Era uma terça-feira do mês de Junho (18,) do ano de 1861, quando o Sr. João recebeu, no estabelecimento, a irmã Jacinta.
Em alvoroço, exclamou eufórica:
– ” Parabéns, João, tens mais um filho!…”
– ” Olha, que grande coisa!…” – contrapôs, este, serenamente.
Casara na cidade do Porto. Tinha duas meninas e um rapaz. Trindade Coelho, era o quarto.
O Sr. João fazia-se insensível, mas no íntimo, era homem bom: Gostava de auxiliar, mas receando que viessem a saber, dissimulava, para não o julgarem: “mole“.
A esposa, perfeita dona de casa, cuidava com esmero, do maneio da casa, e aplicava, muitas horas na costura e a passajar.
Fazia o conserto da roupa, numa salinha, com janela para o Convento de S. Francisco, onde se prendia a corda, que accionava o sino, da torre.
Trindade Coelho, muitas vezes, tocava as “Avé-Marias”, da janela. Ajudava à missa, com perfeição. Gostava de “celebrar” e”pregar“. Por brincadeira, chamavam-no: ” O Sr. Padre José”.
Certa ocasião, bebeu trago de vinho, das galhetas. Descoberto, foi severamente repreendido e castigado: tinha que pedir perdão, ao Sr. Abade.
Lá foi o rapazinho, de cabeça baixa, a tremer, muito enfiado, a casa do Prior. Este, sorrindo, desculpou-o, e em “recompensa” deu-lhe punhado de cerejas.
Em dia frio de rigoroso Inverno, chegou a casa sem camisa. A mãe interrogou-o asperamente. Em prantos, contou, que a dera a menino pobre, que tinha muito frio.
Foi castigado; mas a mãe, enquanto lhe batia, ria-se de alegria, por dentro.
Aos domingos, ia à casa do oleiro, vê-lo a fazer louça. Levantava-se muito cedo, quase de madrugada, para observar o Sr. Domingos, girar a roda, e o barro ganhar a forma de utensílios.
Frequentava, com algum gosto, a escola, mas tinha também, professor particular.
Em suma: era feliz, até ao momento, que o pai resolveu levá-lo, com o irmão, à aldeia de Travanca, no intento dos filhos prosseguirem os estudos.
Ficaram hospedados na casa do professor, que ficou na incumbência de os educar.
(Continua)
PARA LER OUTROS ARTIGOS DO AUTOR – CLIQUE AQUI