Ouça a crônica:

Em terra de cegos quem tem um olho é rei? Não. Não é. Quer dizer, pode até ser, dependendo das circunstâncias, mas, na maioria dos casos, não será nem mesmo suplente de suplente de vereador.

Se pararmos para matutar um cadinho, iremos concluir que, em terra de cegos, quem tem um olho será tido na conta de maluco, de proponente de teorias da conspiração e sabe lá do que mais o pobre coitado poderá ser carimbado.

E, como todos nós muito bem sabemos, o pior tipo de cego é aquele que tem olhos sãos e se recusa a ver. É aquele que vê com seus olhos, que um dia a terra há de comer, mas se recusa a enxergar.

Qualquer um que ouse enxergar com mais profundidade e clareza qualquer sutileza da vida, mais do que depressa será tido na conta de esquisito e, é claro, identificado com outros adjetivos torpes que andam meio que, como direi, na moda dos abestados engajados que se consideram esclarecidos e, por isso, criticamente esclerosados.

Todos nós, cada um no seu quadrado, imaginamos que o tal do próximo, que na maioria das vezes nós gostaríamos que ficasse bem distante da gente, está sempre mais cego do que nós, ignorando que o mais severo problema de visão encontra-se, muitas vezes, encalacrado em nossa maneira tacanha de ver tudo e julgar a todos.

Não é à toa, nem por acaso, que o condenado, descrito pelo filósofo grego Platão em seu livro “A República”, que havia se libertado dos seus grilhões, vazando e, mais tarde, retornando para libertar os seus “parsas” do cárcere cavernoso, é apresentado como um caboclo que foi tido como doido por aqueles que apenas conheciam as sombras que os assombravam.

Também não é por acaso, nem à toa, que nós ficamos tão apoquentados com qualquer um que ouse apenas nos informar que existem muito mais coisas entre a grande mídia e as redes sociais do que presume a nossa vã criticidade postiça.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

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