Um dia para esquecer. Será???
Quando se chega à Comunidade do Alecrim sente-se no ar uma tristeza que contrasta com a beleza do lugar. As ruínas e escombros da destruição insistem em gritar, em expor a tragédia que aconteceu no dia 1º de dezembro de 2017.
Elas são ao mesmo tempo ador e a fortaleça dos posseiros, pois eles têm o desejo, a esperança, a convicção que reerguerão suas casas no mesmo lugar que estão os escombros. È mais que natural que os moradores de lá queiram esquecer o dia 1º de dezembro,afinal, lembrar é vivenciar uma dor que não tem descrição.
Pois se para quem não vivenciou, só acompanhou e se solidarizou, já causa uma dor e angústia terrível,impossível imaginar, calcular a dor de quem viu tudo o que foi construído ao longo de uma vida ser destruído em minutos. Além de ser uma dor imensa, é uma dor que não se encontra justificativa. Principalmente no que se refere a ver vários policiais cercando e apontando armas para trabalhadores rurais, não atiraram,mas os rifles apontados penetraram fundo na alma das pessoas que por mais de vinte anos só fizeram trabalhar.
Tudo que conquistaram foi com suor e labuta e tudo, de uma colherinha à casa de alvenaria tinha um valor incalculável, pois não veio de graça, mas com a coragem e persistência de transformar trabalho de sol-a-sol em benfeitorias e qualidade de vida e em segundos virou lixo, pois quem chegou para derrubar, destruir, chamou as conquistas de uma vida de “lixaredo”.
Não, isso não é justiça! È apenas ação realizada sob a capa da lei fria e implacável. Da lei que é feita para proteger a propriedade e não a vida. Da lei que é feita e praticada para quem tem poder. Da lei que é seguida pelo que está nas frias folhas dos códigos penais e civis. Não da justiça que olha para a proteção à vida daqueles que cometeram o crime de resolver tirar o sustento da família da terra e dela fazer mais que seu ganha pão, o seu existir.
Sim, é compreensivo que os posseiros queiram esquecer, e curioso, o jeito que eles querem passar o dia para não lembrar é trabalhando, cultivando a terra. Mas esse dia não pode de jeito nenhum ser esquecido pela justiça, agentes políticos e sociedade em geral. Ser ignorado, ser banalizado, pois é preciso deixar vivo na memória o que um ato decidido dentro do rigor da lei, mas sem ser antes verificado o contexto social e o vivenciar das pessoas pode provocar.
È preciso não esquecer a imagem de desespero da criança que vê seu lar ruir assim, num repente. Não! Não se pode mesmo esquecer ou permitir que a justiça de fato não aconteça. É preciso lembrar e cobrar que se dê agilidades aos procedimentos para que aquele povo que viu toda a sua vida ser esmagada em segundos, mas que estão lá de volta trabalhando e acreditando nas palavras das autoridades que o documento virá, não se decepcionem.
È preciso lembrar os choros e desesperos das pessoas para que os processos legais ganhem a força e a rapidez que o a toda destruição teve. È preciso não esquecer para que os órgãos governamentais escutem lá na capital o gemido do povo e não deixe um dia sequer de fazer o que lhe cabe. Não! Não se pode deixar o tempo amenizar, abrandar a tragédia que foia reintegração de posse feita com a violência da destruição e sob a capa da lei para que nenhuma outra comunidade passe por essa dor.