Durante o período em que Hitler governou a Alemanha, o terror do nazismo fez com que muita gente morresse. Nos campos de concentração, pessoas odiadas pelo regime ditador de Adolf Hitler eram colocadas em trabalhos forçados, torturados, usados em experiências macabras que se diziam científicas, e claro, mortas. Estima-se que pelo menos 6 milhões de judeus, e outras pessoas perseguidas, tenham morrido nestes campos. O horror do nazismo é evidenciado em livros, filmes, documentários, e estudos historiográficos pelo mundo.

Um dos países que sofreu muito com a ação dos nazistas foi a Polônia. Aliás, a Segunda Guerra Mundial começos em 1939 após a invasão da Polônia pelos alemães, e dali em diante, os judeus poloneses passaram a ser colocados nos chamados “guetos”, que eram áreas das cidades reservadas a eles, onde ficavam confinados, e muitos acabavam levados para campos de concentração mais tarde. Ali, doenças, fome, miséria, frio, sofrimento, violência eram comuns.         Esses locais eram o que se poderia chamar de inferno na Terra. Seria possível, em meio a tudo isso, ocorrer o bem? Seria possível brotar uma linda flor na areia de um escaldante deserto?

          Claro! Irena Sendler, uma polonesa nascida em Varsóvia, em 15 de fevereiro de 1910 era uma Assistente Social no Departamento de Bem Estar Social da cidade polonesa durante o horror da guerra. Ela temia pela vida, sabia dos riscos de se desafiar Hitler e seu exército. Sabia que seu fim poderia ser pior do que o reservado aos prisioneiros dos campos de concentração, pois os nazistas costumavam mostrar a todos o que acontecia com quem os traísse ou desafiasse. Mas ela desafiou, e seu feito é tão grande que ela passou a ser conhecida como “O Anjo do Gueto de Varsóvia”.

           Ela simplesmente foi responsável por salvar mais de 2.500 vidas ao conseguir que várias famílias de Varsóvia escondessem filhos de judeus no seio do seu lar e ao levar alimentos, roupas e medicamentos às pessoas confinadas ao gueto, com risco da própria vida. Convencia, com muita luta e dificuldade, as famílias de judeus a lhe entregarem as crianças, e as escondia em caixas de ferramentas, sacos de alimentos, trouxas de roupas, caixões, e em qualquer lugar que pudesse. Muitas vezes, as famílias se negavam (com medo, apavoradas) a entregar as crianças, e quando Irena voltava para tentar fazê-las mudar de ideia, já era tarde, e todos haviam sido levados para os campos de concentração. Irena não queria “só” manter com vida as crianças, mas também permitir que um dia pudessem resgatar sua história, suas identidades e as suas famílias. Por isso, ela criou um arquivo com os dados e informações de cada criança, junto com as novas identidades que elas ganhavam para escapar da perseguição. Infelizmente, ela acabou presa pela Gestapo, que era a polícia nazista.  

           Foi brutalmente torturada, tendo os ossos das pernas e dos pés quebrados! E ainda assim, não entregou as pessoas que lhe ajudavam, não revelou nada que pudesse ajudar os nazistas em seu projeto infernal. Obviamente, foi condenada a morte, e antes da execução, foi levada a um depoimento adicional, quando um soldado a escoltava, e ao sair, lhe ordenou em polaco: “Corra!”. No dia seguinte Irena encontrou o seu nome na lista de polacos executados, por meio de subornos a alemães, sua execução foi registrada sem ter ocorrido. Ela então deu continuidade ao seu trabalho, usando uma identidade falsa. Anos mais tarde, a fotografia de seu rosto foi publicada num jornal, graças as premiações que ela ganhava, e ela começou a receber ligações de pessoas que a reconhecia como seu anjo salvador. Um homem lhe disse: “Lembro-me de seu rosto. Foi você quem me tirou do gueto”.

          Essa história nos mostra que o bem pode deve ser feito. Em qualquer tempo, em meio a qualquer crise, guerra, período político. O título desse texto é dela, parte de uma frase onde ela nos diz exatamente isso: as pessoas que precisam, devem ser ajudadas, independentemente de nacionalidade, cor, raça, credo, ideologia ou qualquer outra coisa. Ajudar é uma obrigação de um ser humano digno, evoluído e razoável. Para quem se diz religioso então, essa obrigação se torna maior ainda, pois o cerne de qualquer mensagem religiosa, é a solidariedade, a fraternidade, a caridade. Não importa o tempo em que vivemos, os absurdos ditos e praticados, as idolatrias e loucuras disseminadas. Temos esse dever: praticar o bem, ajudar, agir em prol dos necessitados. Irena Sendler nos deixa um exemplo de força, dedicação, amor e proatividade.

José Carlos Correia Filho – professor de História

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