Produção literária independente estará disponível para download gratuito a partir de 1º de agosto
Seis meses após lançar seu primeiro livro (e-book) de poesia de forma independente, ‘Águas para Cerejeiras’, o poeta, escritor e jornalista alagoano Fernando Nunes volta ao gênero com ‘Cais de Pedro’. Diferente do livro de estreia, onde registrou suas primeiras impressões sobre Curitiba – cidade que adotou como morada há mais de um ano -, Nunes agora faz uma viagem introspectiva e reflete sobre solidão, saudade e silêncio.
“O tempo agitado rouba a poesia de nossas vidas e em um dado momento, percebi que, de alguma forma, essas questões se encontravam em minhas palavras”, explica o autor. Abrindo a obra, Nunes oferece o livro às saudades que gosta de ter e então parte adiante. Entre a falta de casa e do mar, versa sobre amores perdidos ou não correspondidos. “E se você se for / Eu vou te buscar / praquela nossa vida de finais tranquilos / na beira do mar” (Ainda nós, p. 18).
“A grande mensagem em Cais de Pedro é a beleza de reservar-se um tempo para estar só, em silêncio, sentir saudade e aproximar-se do Divino”, explica Nunes, ao falar de seu próprio texto como autoterapia e dizer que o livro conduz para além de sua pessoalidade. “A poesia nos obriga a parar e pensar, nos obriga a olhar o dentro. Não é de tudo o poeta, é também um pouco de bula da alma do leitor”, esclarece. Cais de Pedro traz 28 poemas em suas 52 páginas.
Produção independente
No rumo da produção literária independente, Fernando Nunes vai disponibilizar seu livro em formato e-book gratuitamente, que poderá ser lido na íntegra em sua página no Facebook ( fb.com/fernandonunesescritor ), em qualquer dispositivo. O livro estará disponível para download a partir de 1º de agosto de 2016. “Nós vivemos em um mundo com tão pouca poesia na vida das pessoas que não acredito que vençamos essa barreira sem ocupar novos espaços. A poesia é para comer, por isso precisa ser algo acessível e nada mais acessível do que obras em formato digital”, defende.
O poeta também participa com frequência da cena poética curitibana, apresentando sua obra em leituras, eventos com entrada franca, onde junta sua poesia a canções populares.
Confira dois poemas inéditos presentes no livro:
Tarde de domingo
Por que me beijas assim,
como se quisesses entregar algo que não possuis?
Como se a noite pudesse durar um infinito
enquanto estou nos teus braços?
Por que se pões em silêncio ao meu lado,
quando podes falar dos moços à nossa frente
que passam maneiros, trabalhadores e jovens?
Eu sei o que sinto perto de ti
e me dói que confundas conversas agradáveis
com o sentimento acarinhado que prendo com força,
dentro da boca, com os dentes e sobre a língua,
para não deixar escapar o quanto te quero e disfarço.
Me dói que não te demores por não sentir o mesmo
e me assusta a ideia de mover-me e não ter,
por outras vezes, mais desse mesmo.
Adoçaste meu beijo que tanto quis o teu,
mas amarguraste o peito que te daria por morada
no conforto de tardes chuvosas ou ensolaradas
dentro desse dia de domingo, que sem nós, se perdeu.
Cais de pedra
Há um porto, um destino,
um cais desses de pedra,
que se estende pelo mar no meio de mim
aglutinando faltas umas sobre as outras,
em móveis e em silêncio no lamento
do eterno movimento dos barcos.
À espera da volta do meu barco,
que se encontra fazendo oferenda.
Nesse cais tão comprido quanto os dias de fome,
deveras taciturno como a distância,
continuamente se evoca a solidão das faltas.
E à medida que se caminha nesse destino ou porto,
se avança para dentro do oceano
em direção ao ponto onde não se contam os anos,
a unidade de tempo é saudade.