por Dartagnan da Silva Zanela (*)

Havia um viajante, que rodou por um bom tanto do mundo. Conheceu muitos países, conviveu com muitas pessoas e, inclusive, esteve aqui nesta pátria de chuteiras.

De cada lugar, de cada povo que conheceu, procurava registrar algumas observações e tomar nota das lições que aprendeu. Daqui do Brasil, entre inúmeras coisas que lhe chamaram a atenção, há uma que é, no mínimo, curiosa.

Diz-nos ele que em todos os lugares por onde passou, reparou que as pessoas procuravam imitar algo ou alguém com a intenção de se tornarem melhores. Ou seja: a imitação seria um meio para aprimorar-se, não um fim em si mesmo.

Agora, aqui no Brasil, a pegada é bem diferente. Nestas plagas, segundo ele, as pessoas também mimetizam algo ou alguém, porém, aprimorar-se não era a intenção. Elas contentavam-se com a mera imitação de qualquer coisa que lhes parecesse chique, sofisticado ou “importante”.

Ora, é de longa data que em nosso país se valoriza muito mais a superficialidade dos títulos e dos cargos, em detrimento da solidez e densidade de uma personalidade humana bem formada.

Esse tipo de atitude tacanha reflete, de forma cristalina, aquilo que foi tão bem descrito por Machado de Assis em seu conto “O Espelho”, onde o Bruxo nos lembra que, numa sociedade como a nossa, o valor de tudo e de todos está invariavelmente ligado ao status, ao prestígio oco, o que leva, consequentemente, a uma desvalorização sem par da real substância da personalidade humana, tendo em vista que, neste brasílico mundinho, o fingimento é fundamental; já a verdade, pobrezinha, é dispensável, como muito bem nos lembra Machado, em seu conto “A teoria do medalhão”.

Por essas e outras razões que, quando vejo “otoridades”, advogando maquiavelicamente em favor de um projeto pomposo, que supostamente irá “melhorar” a educação, fico cá com meus alfarrábios, matutando: quanto disso é fingimento publicitário? Quanto disso tudo é sincero e verdadeiro? Onde estaria a verdade desse trem? Pois é, também imagino que ela esteja naquele lugar e, por isso, é melhor não ficarmos escarafunchando, não é mesmo?

Mas não tem problema não porque, como todos nós sabemos, com o tempo a verdade sempre acaba dando as caras, mas aí, já será tarde demais, bem tarde, e não adiantará nada ficarmos fingindo indignação e arrependimento.

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 (*) professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.

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