No banco dos réus

Estava Laertes e foi condenado, para uns a pena foi pouca, mas na realidade a pena abranda, dá uma resposta à família e à sociedade, mas nenhuma pena, por maior que seja, vai ser suficiente para pagar por uma vida. Uma vida não tem preço. A questão aqui não é o julgamento do Laertes, mas de toda uma sociedade. Sim, quem estava no banco dos réus é a sociedade machista, que permite que um homem se considere dono de uma mulher, tão dono que seja capaz de dizer a ela a quem ela deve amar e muitas vezes sustentar, caso ela recuse, se acha no direito de lhe tirar a vida. Sim, a sociedade que permite, incentiva esse comportamento quando ensina aos homens que eles mandam e às mulheres que elas devem ser submissas. Quando pagam salários diferenciados, inferior às mulheres que ocupam os mesmo cargos que os homens. Uma sociedade que ensina as meninas desde pequenas a rebolar, a conquistar pela sedução. Quando todos os homens e mulheres contam piadas de loiras e elas sempre estão em condição de idiotice. Toda uma sociedade, inclusive as mulheres que cantam, dançam e reproduzem músicas que dizem que “Elas são cachorras”. Não há inocentes nessa questão. Estavam no banco do réu os vizinhos, familiares, amigos que vêem uma mulher ser humilhada, violentada psicologicamente, agredida fisicamente e não se envolvem com a desculpa que em briga de casal não se mete a colher. Estavam no banco dos réus as religiões, que ensinam às mulheres que elas devem aceitar tudo, ser submissas, e elas são as grandes guardiãs do lar, que o casamento é até que a morte os separe, mesmo que essa morte venha pela mão do marido. Estavam sendo julgadas as mulheres que criticam, comentam e condenam as outras mulheres, reforçando o conceito machista que maquiagem, roupa, modo de rir, define, separa as mulheres pra casar e as desqualificadas. Estava lá o não trabalhar o tema da violência doméstica com mais profundidade e afinco pelas escolas, os médicos que recebem nos prontos socorros as mulheres espancadas e não denunciam. Todas as entidades, sociedade civil organizada que só se movimenta, só se manifesta, só puxa discussões nas datas específicas ou quando os caso acontecem e tomam repercussão municipal, estadual ou nacional, ou pior, quando atinge alguém próximo. Sim, estavam também no banco dos réus as mulheres que escutam o primeiro grito, berro, puxão de cabelo e acha que dá para perdoar, que não vai acontecer mais, que leva o primeiro tapa e dá a desculpa que ele estava nervoso. Que não se olha no espelho e vê que toda mulher é guerreira, é forte e pode mais e merece muito mais que um troglodita que bate, grita e humilha. Que aceita e não pede ajuda. A saúde pública, que não tem atendimento diferenciado para os casos de violência doméstica porque a vítima sempre precisa de muito mais do que só cuidados médicos, ela e todos que estão ao seu redor, porque quase sempre a mulher que apanha está acompanhada de seus filhos. Sim, todos são réus porque violência doméstica não é caso de policia, é caso de toda a comunidade, é problema de todos e todos devem meter a colher, se envolver principalmente para evitar que ela aconteça e deve-se ajudar agredidas e agressores porque ambos são doentes, ambos precisam de auxilio moral, psicológico.

Compartilhe

Veja mais