A Lei é para o Outro
Segurança é o que tudo mundo quer, mas, seguir as regras, nem todo mundo quer tanto assim. Até porque quando as pessoas pedem por segurança, por mais rigidez, mais policiamento, mais atitude e rapidez das autoridades, elas estão pensando no que as outras pessoas fazem de errado. Sim, a lei é para todos, porém, “no meu caso é diferente”, quando é com o sujeito, a lei não precisa ser assim tão rígida. A sociedade tem que pensar em todos, mas, “veja bem, esse é o meu ganha pão”, quando a norma é comigo, aí a regra precisa ter vírgula, precisa ter exceção. Quando se começa a colocar vírgula, exceção no que é lei, regra, norma, está se criando espaço para uma coisa que os políticos conhecem muito bem – corrupção.
Está na hora de nós, brasileiros, compreendermos que nem a justiça e o bem social, a boa convivência é construída com passes de mágicas ou com grandes atos, e muito menos a corrupção é só os atos dos políticos quando desviam milhões ou bilhões. A corrupção e a insegurança nascem dos pequenos atos, como por exemplo, quando se suborna o guarda para não pagar a multa por excesso de velocidade, ignorando que esse excesso de velocidade pode tirar vidas.
Quando se dirige usando celular, passando mensagem e se justifica que é rapidinho, que é urgente, é para fechar um negocio e se ignora por completo as leis de trânsito e o imenso perigo de se provocar um acidente que pode matar mais de uma pessoa, mas é rapidinho, e essa resposta no zap vai garantir o pão da família, ignorando por completo as estatísticas que mostram que o uso do celular no trânsito tem matado muito mais que os problemas cardíacos.
É por estar sempre justificando os pequenos atos de infração achando que se pode dar um jeitinho ali e aqui que se cria a consciência coletiva de que se for por “um dito bem maior” pode-se burlar a lei. O problema é que o bem maior não é a sociedade, é a minha empresa, a minha família, o meu grupo político e aí, vamos acreditando em coisa tipo ah, tudo bem, o vereador, deputado, prefeito tal rouba, mas faz. Normalmente faz para ajudar alguém, que o sujeito pede, é um favorzinho só para um amigo. E aí quando de repente se descobre que o político desviou bilhões da saúde e por isso tem gente morrendo nos leitos dos hospitais, as pessoas querem ficar indignadas e sair criando a pena de morte para os políticos, não para quem foi lá pedir que ele desse uma “mãozinha” na licitação que a empresa do sujeito ia participar do governo. Assim, de grão em grão vai se dando espaço e nutrindo a corrupção.
Da mesma forma, não é com a radicalização da pena de morte e nem com a colocação de um policial em cada esquina que se vai garantir a tão desejada segurança pública, é com atos e atitudes pequenas de cada um, é com o cumprimento da lei, mesmo que essa faça as pessoas terem que criar novos hábitos. Vejam, para emagrecer, é preciso queimar gorduras, e para isso, é preciso fazer o esforço do exercício físico e criar o hábito da alimentação saudável, que num primeiro momento parece horrível, mas que deixar de vestir o 50 e passar a vestir o 32 justifica o sacrifício inicial e comer alimentos saudáveis passa a ser um saboroso hábito.
Assim também, para de fato haver uma convivência saudável na sociedade, ruas limpas, a perturbação do sossego e da paz serem coisas raras, é preciso que cada um faça a sua parte, que cada um queime sua gordurinha de egoísmo, de mesquinharia, de pensar só no seu umbigo e passe a fazer o exercício diário de promover no dia a dia atitudes que vão de encontro ao bem comum, porque quando o bem comum prevalece, cada um ganha, e ganha bem mais.