Por Bruno Zampier*

Parece que ninguém acertou o palpite sobre o novo papa. A maioria apostava em Pietro Parolin, cardeal italiano que figurava como favorito nas casas de apostas. Diversos jornalistas discutiam o assunto e especialistas foram chamados a opinar na televisão e nos podcasts. No fim das contas, eis que um tal de Robert Francis Prevost foi eleito. Mais surpreendente ainda foi o nome escolhido, Leão XIV. Deparar-se com uma ovelha não é lá algo que cause grande espanto, mas quando um leão aparece de surpresa, é melhor se preparar.

Diferentemente de Francisco, o novo papa não recusou os ornamentos que simbolizam a autoridade da Igreja Católica, aparecendo na fotografia oficial com uma grande cruz de ouro no pescoço. Fez uma homilia para os cardeais na qual declarou em alto e bom som que Jesus Cristo é o centro de nossas vidas, que tudo deve se iniciar e terminar Nele. Provavelmente islâmicos e judeus não gostaram muito.

Leonardo Boff achou que o papa deveria ter falado de ecologia; salientou que o papa enfrentará o desafio sobre “despatriarcalizar” a Igreja. Frei Betto manifestou esperanças de que o nome escolhido seja uma referência a Leão XIII, que, segundo ele, foi “o papa da classe operária”. Do outro lado do espectro político, muitos na direita afirmaram – com razão – que Leão XIII condenou o socialismo e a abolição da propriedade privada como atentatórios à dignidade da pessoa humana. Alguns parecem enxergar em Leão XIII uma espécie de Murray Rothbard de batina, um anarcocapitalista defensor do liberalismo mais liberal possível.

De minha parte, estou de acordo com a idéia de que existe mesmo certa mensagem política na escolha do nome Leão XIV. Mas não no sentido de uma filiação a um espectro político, mas no sentido de uma afirmação da supremacia religiosa sobre as ideologias políticas.

O leão é o rei da selva, ele não está aí para se submeter aos devaneios marxistas e nem aos projetos da elite capitalista. Antes de tudo, se o Papa é um homem que escolheu a Igreja e não um partido político como projeto de vida, então me parece razoável buscar na própria doutrina o significado de seu nome. Algumas pessoas parecem não imaginar ou simplesmente não acreditar que entre direita e esquerda, possa existir uma terceira via. Na Bíblia, o Leão da Tribo de Judá é Jesus Cristo(Apocalipse 5:5), justamente o tema central da primeira homilia do papa.

E se é verdade que Leão XIII destacou a necessidade de se preservar os direitos e a dignidade da classe trabalhadora, também é verdade que ele condenou com severidade a doutrina socialista. Isto porque, para Jesus Cristo e sua Igreja, a solução para a pobreza não é organizar a classe trabalhadora e tomar o poder da classe rica, favorecendo uns políticos e burocratas; e nem desarticular o Estado e promover o consumismo e o materialismo capitalista.

No fundo, capitalistas e socialistas acreditam que o problema do mundo é o pobre, e só divergem quanto ao método mais eficaz para tornar todo mundo rico: aqueles pelo livre mercado, estes pelo Estado todo-poderoso. Chesterton então nos lembrou que somente Cristo vem nos dizer que o problema do mundo não é o pobre, mas o rico. A solução não está no mundo, mas no espírito: aceitar a realidade de que há dignidade e virtude mesmo no mais humilde e simples dos trabalhos; que a melhor maneira de ajudar o próximo não é simplesmente ofertando vagas de emprego, mas servindo e amparando, num ato pessoal de amor com aqueles que estão próximos a você.

A Doutrina Social da Igreja é portanto a antítese do radicalismo político e das ideologias utópicas. Estas mudam com o tempo, enquanto aquela permanece imutável e tão verdadeira quanto há séculos atrás. Imutável como o poder de um monarca. Se o Papa Leão XIV exercer sua autoridade, muitos abandonarão o fanatismo ideológico e se converterão à fé. Quem sabe uma primavera católica esteja realmente se aproximando.

  •  Advogado e professor de Direito Penal no Centro Universitário Campo Real em Guarapuava-PR.

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