Como o público feminino pode superar o medo do envelhecimento? Entenda
Por Daiana Barasa
Por que muitas mulheres têm medo de envelhecer? Ou então: por que as mulheres têm mais medo do envelhecimento do que os homens?
É muito comum surgir a imagem de uma celebridade (brasileira ou estrangeira), após os 50 anos e comentários como: está muito linda, nem parece que tem 50 anos; nossa como está envelhecida; nossa como o tempo é cruel…
Cleópatra já se banhava em leite e as romanas passavam horas imersas no banho para hidratar a pele. No cinema, na comédia A Morte Lhe Cai Bem, estrelada por Meryl Streep, Goldie Hawn e Bruce Willis, fica explícito o desespero de duas mulheres na disputa do amor do médico estrelado por Willis, e para isso, se rendem a uma fórmula da juventude.
As mulheres passam a vida ouvindo sobre uma vida “consolidada” antes dos trinta anos, aliás, os trinta anos de idade são como o “portal” para o processo inerente a todo ser humano, o da maturidade até o envelhecimento. A maneira de encarar o envelhecimento entre homens e mulheres é distinta, há ainda por trás do tema mulheres e o medo de envelhecer uma indústria cosmética, que reverencia a juventude.
Muitas marcas de cosméticos já fazem produtos para mulheres de 25 anos se prepararem para quando os níveis de colágeno no corpo começarem a decair a partir dos 30 anos. Acredite! Isso pode e assusta muitas mulheres e surge então o fantasma: o inerente envelhecimento.
A maioria dos homens lida muito melhor com o processo do envelhecer, assim como com os fios grisalhos, as rugas ao redor do olhos, que lhe dão um ar mais experiente. Mas e quanto às mulheres? A cada fio branco um retoque de coloração, a cada ruga, uma preocupação e a busca por clínicas de estética atrás da tal droga botulínica.
POR TRÁS DAS SOMBRAS DO ENVELHECIMENTO FEMININO
A escritora americana Susan Sontag em 1972 trouxe a discussão em seu artigo sobre “duplo padrão do avanço de idade”, importantes questionamentos como por que as mulheres mentem mais sobre a idade do que os homens e por que quando o assunto é sedução, coexistem dois modelos masculinos, o do “homem jovem” e do “homem maduro”, mas apenas um feminino, o da “mulher jovem”.
A autora também fala sobre a desvalorização das mulheres decorrente não apenas do afastamento dos padrões de beleza juvenis, mas da possibilidade de que os homens possam ter filhos mais tarde e contem com companheiras mais “alertas”. Sontag também se dirigiu especificamente às mulheres falando sobre o que poderiam ganhar em dizer a verdade, em deixar que vejam em seus rostos a vida que viveram, se emancipando das normas juvenis.
A francesa Benoîte Groult, jornalista, escritora e ativista feminista, em um documentário em 2005 falou sobre uma experiência comum no avançar da idade: que era se ver envelhecer principalmente pelos olhos dos outros. Em sua visão, Groult se sentia “igual a si mesma” e, em alguns aspectos, com mais energia do que em tempos anteriores.
Groult também relatou que sentia, por meio de palavras e gestos, que já não tinha lugar em eventos comuns da vida social, e que estes eram organizados com limites de idade implícitos.
Já a ativista feminista francesa, Thérèse Clerc, tinha uma relação com a velhice em primeiro lugar política, e acreditava que “nesse estado desacreditado”, tinha uma posição privilegiada para questionar uma série de normas sociais. Para Clerc, a velhice era um momento propício para desafiar , em eventos concretos, a “organização idadista” da sociedade e para questionar seus binarismos: atividade/inatividade, desempenho/vulnerabilidade, autonomia/dependência.
A literatura também enfatiza essa desigualdade por conta da idade entre homens e mulheres. A inglesa Jane Austen, por exemplo, em suas obras, descrevia as angústias femininas em torno da idade que avançava, do casamento que não acontecia e da sensação de “desespero”.
Por outra perspectiva, o clássico A Mulher de Trinta Anos, do francês Honoré de Balzac, falava sobre as mulheres com idade próxima aos trinta anos até os quarenta anos de idade, como “emocionalmente maduras” e que poderiam vivenciar o amor em plenitude. Apesar de fugir das narrativas literárias tradicionais, em que as mulheres “protagonistas” tinham pouco mais de vinte anos de idade, ainda assim, havia um limite de idade para a vivência amorosa.
Alguns livros tratam sobre a questão feminina de maneira mais aprofundada, como é o caso do romance Mulher Quebrada, da autora brasileira, Daiana Barasa, que aborda a questão do ser feminino que está em reconstrução. A personagem na história sente-se “quebrada” e a partir dessa consciência viverá uma aventura dentro de si mesma para enfim ser em integridade.
MULHERES E O MEDO DE ENVELHECER – LIMITE DE TEMPO PARA VIVER INTEGRALMENTE?
A antropóloga Mirian Goldenberg, autora da pesquisa “Corpo, Envelhecimento e Felicidade”, em que participaram 5.000 homens e mulheres brasileiros de 18 a 96 anos de idade, chegou ao resultado de que ambos os sexos encaram o envelhecimento de maneira diferente e que o envelhecer começa muito mais cedo para o público feminino.
Segundo Mirian, as mulheres, muito antes dos 40 anos de idade, já entram em pânico por conta do envelhecer e após os 30 anos pensam principalmente no fato de não estarem casadas ou de não terem filhos, isso porque a velhice está introjetada nas mulheres desde muito cedo.
A cultura e as sociedades em sua maioria sempre valorizaram as mulheres principalmente por atributos físicos. A invisibilidade do “ser mulher” decorrente de centenas de anos, ainda está sobre o ser feminino, como uma espécie de estigma.
COMO SE LIVRAR DO MEDO DE ENVELHECER?
Obviamente não há uma fórmula, em casos mais complexos, em que a mulher sinta-se “desesperada” por conta do inerente envelhecimento, o indicado é que procure o auxílio da psicologia, seja por meio da psicoterapia ou psicanálise. O autoconhecimento e o reconhecimento de suas potências como ser humano é um dos caminhos para lidar melhor com o processo natural do envelhecimento.
A psicanalista Maria Lúcia Homem no vídeo Velhos (aqui), fala sobre o encarar da velhice independentemente de gênero, e leva a reflexões como a aceitação do declínio (do vigor, força física, aparência, etc.) e a descoberta de novas possibilidades de vida.
As mulheres e o medo de envelhecer é um assunto que gera uma série de discussões e está repleto de complexidades. Se render a tratamentos estéticos pode ser compreendido como não aceitação do envelhecimento? Esse medo de envelhecer está mais ligado ao que se acredita por conta de um forte discurso social e cultural ou apenas à vivência particular do processo do envelhecer? É um processo natural, mas encarado como “fatal” para muitas mulheres.
O tempo realmente é impiedoso ou é apenas o espelho que mostra o ser humano em seu desenvolvimento e envelhecimento a si mesmo? Por que temer o natural? Reflita.