Essa reportagem conta um pouco da história de uma mulher que teve a coragem de empreender e se orgulha em dizer, “Sou pinhãoense”
Pinhão completa 57 anos de emancipação política no dia 15 de dezembro.
Nesses 57 anos, sua gente vem batalhando para cada dia transformar esse torrão de terra num lugar melhor de se viver, pois já é belo por natureza.
Sabemos que a história e o desenvolvimento de um município são feitos por homens e mulheres, mas, sem entrar no mérito da questão, tem-se por hábito contar a história pelo viés masculino.
Porém, o Fatos do Iguaçu escolheu um olhar feminino para falar sobre Pinhão e seu desenvolvimento, até porque, se pararmos para pensar, logo nos lembramos de várias mulheres que contribuíram e ainda contribuem para a transformação do município, como: a Frida, esposa do médico Avelino; a dona Clarinha, primeira professora do município; a Iara, primeira Assistente Social e que continua atuando; a dona Tereza Quadros, professora, diretora, secretária de educação, vereadora; a Benvinda, primeira proprietária de Salão de beleza e que generosamente ensinou sua profissão a outras; dona Celestina Hammel, comerciante e emprendedora.
Para homenagear essas e todas as mulheres pinhãoenses de nascença ou que escolheram essa terra como sua, o Fatos do Iguaçu escolheu contar um pouco da história da empresaria Neusa Matos, proprietária do Nosso Supermercado.
Para quem ainda não conhece, apresento Neusa Matos!
Neusa é uma bela mulher de fibra, decidida, de sorriso largo e que gosta de dar boas gargalhadas.
Ela é casada com Miguel, mãe do Jackson, avó do José e da Julia .
Na maturidade dos seus 56 anos, Neusa aprendeu que é preciso desacelerar, trabalhar menos e colher os frutos do que plantou, pois o plantio exigiu muito trabalho, dedicação, sacrifício e determinação.
Neusa é paranaense, mas já morou por 8 anos no Mato Grosso, até 1995, onde era professora.
Mas ela recebeu um convite da irmã, a empresária Zeneida Matos, que também era professora.
Tal convite mudou a vida de Neusa.
1996: a chegada em Pinhão
Neusa Matos chegou em Pinhão/PR há 25 anos, em 1996.
Veio a convite da irmã para juntas investirem em um mercadinho.
“A minha irmã me convidou para montarmos um negócio, um mercado. Eu vim e não sai mais, porque gosto muito de morar aqui”.
Da Afatrup ao Nosso Supermecado
Neusa, sua irmã e o cunhado alugaram o mercadinho da antiga Afatrup, Associação Famílias Trabalhadoras Rurais de Pinhão, que funcionava na rua 7 de Setembro, esquina com a XV de Dezembro.
Isso exigiu das irmãs muito esforço e dedicação.
“Foi duro, bem exaustivo e trabalhoso. Era um mercado pequeno que nós alugamos, mas tínhamos pouco capital para investir. Trabalhamos muito, fazíamos tudo. Eu era caixa, completava a sessão, fazia limpeza e parte da compra. A Zeneida, por alguns anos, continuou dando aula enquanto trabalhava no mercado, era caixa e fazia compras.”
12 anos almoçando no mercado
A construção de um empreendimento sólido é lenta, exige dedicação e sacrifício.
Para a empresária Neusa não foi diferente.
“Durante 12 anos não tínhamos horário de almoço, comíamos no Mercado. Não havia tempo pra ir em casa. Depois de um tempo contratamos uma senhora que fazia a limpeza e o nosso almoço numa cozinha que era um corredor. Tinha um fogão, uma pia e uma mesa. Era um almoço de 15 minutos, pois não tínhamos quem nos substituísse nos caixas. Era um sufoco, mas valeu a pena”.
O primeiro mercado
Neusa conta que foram crescendo e percebendo que era preciso ampliar. Mas, para montar o primeiro supermercado, foram necessários esforços extras.
“Para montar o primeiro mercado todos nós trabalhávamos até meia noite arrumando. Teve dias que eu ia dormir 2 da manhã e 7 horas já estava em pé”.
2008, a caminhada solo
As irmãs transformaram o mercadinho da Afatrup em dois supermercados e que tinham o nome de JM. Um era no mesmo endereço da Afatrup e outro na Avenida Trifon Hanycsz.
A caminhada com a irmã foi muito válida, foi de fortalecimento e crescimento. Mas, em 2008, elas decidiram que era hora de cada uma fazer a sua caminhada e separaram a sociedade. Mas continuam sendo irmãs e amigas, e sempre serão.
Para a Neusa e sua família, o filho Jackson e o esposo Miguel, coube o mercado da rua 7 de Setembro, que se tornou o Nosso Supermercado.
Os clientes escolheram o nome
A escolha do nome surgiu da conversa com os clientes.
“ A decisão de separarmos não foi fácil, exigiu muita conversa e reflexão entre nós e o processo não é rápido.
Mas após termos decidido, nós íamos conversando com os clientes e contando que haveria a separação.
