Por Johann Caldas da Silva Zanela

Li recentemente O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger, livro fantástico, divertidíssimo e por vezes assustadoramente preciso. No livro acompanhamos Holden Caulfield, um rapaz de 18 anos que nos contará suas desventuras após a descoberta de que foi expulso do colégio, o que o leva a decisão de fugir do internato para passar o tempo que lhe resta – antes que seus pais descubram de sua situação – farreando em Nova York.

A história é de certa forma um Peter Pan moderno, pois assim como ele, Holden não quer crescer e vê todos os adultos à sua volta como Capitães Gancho. Ele até tem sua Wendy, na verdade duas, que são representadas por um par de figuras femininas: Sally Hayes e Jane. A primeira é uma menina com quem Holden sai certa noite, mas acaba se frustrando devido a garota reclamar de suas ações imaturas. A segunda, era um interesse amoroso de Holden desde o jardim, a qual ele idealiza grandemente. Jane tem uma particularidade: Holden deseja durante todo livro ligar para ela, mas nunca o faz. A princípio por temer o pai da menina, mas no fundo ele teme macular a imagem platônica que tem dela. Contudo, eu acredito que exista uma camada de significado que pode nos falar sobre um aspecto mais universal de Holden – e portanto do Teen Spirit que ele representa – mas para podermos captá-lo teremos de descer ao subsolo.

Holden demonstra em vários momentos sintomas do homem subterrâneo, arquétipo esse descrito por Dostoiévski em sua novela Notas do Subsolo. No livro acompanhamos uma personagem sem nome, apenas conhecido como o homem do subsolo, que tem uma profunda amargura e ressentimento do mundo, pois tinha tudo para ter sido e não foi, não por questão de falta de oportunidade, mas devido à sua própria ingratidão. Este é o tipo que dirá: “Adoraria escrever, mas não escrevo pois seria mal-compreendido”, porém o real motivo é que ele teme sujar a imagem que tem de si mesmo. Holden tem dois ingredientes chave em seu coração que são característicos desse espírito: medo e ingratidão.

A questão do medo é bem explícita durante a história, afinal Holden tem medo de crescer e se tornar um Capitão Gancho como a maioria dos adultos que ele encontra ao longo de sua vida. Porém a ingratidão de Holden se mostra de forma sutil, pois apesar de suas inúmeras reclamações quanto à seus pais, estes estão dando o máximo de oportunidade possíveis para Holden desenvolver-se na vida. Essa ingratidão também aparece, entretanto de forma mais sutil, quando ele conta à Phoebe – sua irmã caçula – seu plano de fugir para longe, onde ele arrumaria um emprego como frentista e construiria sua cabana onde apenas sua irmã e seu irmão poderiam lhe visitar. Todo esse movimento é marcado por uma grande imaturidade, traço que caracteriza o personagem, mas também é visível a natureza ingrata de sua atitude, que aliás é característico do adolescente. Sim, adolescentes são medrosos e ingratos, mas como todo mal-estar, a adolescência também passa.

O problema surge quando vivemos em uma época onde a juventude não é vista como uma fase que se supera, mas como algo que deve ser preservado junto a todo aquela lenga-lenga que já estamos cansados de ouvir sobre o fogo da juventude! E pior, semeando nos corações juvenis a desconfiança e a ingratidão para com aqueles que vieram antes. Assim, percebe-se que não se quer mais Holdens crescidos e maduros. O que se instiga na juventude é que permaneçam eternos adolescentes, que ao olharem para trás vejam o grande nada de sua existência, e ressintam a tudo e todos, restando-lhes apenas beber do frasco do ressentimento como sucedâneo para o arrependimento verdadeiro.


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