Terminamos as reportagens em comemoração aos 57 anos de emancipação política do município de Pinhão/PR, contando a história de uma família que chegou no município em 1970 e hoje já está na 3ª geração de pinhãoenses.
O casal Osvaldo José Sens e Tereza P. Sens, em 1969 morava em Ituporanga/SC.
Élcio, o filho mais velho, comunicou ao casal que pensava em se casar e seu Osvaldo disse-lhe: “Mas meu filho, como você vai tirar a moça da casa dela com o salário que ganha? É muito pouco. Penso que você deve buscar um trabalho em outra cidade”.
Então, o pai deu um dinheiro para que ele fosse em busca de melhores condições de vida.
O destino deu uma ajuda
Élcio arrumou a mala, pegou um ônibus e veio parar em Guarapuava no Paraná, na barbearia dos Isidoros, uma família de conterrâneos que já estava em Guarapuava há uns 5 anos.
Ele chegou na barbearia e foi conversando com os colegas de escola em Ituporanga, Sérgio e Heitor, e contou que viera em busca de um emprego, de um trabalho que lhe desse melhor condição financeira.
Na cadeira do barbeiro, cortando o cabelo e fazendo a barba estava o prefeito do Pinhão, Sebastião Passos Ferreira, o Nhotão.
“Rapaz eu sou prefeito do município aqui pertinho e estou precisando de gente pra trabalhar comigo, o que você sabe fazer”?
O Élcio rapidinho respondeu que tinha o curso de contador, saiu da barbearia empregado e já veio para Pinhão, que na época se chamava Vila Nova de Pinhão, de carona com o prefeito Nhotão.
Uma visita
Como pai zeloso que era, o senhor Osvaldo pegou um ônibus e veio visitar o filho em Pinhão.
Gostou do que viu e veio de novo, agora acompanhado da esposa Tereza e do filho Volnei.
Fez mais uma visita e quem o acompanhou foi a filha Tereza.
“Na verdade, o pai já estava namorando o Pinhão, querendo vir para cá”, contou a filha.
Na volta dessa viagem, seu Osvaldo conversou com a família sobre a possibilidade de ir morar em Pinhão. Uns filhos acharam uma boa ideia e outros nem tanto, mas seu Osvaldo e Dona Tereza decidiram e chegaram em Pinhão no dia 29 de dezembro de 1970 com os 12 filhos: Élcio, Sérgio, Volnei, Tereza, Cláudio, Maria Helena, Cezar, Osvaldo, Maria Angélica, Keka, Jorge, Theodoro, Doro e Paula.
A Chegada
Tereza Sens Krapp, quarta filha do casal, estava com 16 anos quando a família veio para Pinhão.
Ela e seu esposo Julio Krapp, que chegaram a Pinhão em 1982, que carinhosamente me receberam em sua casa e conversaram sobre os 51 anos de vivência da família Sens em Pinhão.
Tereza contou que a chegada aqui em Pinhão foi sofrida, “Nós estranhamos muito. Muita poeira, a gente chorava, estendia a roupa no varal, quando ia recolher estava tudo amarela de pó. Estranhamos muito o banheiro, (patente) na rua. Lavávamos roupa na rua”.
Família Serafim Ribas
Tereza lembrou com carinho da família Serafim Ribas, “A primeira família que nos acolheu quando chegamos foi a do senhor Serafim Ribas, os pais da Aida. Nós fomos morar numa casa da família, era da Arlete, casada com o Porfirio, a casa ficava onde é hoje o Queima”.
“A Aida Ribas foi uma amigona, como a gente se dava bem, domingo nos reuníamos aqui na frente de casa, depois que o pai construiu a nossa casa”.
“Outra família que nos acolheu muito bem foi a comadre Liria, ela era viúva e as irmãs dela, a Aurea, Erondina e Lindaura moravam com ela”
Todos foram trabalhar
Rapidamente todos começaram a trabalhar, até porque seu Osvaldo ensinou-os desde pequeno a trabalhar.
“Logo todos estávamos trabalhando, eu fui dar aula no antigo Grupo Castelo Branco, na época a diretora era a dona Tereza Barbieri, ela me acolheu e a Keka foi trabalhar na Creche”.
Tereza trabalhou um tempo como professora e depois foi cuidar de uma loja.