Também falamos que tudo ficaria como estava, pois quem trabalhava no de cá ficaria aqui e quem trabalhava no de lá, ficaria lá com a Zeneida.
Ouvimos várias vezes os clientes e funcionários dizerem, ‘Agora será o nosso supermercado!’ e concluímos que esse era o nome. E acertamos, pois percebemos que tanto os funcionários como os nossos clientes se sentem muito bem quando estão lá”.
Pinhão nos recebeu muito bem
Há 25 anos, quando Neusa se predispôs a largar sua vida de professora e vir assumir um mercadinho em Pinhão, o viver e pensar da cidade era muito diferente do atual, o preconceito e o machismo imperavam.
“Não posso reclamar. Pinhão, de forma geral, nos recebeu muito bem. Alguns homens pinhãoenses mais velhos quando queriam negociar pediam para conversar com o Toni, que na época era meu cunhado. O mercado era de nós 3 e tudo era decidido junto. No entanto, para eles o Toni era o dono. Portanto, era com ele que eles achavam que tinham que conversar, mas o Toni só repassava o que tínhamos decidido juntos”.
Pinhão era…
… uma cidade menor com mais jeito de cidadezinha interiorana, em 1996 quando a empresaria Neusa Matos aqui chegou.
“A cidade não tinha prédios, pouco comércio. O prefeito era o seu Darci Brolini. Não tinha a Praça, as ruas eram na sua maioria de terra, a avenida Trifon já era asfaltada. Alguma rua próxima também, mas a maioria era de terra ou calçamento. A igreja matriz já era de material, mas bem diferente do que é hoje”.
Pinhão era pequeno, mas tinha movimento, “mesmo sendo uma cidade pequena era bem movimentada. Penso que uma das mudanças é que muita gente que na época morava no interior e hoje veio para cidade. Pinhão hoje é mas urbana”.
Comércio mudou
Para estar à frente de um Supermercado, que exige muito para dar conta de tudo, Neusa até abusou da saúde.
Com o tempo, algumas coisas foram ficando mais simples de realizar, mas outras foram complicando.
“ No início, tivemos dificuldade de aprender como tudo funcionava, mas era mais simples manter o mercado. A grande diferença é que hoje tem muito mais concorrência, tem que passar muito stress para ter boa negociação com fornecedores e garantir bom preço”.
“Esse ano está o mais difícil de todos os outros. Os preços dos alimentos têm subido muito, muito difícil de manter preço, nossas margens estão quase zeradas. A inflação não é boa para nenhum tipo de comércio, o bom para nosso setor é sem inflação e preços equilibrados e estáveis”.
Cliente está mais exigente
Neusa fala sempre com muito carinho dos seus clientes e funcionários e foi descrevendo como os clientes foram se transformando ao longo dos anos.
“Quando começamos com o mercadinho as pessoas eram pouco exigentes. Percebo hoje é que nem todo mundo procura preço. Uma boa parcela da população quer qualidade. Mesmo o consumidor com menor poder aquisitivo quer preço, mas qualidade junto. Hoje é trabalhoso satisfazer o consumidor”.
Uma paixão
Neusa se empolgou quando falou da sua paixão pela leitura.
“Sou viciada em leitura desde os 8 anos. Eu me escondia da minha mãe pra ler. Eu emprestava gibi pra ler e depois as fotonovelas das vizinhas. Minha mãe ficava quase louca comigo!”
Ela tinha um plano B
Neusa veio determinada a fazer o empreendimento junto com a irmã dar certo, mas era mãe do pequeno Jackson e, como sempre, muito pé no chão.
Ela sabia que precisava pensar em um plano B caso o empreendimento não desse certo. Foi aí que veio a faculdade de Letras.
“Eu era professora no Mato Grosso. Quando começamos com o mercado eu me dediquei, mas senti necessidade de ter uma outra opção. A ideia era fazer um curso que permitia trabalhar no mercado, mas caso não desse certo o mercado, eu tivesse uma profissão. Então escolhi Letras, pois já tinha a paixão pelos livros e isso me ajudou a vivenciar a faculdade com mais facilidade”.
O Nosso Supermercado
Quando a Neusa fala do Nosso Supermercado seus olhos brilham! Apesar das dificuldades de ontem e de hoje, é visível o quanto ela gosta do que faz, o quanto se preocupa em bem atender os clientes e se preocupa com o bem-estar dos seus funcionários.
“ A ideia é sempre trabalhar num clima bom, de alegria. Gosto de estar lá no mercado e sinto que os funcionários gostam de trabalhar lá, e isso transparece no nosso atendimento”.
Os clientes se sentem em casa
“Ouço muito dos clientes que eles se sentem muito bem aqui no mercado. Os clientes falam para nós o quanto se sentem à vontade para fazer suas compras”.
Atendimento voltado ao cliente
“A equipe toda está sempre pensando em formas de agradar, de mostrar que o cliente é especial. Só agora com a pandemia, por 2 anos não fizemos muita festa pros clientes, mas sempre fizemos festa junina, dia das crianças, aniversário do mercado com bolo e comemorações. Buscamos sempre estar mantendo a confiança do cliente no mercado, que sentimos, é imensa”.
