
Foto: reprodução entrevista com Mario Torres em 2020
Por Naor Coelho
O que vai acontecer com o Jardim Botânico de Faxinal do Céu?
Essa pergunta paira como uma névoa densa sobre um dos patrimônios naturais mais ricos e encantadores do município de Pinhão. Localizado na Vila de Faxinal do Céu — antiga estrutura da Copel — o Jardim Botânico, com seus 152 hectares de diversidade vegetal e rara beleza paisagística, vive hoje um momento de indefinição e silêncio por parte dos novos proprietários da área, cuja identidade e planos permanecem envoltos em incertezas.
Em agosto de 2020, a jornalista Nara Coelho, da TV Fatos, esteve no local e conversou com Mário Torres, engenheiro florestal aposentado e um dos idealizadores do espaço. A entrevista, que mais parece uma aula de sensibilidade ecológica, permanece como um documento precioso sobre o valor ambiental, educacional, cultural e socioeconômico do Jardim Botânico.
“Eu uso sempre o termo ‘sensibilização’”, disse Mário. “Sensibilização pela paisagem, pelo belo, pela natureza ordenada. É isso que o Jardim oferece.” E de fato, quem já andou por entre as azaleias gigantes, o cactário, as coleções de plantas exóticas e as majestosas araucárias, sabe o quanto o lugar mexe com os sentidos e com a consciência ambiental.
Mas todo esse tesouro corre o risco de perder sua identidade e sua função pública.
Até 2020, a Copel mantinha a estrutura, apesar dos altos custos. Discutia-se, na época, a criação de uma fundação independente para administrar o espaço, garantindo sua continuidade com sustentabilidade financeira e abertura para novas fontes de recurso — como o turismo ecológico e científico. No entanto, a transição da propriedade parece ter deixado essa proposta em suspenso, junto com os sonhos de expansão, capacitação de mão de obra local e geração de renda.
“A Copel vende energia, não vende mudas nem pacotes turísticos”, explicou Mário Torres, ressaltando a limitação da estatal em explorar o potencial socioeconômico do espaço. Já uma fundação, com respaldo legal e foco ambiental e cultural, poderia transformar o Jardim em referência nacional — inclusive atraindo visitantes estrangeiros fascinados pela flora brasileira e pela singularidade das paisagens de araucária.
A ausência de informações por parte dos novos responsáveis gera um legítimo sentimento de angústia e alerta. O que será feito da maior coleção de azaleias do país? Do espaço de visitação que já chegou a receber mais de 300 pessoas num único domingo — apenas por divulgação boca a boca? Do viveiro que já serviu de campo para universidades como UEM, Unicentro e UEPG? Do refúgio que deveria crescer e não definhar?
Faxinal do Céu não pode ser esquecido. Seu Jardim Botânico é mais do que um parque: é um símbolo de educação ambiental, um laboratório vivo, um convite à contemplação e um gerador de possibilidades. Silenciar-se diante de seu futuro é abdicar de um patrimônio público, social e científico.
Cabe às autoridades municipais, estaduais e à sociedade civil cobrar transparência, propor soluções e exigir que o legado construído por décadas, com dedicação de profissionais como Mário Torres, não seja deixado ao abandono.
Preservar é mais do que manter. É dar sentido à história e construir futuro.
Imagens do final da entrevista mostrando um pouquinho do Jardim Botânico