“O pai tinha o hábito de ficar sentado aqui na frente de casa. Certo dia, chegou um senhor grisalho pedir informação onde ele podia montar uma loja e conversaram, fizeram amizade. Ele montou a loja Rener, onde é o Castelinho, e ele precisava de uma pessoa para cuidar da loja pois vinha a cada 15 dias. E o pai me tirou do colégio para tocar a loja, a gente não se governava, o pai quem mandava”.
Primeira casa de material
O senhor Osvaldo logo comprou um terreno na rua Francisco Dellê. Com ajuda dos filhos, construíram a primeira casa de material do município de Pinhão.
A casa ficava onde hoje está a Papelaria Girassol e Ike Informática, que por sinal são dos filhos do casal Tereza e Julio, portanto, netos de Osvaldo e Tereza Sens.
“Logo aqui tinha o bar do Gringo, onde é a Creserv já foi o Bamerindus”, contou Julio.
Os materiais vinham de fora
Tereza relatou que o pai queria fazer uma casa grande e de dois andares. Porém, os materiais para a construção da casa tinham que vir de fora.
“Não foi fácil a construção da casa, os ferros vinham de Ponta Grossa, a areia e tijolos de Irati, pois não tinha aqui na região. Muitas vezes os caminhões com os materiais encalhavam na serra do Pinhão por causa da chuva, ficava um monte de caminhão lá”.
Os filhos foram os ajudantes
Tereza foi se lembrando que eles, os filhos é que ajudaram o pai a fazer a casa.
“O pai não conseguia pessoas para vir construir a casa, ele buscou até em Guarapuava, mas ninguém queria vir. Por fim, conseguiu um pedreiro e não teve jeito, nós fomos os ajudantes do pedreiro”.
Tereza recorda que o poço e a fossa quem fez foram o Cezar, Cláudio e Volnei “Eles cavaram 20 metros para encontrar água, o pai em cima deles, o meu pai era bem rígido, enérgico, ele não poupava filho não”.
“Era para ser uma casa grande de dois andares, mas, com a dificuldade de conseguir o material e mão-de-obra, a casa não ficou como o pai imaginou”.
Os vizinhos
Eles lembram com carinho dos vizinhos da época, “Nossos vizinhos eram o Jaime Blen, o Seu Áureo que nos trazia o leite toda manhã, o seu Ariel que tinha uma lojinha junto com seu Anacleto e vendia doce e tinha a Lola, que trabalhava lá. Eu gostava muito dela”.
Dia bom era dia de chuva
A dona Tereza e as filhas tinham sempre muito serviço em casa, “Nós trabalhávamos muito em casa, a casa era grande com muito homem e pouca mulher para dar conta de todo serviço, era preciso sempre pegar alguém para ajudar. Para nós, dia bom era dia que chovia, porque aí a casa ficava limpa, porque o barro fica só no chão, a poeira tomava conta de tudo”.
Nem todos ficaram
Élcio conseguiu realizar seu objetivo, casou com a lageana Mariza Regina Kuntze, morou um tempo em Pinhão e depois foi para outras bandas. O filho Sérgio conseguiu um trabalho em Curitiba.
Os primeiros fotógrafos
Hoje, tirar uma fotografia é algo extremamente banal. Com os celulares na mão, as pessoas tiram foto de tudo e de todos, inclusive de si mesmas. Porém, na década de 70, fotografia era luxo.
As máquinas fotográficas exigiam uma certa habilidade e havia a necessidade de revelar a foto, além de serem caras. Então, os filhos Cláudio e Volnei decidiram fazer um curso de fotografia.
O senhor Osvaldo montou para os filhos uma sala de fotografia na rua Francisco Dellê, que na época era de terra. Eles foram os primeiros fotógrafos do Pinhão.
Viveram muitas histórias
Tereza vai se lembrando das histórias dos irmãos fotógrafos.
“Na época da eleição em que o senhor Atílio Chaves concorreu, nós saíamos fazer título de eleitor. O Cláudio e o Jorge pegavam o fusca do pai, iam pro interior batendo fotografia das pessoas para fazer os títulos de eleitor”.
Um parêntese nas histórias das fotografias, “Meu pai gostava muito de política e se envolvia muito. Inclusive, trabalhou com o seu Rubens Spengler na prefeitura. Dos filhos, o que puxou, foi o Jorge”.
