o que aconteceu comigo e o João”.

Os amigos ajudaram

As famílias da Gabriela e do João Carlos Berté se conheciam, porém os dois não, “Nos conhecemos na casa de um compadre meu, que é primo dele. Os amigos em comuns, acabaram fazendo a ponte.  Fomos conversando pelas redes sociais”.

Foi tudo rápido

Foto: Arquivo/Pessoal

“Foi rápido, namoramos 1 ano e 3 meses e estamos casados há 2 anos, porém, a sensação que temos é que faz muito tempo que a gente se conhece, nossos ideais são os mesmos. Isso sempre deixei bem pautado, os ideais que eu tenho para a minha vida, que não abriria mão deles, como eles coincidiram com os dele, foi uma junção de ideais”.

As filhas, sempre prioridade

Foto: Arquivo/Pessoal

Encontrar o amor novamente foi bom, mas Gabriela precisava pensar no que significava para as filhas a entrada de uma pessoa na vida delas, “Ter duas filhas me fez refletir muito, esperei um tempo, disse para o João que precisava analisar, conversar com as minhas filhas. Não era uma decisão fácil, ainda mais diante de tudo que a gente vê hoje. Era um ideal que nós não tínhamos para a nossa vida, a minha vida eram as minhas filhas”.

Cuidado para não machucar ninguém

“A preocupação era de não prejudicar as minhas meninas, não me machucar e nem machucar ele. Digo que tem sentimentos e emoções que você vai vivendo e vai acontecendo, foi algo tão natural, a aceitação das meninas foi tranquila. Foi algo muito divino, as coisas quando tem que ser, quando é Deus que projeta, acontecem, a gente analisa bastante, mas as coisas vão acontecendo de uma forma saudável”.

“ Elas têm uma relação muito de amizade e respeito com o João, ele se posiciona muito bem. Ele tem claro que não é o pai, porém, sabe que tem a responsabilidade de cuidar e ajudar a orientar, nos amparar. O João sabe se posicionar muito bem, a amizade entre ele e as minhas filhas é forte, ele passou a ser a referência masculina e tem sido muito bom”.

Ser Mãe

Foto: Arquivo/Pessoal

Gabriela é mãe de 3 lindas Marias,  Maria Augusta, de 17 anos,  Maria Antonia, de 14 anos e a bebezinha, Maria Gabriela  “Respeito todas as escolhas das mulheres, entre elas, a não ser mãe, para mim era importante, e amo ser mãe, é um desafio tremendo, não é fácil.  Ser mãe de três meninas é muito mais difícil (muitos risos). Ser mãe me completa enquanto mulher, enquanto espécie. É muito do eu feminino, é uma doação total. A partir do momento que você é mãe,  teus sonhos se alteram, você passa a sonhar muito mais para os teus filhos que para você”.

Ela é uma mãe enérgica “Sou bem radical, cobro e exijo bastante, sou uma mãe muita chata, converso, explicou, mas a última palavra é a da mãe, entre risos, complementa, elas são muito concordadas, são dois temperamentos e personalidades bem diferentes uma da outra, a Maria Gabriela é o dengo de todos, é um grude com as irmãs”.

Ideal de Mulher

 Gabriela foi bem clara do que pensa sobre o ideal de mulher que passa para suas filhas “Digo a elas que elas podem ser tudo que elas quiserem, possa fazê-las felizes. Elas têm que lutar, mulher pode ser e chegar aonde ela quiser. Independentemente da situação, do que vier a acontecer na vida, elas chegarão onde se determinarem chegar. Não existem caminhos sem pedras, o limite é onde a mulher planejou, sonhou chegar. Nada e ninguém pode impedi-las de serem felizes, o feliz é muito individual, cada uma vai descobrir o que a faz feliz”.

Ela fala com as filhas sobre o viver a espiritualidade, “Passo muito a visão que eu tenho que a gente tem que fazer tudo muito correto, o melhor aqui, porque aqui não é o fim, não vivemos bem aqui, o mal aqui atoa, nós temos um caminho a trilhar depois daqui”.

Mais Natural

O amor renasceu, Gabriela se tornou mãe de mais uma linda menina, e junto com tudo isso veio um novo projeto profissional, a Loja Mais Natural, um projeto do casal que a levou  a conhecer o mundo do comércio, “É um se reinventar, agora só atuo na educação meio horário, sempre deixei claro que eu não ia abrir mão desse meio horário, mas que ia abraçar esse projeto junto com ele. Estamos há 5 meses com a Mais Natural, estou aprendendo muito, o João tem muita noção da gestão empresarial, eu não. É totalmente diferente. Iniciei novos cursos na Naturopatia para conhecer, não é só uma empresa, é preciso ter conhecimentos. Estou gostando muito. Já temos dentro do segmento natural muitos outros projetos”.

