
Foto: Nara Coelho/Fatos do Iguaçu
Por Nara Coelho
Na noite da última quinta-feira (27), Pinhão presenciou um momento marcante: a reinstalação oficial de um grupo de Alcoólicos Anônimos (AA) no município após seis anos de ausência. A reunião pública informativa, realizada no auditório do Sindicato Rural Patronal de Pinhão, foi organizada pelo 3º Distrito – Setor 1 da 17ª Área do Paraná, com sede em Guarapuava, e marcou o surgimento do Grupo Amizade, o nono do distrito.
O retorno do AA a Pinhão é fruto da articulação entre o Conselho da Comunidade, o setor de Assistência Social do Judiciário da Comarca, e o apoio da rede pública de saúde e assistência social. Segundo a assistente social Márcia Gisele dos Santos Quintino, do Conselho da Comunidade, a iniciativa surgiu a partir da constatação de que cerca de 90% das pessoas atendidas pelo órgão — seja no cumprimento de medidas judiciais, seja em situação de liberdade assistida — apresentavam histórico de consumo abusivo de álcool.
Durante o encontro, autoridades como a secretária municipal da Saúde, Meuri Macedo, e a secretária da Mulher, Paola Fogaça, destacaram a importância de acolher e apoiar pessoas com transtornos relacionados ao uso de álcool, especialmente mulheres, que enfrentam estigmas ainda maiores. Ambas as secretarias se colocaram à disposição para colaborar com o novo grupo.
A reunião foi marcada por fortes depoimentos de membros em recuperação, familiares e profissionais envolvidos. Seguindo a tradição do anonimato que rege o AA, os participantes foram identificados apenas por seus primeiros nomes. Manuel, com mais de 40 anos de sobriedade, destacou que o AA é sustentado por princípios e não por personalidades. “Nossa única finalidade é a recuperação daquele que deseja parar de beber”, afirmou.
O encontro também teve o apoio da Igreja Católica. O pároco local, padre Tadeusz Semmerling, reafirmou a importância de acolher o grupo e reconheceu a eficácia da metodologia do AA. “A igreja abre as portas para acolher todos aqueles que procuram ajuda para recomeçar.”
Um dos momentos mais tocantes foi o relato de Júnior, que compartilhou como o álcool afetou profundamente sua vida pessoal, familiar e profissional. “Cheguei moído e quebrado, e o AA me ajudou a me reconstruir”, disse, emocionando o público. Outros relatos, como os de Ari, Silmara, Michele, Ione e Dan Júnior, revelaram as múltiplas faces do alcoolismo — desde o sofrimento dos próprios dependentes até o impacto devastador nas famílias.
Também foi apresentado o funcionamento do Al-Anon, grupo de apoio voltado aos familiares e amigos de alcoólatras, cuja atuação complementar ao AA oferece suporte essencial para reconstrução dos laços afetivos.
O Grupo Amizade passa a se reunir semanalmente, às sextas-feiras, ao lado da casa paroquial. “Essa retomada é mais do que o renascimento de um grupo, é a reafirmação de que existe esperança, apoio e um caminho possível para quem deseja vencer o alcoolismo”, destacou Márcia.
A reunião demonstrou que, com união entre poder público, sociedade civil e instituições religiosas, é possível enfrentar coletivamente um dos problemas de saúde pública mais desafiadores do país: o alcoolismo.