Tinha as fotos dos casamentos
“As pessoas casavam na igrejinha e vinham aqui no foto fazer a fotografia, e às vezes, o Claudio ia na festa do casamento, que quase sempre era no interior, e ia junto com os noivos no caminhão”. (Muitos risos).
As corridas de cavalo
Julio lembrou que as fotografias tiravam as teimas nas disputas das corridas de cavalo, “ Era muito comum naquela época as corridas de cavalo na antiga hípica. E mais comum ainda o povo brigando pela diferença de focinho dos cavalos. O povo ficava esperando a foto que o Claudio tirava para decidir quem ganhou e ele se enrolava com aquela revelação”. (mais risos)
Aqui é bom contar aos mais novinhos que se colocava nas máquinas filmes de 12, 24 ou 36 poses e só depois de batidas, ou tiradas todas as fotos é que se podia revelar o filme, até porque não era barato, nem o filme e nem a revelação.
Observamos que nesse momento da prosa bateu na Tereza uma saudade bem especial, com uma pontinha de tristeza no olhar, já que os irmãos Cláudio, Cezar e Paula são falecidos.
O Pinhãoense
Aos 46 anos, dona Tereza, mãe de 12 filhos, deu à luz no Hospital Santa Cruz, na época conhecido como o Hospital do Doutor Avelino, com acompanhamento do médico Avelino Eduardo Peredo Roman e de sua esposa Frida, ao filho Marco, o único pinhãoense, que na família todos chamam carinhosamente de Marquinho.
Pinhão era…
“Quando chegamos aqui tinha o bar do Donivil, que tinha um pouco de tudo e nós chegávamos lá e pedíamos: quero meio quilo de mus! O seu Donivil dava uma risada que era escutada lá em casa e dizia: esses catarinas vem aqui pedir mus e ria muito. Mus era doce para passar no pão. Ele e sua família foram ótimos vizinhos.
Lembro com carinho da Dona Frida e o Dr. Avelino. A minha irmã Maria Helena trabalhou anos com eles no hospital. Dona Frida era muito boa para a minha mãe, que sofria de enxaqueca e ela vinha todo mês cuidar da mãe.
A Frida tinha uma rural e sempre levava-nos para passear nela.
Nos domingos, nós e os amigos sentávamos aqui na frente de casa e ficávamos cantando, conversando. Era bem legal as festinhas que a gente fazia nas casas. A gente recebia serenata. Era tudo muito legal.
Tinha luz, mas vivia tendo queda, água a gente tinha que tirar do poço.
O telefone demorou a vir. Primeiro tinha uma telefônica. A gente ia lá ligar, às vezes chegava lá tinha fila, a espera era grande.
O meu pai foi um dos primeiros a adquirir o telefone, era um aparelho antigo, e a mãe ficava esperando chegar as 20 horas para ligar para as irmãs dela e para os filhos porque era mais barato nesse horário, (muitos risos)
A minha mãe se envolvia muito com a igreja e quando chegamos aqui a igrejinha era de madeira, era o Frei Chico e Gilberto que comandavam a paroquia. O Frei Chico dava aula e a Paula chegava em casa e contava sobre as aulas dele.
Às vezes Pinhão lembrava os filmes de faroeste, pois era tudo rua de chão, poucas casas, as pessoas andavam a cavalo e era muito comum os homens andarem armados e os revólveres ficavam visíveis nas cintas, Mas eu sempre gostei de morar em Pinhão, destacou Tereza.
O Clube União e Progresso
Quando chegamos já tinha o Clube União e Progresso, lá já dava uns carnavais bons, os bailes também eram muito bons. Porém, nos bailes a gente ia pouco. O pai tinha medo que nós fossemos aos bailes porque aconteceu uma vez ou outra da gente ir dar tiroteio e a gente ter que sair correndo pela janela do clube. Aqui os risos foram muitos.
Em Curitiba
Quando a família estava morando em Pinhão, Tereza foi morar em Curitiba para trabalhar. Mas, mesmo lá, Pinhão apareceu na sua vida.
“Eu fiquei um tempo e depois fui morar em Curitiba com o meu irmão Sergio e a sua esposa Valquíria. Depois fui morar numa pensão e lá morava a Maria José, que era daqui do Pinhão, filha da dona Hermínia”.
A volta a Santa Catarina
Durante 6 anos a família Sens morou em Pinhão. Sofreu no começo, mas já estavam bem acostumados, seu Osvaldo sempre realizando seus negócios de compra e venda de terras, fazendo loteamentos, investindo em imóveis.