Rotina domiciliar compartilhada

Como conciliar o ser mãe, professora, empresária, esposa? “Aqui somos muito unidos, um ajuda o outro, a rotina domiciliar é dividida, a família é de todos, todo mundo vai pra louça, limpa a casa, tem seus afazeres de rotina de casa. Sempre digo para as minhas filhas, não é obrigação, é tua função de família”.

Ser mulher ontem e hoje

Ser mulher hoje em relação à minha mãe, é bem diferente,  a minha mãe é um exemplo de paciência, de determinação, ela foi criada dentro dos padrões da sua época e, dentro deles, ela se saiu muito bem.  Ela é uma dona de casa exemplar, caprichosa, zelosa, muito mãe, não no sentido do carinho, isso veio mais do meu pai. Eu não viveria um décimo do que ela viveu em relação a ser esposa, é um exemplo no sentido de manter uma família. A minha paciência é bem curtinha, ela tem muita paciência e tolerância. É uma mulher virtuosa, eu me espelho nela.

Defendo o feminismo

“Defendo  a mulher buscar os direitos iguais, nada de ser a mais ou melhor que o homem, eu acredito que homens e mulheres têm características próprias, direitos iguais, sempre respeitando as características próprias do feminino e do masculino. Tudo que desrespeita a mulher ou lhe nega direitos tem que ser lutado para mudar. Agora, tirar o que é belo da mulher, do feminino, ir pelo vulgar, pela exposição da mulher, eu sou totalmente contra. Ridiculariza e não ajuda. A mulher é um ser de garra e determinação, de emoções e sentimentos próprios.

Hoje se conversa sobre o tema, há mais conhecimento, a formação da mulher  está diferente. Temos vários direitos conquistados, foram lutas de muitas pessoas que sofreram lá atrás que nos garantiram esses direitos.  Tudo aquilo que não está correto nós devemos lutar para que mais direitos sejam respeitados e conquistados”.

Machismo

Quando fiquei viúva, eu senti como ainda há o machismo. Senti aquele ataque como se você estivesse disponível, a busca da sexualidade. Infelizmente, senti e vivi isso. Os ataques vieram de pessoas que você não imagina, que você não espera.  Ficava triste, me mantinha firme, não dando espaços a essas pessoas. Infelizmente, ainda temos muito isso. Mesmo a nova geração é machista.

Para vencer o machismo e todos os outros preconceitos, passa pela luta por igualdade e justiça que vem do amor, da empatia, de reconhecer um ser humano como ser humano. Preciso derrubar os diversos segmentos e parâmetros que a sociedade criou.  Preciso ver outro como ele é, com seus sentimentos, escolhas, histórias de vida e dores.

Ser Mulher

 “Gosto muito de ser mulher, não consigo me identificar com as caraterísticas de homem, compreendo, muitas vezes não aceito, já digo, não é bem assim.

Mulher é ao mesmo tempo intuitiva, seus sentimentos são tão próprios, tem a sensibilidade, a delicadeza, outro olhar do mundo, do humano. Mas é também garra, determinação.  Cada mulher é única, eu sou discreta, tradicional, acho linda a mulher despojada.

Nós crescemos e vamos mudando o mundo, minha família é de muitas mulheres,  meu pai cresceu muito com toda essa mulherada”.

Recado para as mulheres

Primeiro amar-se, se valorizar enquanto ser e buscar a felicidade, ela está no caminho enquanto o trilhamos.  Não fiquem na dependência de um outro ser, de uma outra situação. Que enxerguem quanto a vida é bela, o quanto a mulher consegue fazer a diferença para ela mesma.

É fundamental  se amar antes de amar o filho ou marido.  Proporcione  o seu espaço de ir ao médico, de fazer uma unha, de arrumar um cabelo, de ter um momento para si. Uma terapia é um  momento só com amigas, eu tenho, é muito bom, é essencial. É preciso  ter amor próprio, se amar por inteiro para amar o outro.

Valorizar–se e as outras mulheres, defender e buscar os direitos da mulher, ter persistência nessa luta, mas sempre com respeito às característica, à essência  própria da mulher.

Sou realizada!

Foto: Nara Coelho/Fatos do Iguaçu

“Sou realizada e sou grata por tudo que eu vivi, por ser quem sou hoje. Mesmo diante das aridezes vividas, eu venci, sou uma pessoa muito feliz. Sou muito grata, agradeço por tudo… tudo mesmo, até as dificuldades, mesmo por aquelas que te colocam no limite eu consigo ter o coração grato.

Sonhos

“Tenho muitos sonhos, quero muita coisa dessa vida. Ver as filhas bem encaminhadas profissionalmente, como pessoa, conseguir vê-las crescerem enquanto ser. Realizar algumas viagens. Na profissão, sou muito sonhadora, eu acredito num mundo muito melhor, acredito que as pessoas podem mudar a política e a sociedade, acredito muito no ser humano”.

 

 

 

 

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