Por Humberto Pinho da Silva
Quando meu pai resolveu realizar a exposição dos seus quadros, uma senhora amiga, muito rica, encontrou-o no Passeio das Caridosas, e após o formalismo da praxe, disparou:
– Quando faz a exposição? Avise-me para a ver!
– Estou a fazer aguarelas e desenhos para ela!
–Pinta só a aguarela?!
– Sim! Deixei de pintar a óleo há muitos anos. Não gosto do óleo, mas da luz e da cor da aguarela, como Daniel Constant. É uma festa, para os olhos!
– Bem, bem: Estou ansiosa de ver essa exposição, até preciso de um bom quadro.
Meu pai agradeceu o elogio e a preferência, talvez prevendo possível comprador.
Mas a senhora continuou muito interessada:
– Tem de me dar um dos seus quadros!
Meu pai sorriu contrafeito e tentou desembaraçar-se da “simpática” senhora, que se declarou conhecedora de arte, tecendo pictóricas opiniões. Já na despedida, voltou à carga:
– Não se esqueça de me ofertar o quadro! Que não esqueça!
Afasta-se um pouco, e volvendo, diz, em alta voz:
-Ah! Já me ia esquecendo: que seja a óleo. Sim! É que para o ambiente de minha casa, com marfins, tapetes… o quadro tem de ser a óleo!
A mim aconteceu, também, caso semelhante:
Entrevistei poetisa. Recebeu-me festivamente numa mesa recheada de vistosos bolos. Servido o chá, realizei a entrevista de gravador em punho.
Decorrido uma semana, soou o telefone. Era ela, dizendo que acabara de editar um livro seu, e mo ia enviar, contrarreembolso.
Desculpei-me, argumentando que não podia comprar os livros e os quadros de todos que entrevistava.
– Mas, são só vinte euros!…Não me diga que não tem vinte eurinhos!?…
Ficou amuada, e deixou de me chamar ” ilustre” jornalista, coisa que não me preocupou, porque sou tudo, menos ilustre…
Há pessoas de inaudito descaramento. Uma, queria um quadro de graça; outra desejava vender um livro por vinte euros!…
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