Todos aqueles que já estão com amarelão na certidão, como esse que vos escreve, devem ter brincado quando criança de amarelinha. Isso mesmo! Aquela brincadeira inocente com uma trilha numerada de um a sete onde jogava-se uma pedrinha nas casas e, salteando, com uma certa elegância, procurava-se atingir o objetivo: ir da terra até o céu.
Uma pedrinha, movida na direção certa era fundamental para se atingir o objetivo, porém, não era o suficiente. Se não tivéssemos o equilíbrio mínimo necessário, cada uma das jogadas seria um desastre e, ao invés de chegarmos ao céu, acabaríamos naufragando no meio do caminho, tal qual acontece muitas vezes em nossa vida.
Bem, no jogo da vida, a pedra é rolada para diante todo ano, em cada Santa Páscoa que celebramos. É. A pedra que selava o Santo Sepulcro é movida para o lado, mostrando o mausoléu vazio. Vazio, porque o mestre não mais está nele, mas o jogo não acabou. Para nós, ele ainda não.
E na amarelinha da vida, o que é mais interessante é que não precisamos esquentar a moringa com a pedrinha. Não. Essa é sempre atirada com precisão pelo Senhor e pelos seus anjos. O que nos cabe é trilhar o caminho, de casa em casa, procurando o equilíbrio necessário para nos fiarmos na radicalidade do caminho, à luz da verdade para vivermos plenamente a nossa vida.
Podemos dizer que, de certa forma, cada um de nós, nessa jornada, seria uma espécie de Hércules, tendo de lidar com seus doze trabalhos. Sim, um Hércules de araque, depois de uma anemia e de uma profunda diarreia, mas sim, um Hércules, marcado pelo pecado e que, dia após dia, enfrenta incontáveis desafios para chegarmos à redenção.
Porém, diferente do herói da mitologia grega, a graça divina abunda em nossa vida, mesmo que não sejamos capazes de percebê-la e de acolhê-la. Ela foi derramada, sem economia, sobre cada um de nós, quando o Verbo Divino encarnado abraçou a Sua dolorosa paixão e, ao terceiro dia, triunfou. Triunfou para que nós fôssemos vitoriosos e, pelos Seus méritos, possamos nos encontrar com Ele no final da amarelinha desta vida.
E se Nosso Senhor não tivesse abraçado o cálice que o Pai Eterno lhe preparou? Bem, Ele não seria o caminho, nem a verdade e muito menos a vida em sua plenitude. Seria apenas mais um tonto como eu e você. Mas, como Cristo é a Segunda pessoa da Santíssima Trindade, Ele fez aquilo que desde a eternidade estava escrito para ser feito por Ele.
Tudo o que existe no universo, com sua vastidão imensurável por vistas humanas, com suas belezas incontáveis e com seus mistérios insondáveis, foi criado para aquele momento, que ocorreu há mais ou menos dois milênios atrás nesse planeta azulzinho que chamamos de lar. Não apenas isso. Toda a criação continua a existir apenas e tão somente por causa desse acontecimento que marcou a história da humanidade há mais ou menos dois mil e tantos anos.
Resumindo: tudo passou a existir, do nada, por causa Dele e, tudo continua a existir, por conta Dele. Tudo passou a existir para que uma pedra rolasse e, tudo continua existindo para que as pedras não parem de rolar até chegarmos ao nosso destino final que não é nesse mundo.
É isso. Feliz Páscoa.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela
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