Nosso Supermercado gera 40 empregos
A alegria de poder gerar 40 empregos é imensa, é gratificante.
“Quando a gente faz a comemoração de final de ano, que reúne os funcionários e suas famílias, dá uma multidão de gente. É muito gratificante saber que, através do teu trabalho, você consegue ajudar 40 famílias a ter uma vida digna”.
E Neusa complementa “É bom poder realizar, gerar esses empregos, ver as pessoas bem. Mas traz muita responsabilidade, porque é daqui que eles vivem. Eles estão contando com o pagamento e naquele dia. Já perdi o sono, enfrentei dificuldade para dar conta, mas eles são prioridade, eu nunca atrasei um dia”.
Colaboradores com 2o anos de casa
Quem é cliente do Nosso Supermercado observa que a equipe de funcionários muda pouco, muitos saem de funções mais simples para setores de maior responsabilidade.
“Tenho colaboradores que estão comigo há 20 anos. Eu brinco com alguns funcionários: Esse piázinho se criou comigo. Tenho funcionários que vieram com 16 anos trabalhar meio período, treinaram e hoje ajudam a administrar o mercado. É gostoso, a gente se chama de família Nosso Supermercado”.
E ela ainda complementou, “Lá ninguém passa dificuldade sozinho! Se alguém está passando por algum problema, todos buscam ajudar”.
Neusa destacou, “No Nosso Supermercado os colaboradores não são proibidos de sorrir. Muito pelo contrário! Sorrir, estar alegre faz parte do cotidiano nosso, porque gostamos do que fazemos, gostamos dos nossos clientes” .
O filho
Neusa fala que ter o filho ao seu lado quando houve a separação da sociedade fez toda a diferença.
“Meu filho me ajudou muito. Durante 12 anos o Jackson foi meu braço direito, mas agora, ele resolveu trabalhar em outra área. Eu deixei porque ele deixou um substituto muito especial ( muitos risos)
O neto
Quando a Neusa falou do filho foi especial, mas ao contar que o neto José Lucas do Amaral Padilha é quem está substituindo o pai, o orgulho da vó ficou visível.
“Eu já estou na terceira geração. Hoje ,quem me auxilia é meu neto. Desde os 14 anos meu neto está lá no mercado nos ajudando, trabalhando e agora, com 19 anos, ele está à frente do mercado. Eu o treinei e ele assumiu o cargo de administrador. Ele está sendo um excelente administrador”. Ela complementou, “Ele tem o dom da família de ser comerciante e administrador”.
Desacelerando, mas tudo valeu a pena
A empresária contou que conseguiu se conscientizar que tem direito de cuidar da sua saúde e aproveitar os frutos que plantou.
“Comerciante não vive muito. (muitos risos) É preciso desacelerar. Eu já me conscientizei de que preciso cuidar de mim e estou desacelerando, cuidando mais de mim. E já tenho visto resultados! Tenho me dado o direito de usufruir do que plantei com esforço e dedicação”.
“Ter trabalhado demais, me dedicado ao extremo valeu muito a pena. Transformamos um mercadinho em 2 supermercados. Com muito trabalho de todos nós da família”.
A mulher pinhãoense
“As mulheres e a sociedade no todo se transformaram, houve um avanço muito grande. Pinhão é uma cidade que tem muitas empreendedoras, muitas mulheres à frente de negócios. Inclusive, além de mim e da minha irmã, temos o Supermercado Xarnoski sendo tocado por uma mulher. Um grande número das lojas de confecções é dirigido por mulheres. Na verdade, predominam as mulheres no comércio local.
Hoje as mulheres são muito mais livres para fazerem suas escolhas, empreenderem. Hoje elas se posicionam. Sã0, com certeza, mais felizes”.
O que falta em Pinhão
Primeiríssimo lugar, os dirigentes precisam encontrar formas de gerar empregos em Pinhão.
O lazer deixa a desejar. Um um parque seria bem-vindo, onde as famílias pudessem ir e curtir e as pessoas poderiam praticar esportes.
Um maior cuidado com a cidade, com a urbanização. Deixar a cidade mais bonita, organizada. Ver a situação dos diversos terrenos baldios que existem no centro da cidade, virados em lixões e criadores de mosquitos. É preciso fazer leis que organizem esses terrenos, isso deixa a cidade feia e dificulta o desenvolvimento do município.
Melhorar o trânsito, que está caótico. Penso que já está na hora de pensar em estacionamento pago. Um tipo de Estar, igual de Guarapuava, que torne rotativos os estacionamentos das vias públicas do centro”.
Pinhão amanhã
Eu invisto em Pinhão porque acredito de coração que o município tem condição de se desenvolver. Pinhão tem potencial turístico, na lavoura. Precisa de mais investimento, incentivo ao pequeno produtor, como por exemplo, o leite da Vila e muitos outros. Isso gera renda.
Desejo a Pinhão
Desejo tudo de bom. Digo que tenho muito orgulho de fazer parte dessa comunidade. Depois de 25 anos de cidade, posso dizer tranquilamente: eu sou pinhãoense, essa é a minha cidade!