“Inclusive na rua tinha a nossa casa, a Foto, uma relojoaria e o pai tinha ampliado o espaço que era a nossa garagem, para que o Bamerindus viesse para cá”.
Os filhos Cláudio e Volnei trabalhando no Foto. Tudo indicava que a família estava decidida a fincar raízes em Pinhão.
Contudo, a fatalidade mudou o rumo das coisas.
Um certo dia ocorreu um tiroteio em frente à casa da família Sens, que resultou na morte de um pai e seus três filhos.
“De repente as portas do Foto, da relojoaria e do banco estava tudo crivado de bala. Estavam ali na frente o pai, o Jaime Blem, o seu Airton Mendes e o seu Pedro Rocha tomando chimarrão e foi aquela correria. Por sorte nós estávamos na chácara, em Santa Terezinha, graças a Deus”.
Seu Osvaldo, que sempre gostou do Pinhão, ficou preocupado com a família, “Meu pai ficou apavorado, imaginando que se os filhos estivessem por casa poderiam ter morrido. Ficou desolado e, dentro de uma semana, colocou a mudança dentro do caminhão e disse: eu estou indo, quem quiser que fique”.
Senhor Osvaldo voltou para Blumenau em Santa Catarina, mas os filhos Cezar, Cláudio e Volnei ficaram.
O Regresso
O amor ao torrão de terra chamado Pinhão falou mais alto e o senhor Osvaldo Sens decidiu, depois de um tempo, retornar para Pinhão.
Com ele vieram as filhas Paula e Maria Angélica, além de Jorge e Osvaldo.
“Eu e a Tereza namorávamos e o seu Osvaldo me disse ou casa ou a Tereza volta comigo. Aí casamos e ficamos (muitos risos)”.
Seu Osvaldo voltou e montou uma lojinha de retalhos que ele trazia de Blumenau.
“Nós estávamos morando em Florianópolis, a mãe foi nos visitar e nos convidou a voltar para o Pinhão e cuidar da lojinha, aceitamos e viemos, ai já era década de 80”.
Pinhão Mudou
O casal Tereza e Julio falaram das mudanças em Pinhão
“A Cidade mudou e mudou muito, chegamos aqui, as pessoas andavam a pé ou a cavalo, um ou outro tinha carro, hoje é uma imensidão de carros, as ruas eram todas de chão, hoje estão com asfalto ou calçamento. Pinhão cresceu muito, um pouco desorganizada, mas, do seu jeito, cresceu e muito.
Lembra Julio rindo, “Eu não queria vir naquela época de jeito nenhum para cá, mas hoje adoro Pinhão e não quero sair daqui de jeito nenhum”.
Tereza completou, “Eu sempre dizia para a minha mãe que a gente sofreu muito aqui, trabalhava muito, era tudo muito, muito diferente de onde viemos, mas eu sempre gostei daqui”.
Desejamos a Pinhão
Tudo de bom, que a cidade cresça mais ainda, que cada vez mais os que estão administrando o Pinhão cuidem da cidade, melhorem a urbanização, estimule as pessoas a fazerem calçadas, que as pessoas que têm terreno baldio, cuide deles e os estimule a transformar em investimento.
Deixar a cidade bonita, aconchegante, é importante, que seja dada muito atenção a parte cultural e de lazer, povo pinhãoense é trabalhador, merece viver numa cidade melhor organizada, bonita e com espaços para cultura e lazer.
Hoje a família Sens
Vários filhos do seu Osvaldo e dona Tereza casaram em Pinhão, constituíram família, o Cláudio e o Cezar casaram com as irmãs Mari e Estela Dellê. A Keka, casou com o Luiz Antônio Dellê, o Tonho, o Doro com a Maria Joana Kramer, a Paula com o Odenir Rech, foram se estabelecendo profissionalmente, criando seus filhos.
Seus filhos já cresceram, e muitos escolheram ficar em Pinhão e já estão aí trabalhando com suas empresas, ou autônomo, alguns já constituíram família, a quarta geração dos Sens, os bisnetinhos do casal Osvaldo e dona Tereza, já estão ai para continuarem contribuindo com o crescimento e desenvolvimento do Pinhão e continuar a bela história da família Sens no município de Pinhão.