Márcia Regina Santos Coco, assistente social no Creas – Pinhão | Foto: Nara Coelho

Por Nara Coelho

Feminicídio é o crime cometido contra a mulher quando a razão do assassinato está ligada ao fato da vítima ser mulher, considerado pelo Código Penal brasileiro um crime hediondo no Brasil.

No Paraná, a partir de 2019, foi instituído o dia 22 de julho o Dia de Combate ao Feminicídio.

POR QUE O FEMINICIDIO?

De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea, nos últimos anos pelo menos 50 mil mulheres foram mortas no país. O estudo ainda aponta que 15 mulheres são assassinadas por dia no território nacional, 40% dos assassinatos acontecem dentro da própria casa das vítimas, muitas vezes por companheiros ou ex-companheiros.

PARANÁ

A Justiça paranaense recebeu 131 denúncias de feminicídio durante o ano de 2018 entre 1º de janeiro e 31 de dezembro. O balanço é do Ministério Público, que encaminhou ao judiciário 80% dos inquéritos policiais abertos pelo crime no estado durante o ano, um total de 168.

Um estudo do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, coloca o Paraná entre os estados com mais casos de feminicídio, ao lado do Rio Grande do Norte, Amazonas e Mato Grosso.

PINHÃO

No município de Pinhão, infelizmente, a realidade não é diferente, há menos de trinta dias registrou mais um caso de assassinato feminino, e os motivos estão diretamente ligados ao feminicídio.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

O feminicídio não acontece da noite para o dia ou num momento de desespero do assassino, ele vem de uma relação de continuas agressões, que iniciam com agressões psicológicas, com frases, tipo, “Você é burra, você não serve para nada, ninguém vai te querer”, que avançam para tapas, ponta pés, murros, puxões de cabelos, indo para surras e até o crime. “O feminicídio não é um ato isolado, é resultado de vários atos de violência, é a etapa mais drástica do ciclo da violência”, explicou a assistente social Márcia Regina Santos Coco.

SÓ UM SUSTO

Quando a reportagem do Fatos do Iguaçu foi ao encontro dos números de registros em relação a violências domésticas, descobriu que eles não expressam a realidade, de janeiro a junho desse ano na polícia militar há o registro de 15 casos no município de Pinhão e 8 em Reserva do Iguaçu, totalizando 23 casos em seis meses.

Os próprios policias explicam que os números não indicam a realidade, pois eles atendem muito mais casos, mas que, infelizmente, as mulheres preferem não fazer o registro da agressão, elas acabam sempre dizendo a mesma frase. “Só queria que vocês dessem um susto para ele se acalmar um pouco, não vou registrar”.

CREAS

Conversando com a assistente social Márcia, do Creas, de Pinhão, que é o Centro de Referência Especializado de Assistência Social, ela aponta a mesma situação vivida pela PM. “O número de violência que chega até nós é pequeno, um fator que dificulta é que a vítima está sempre muito fragilizada e as pessoas ainda acreditam que não devem interferir”.

Ela contou que hoje eles acompanham 16 casos, que dessas, 5 mulheres estão participando dos grupos e atividades de apoio. “Desses casos apenas cinco decidiram ir fazendo todo o processo para romper com o ciclo da violência. Nós trabalhamos com toda a família, inclusive com o agressor, pois a proposta é reequilibrar a família, mas é um processo complexo e longo”. Porém a maioria vai até lá, conta o que está acontecendo, mas quando é solicitado a denúncia formal, não querem fazer.

Outro ponto é que as mulheres relatam que ao buscar a delegacia para registrar as agressões encontram um ambiente hostil.

“Elas relatam que tem dificuldade em fazer o B.O, que se sentem acuadas, que muitas vezes não conseguem fazer o registro”.

A VÍTIMA

As mulheres vítimas de violência doméstica, se sentem sozinhas e sem ter com quem contar, essas mulheres estão na faixa etária entre os 30 a 50 anos, tem filhos, abandonaram os estudos para viver a vida de casada, ficam na dependência econômica dos companheiros. 

Elas sofrem vários tipos de violência, inclusive a sexual, pois esta acontece quase sempre na hora e do jeito que o agressor deseja, “É muito comum a violência sexual, o tempo, o momento e a vontade da mulher não são nunca levadas em consideração”, ressaltou a assistente social.

ALTOS MUROS

Nos casos que o Creas tem trabalhado, segue esse padrão de vítimas, mas, a violência doméstica está presente em todas as classes sociais e acontece com mulheres que tem terceiro grau, atuam no mercado de trabalho. “Muitas vezes, nas classes sociais mais elevadas, fica mais difícil de se diagnosticar, pois para a mulher também entra a questão do nome da família, o manter a ideia da família que é feliz”, lembrou a assistente.

 É PRECISO METER A COLHER

A violência contra a mulher é muitas vezes presenciada por amigos e familiares, porém, ainda muito enraizado, o dito popular que em briga de marido e mulher não se mete a colher, as pessoas não fazem a denúncia.

É importante fazer a denúncia “Quando recebemos a denúncia vamos até a família e lá conversamos com a vítima, pois é ela quem irá dizer o que de fato acontece e tudo acontece sem que a pessoa que trouxe a denúncia seja identificada”.

As denúncias podem ser feitas via telefone para os números 180, que é exclusivo para as questões da mulher, ou pelo 100, que é dos direitos humanos, mas eles recebem a denúncia e repassam ao Creas, ou no próprio Creas, que está situado na Avenida XV de Novembro,s/nº, ( ao lado do Conselho Tutelar em frente ao Ceebja), telefone 3677-2498 das 8 às 11h:30 e das 13 às 17 horas de segunda a sexta-feira.

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