O Natal de 2016 teve um motivo a mais para brindar a data, com poucos meses de vida, João Davi,o primeiro bisneto da funcionária pública Carolina de Freitas Taques, carrega consigo a prova de que somente o amor é capaz de quebrar barreiras, vencer preconceitos, ser a motivação necessária para reconstruir vidas e brindar cada vitória.
Ela representa muito bem a mulher de hoje, uma guerreira persistente, determinada, corajosa e destemida. Ao longo de seus bem vividos 61 anos ela já sentiu o sabor da felicidade, da chegada de cada filho, cada neto, da tristeza de perder um filho, da alegria de possuir sua casa própria, brindar as conquistas de cada filho e de poder, sempre que possível, reunir Geneci, Gilcinei, Gilson, Geane, genros, nora, os 10 netos e o bisneto.
Nascida em Faxinal dos Coutos no dia 29 de setembro de 1955, filha de Augusto e Ana, carinhosamente chamada pelas irmãs de Cuca, dona Carolina sempre morou na roça, estudou muito pouco, pois em seu tempo de adolescência não havia condições para seguir em frente. Aos 18 anos, depois de cinco anos de namoro e noivado, deixou a casa dos pais para se casar e formar sua família.
DECEPÇÃO
O sonho não dourou muito tempo e aos 28 anos esta mulher destemida tomou uma atitude que poucas mulheres tomariam há 30 anos atrás, deixou sua casa e veio para a sede de Pinhão com os cinco filhos. Dona Carolina fala que a vida é cheia de altos e baixos, mas que é possível ser feliz com pouco, e ser feliz é estar junto dos que amamos. Porém, em toda sua vida ela afirma que teve apenas uma decepção. “A maior decepção da minha vida, foi o meu marido, tinha por ele um grande respeito, mas fui vítima dos seus vícios. Namoramos por cerca de cinco anos e nunca percebi que ele era alcoólatra, depois da separação os conhecidos contaram muitas histórias dele com a bebida. Muitas vezes chegou em casa completamente embriagado. Certa vez ele deu dois tiros por cima da minha cabeça, foi a gota d’agua. Naquele tempo não tínhamos a proteção que as mulheres têm hoje, ou saía de lá, ou morria ”.
VIDA NOVA
Não suportando mais a situação, ela decidiu vir para Pinhão e trouxe os filhos, foi morar com um irmão e sua esposa. “Vim para Pinhão, pois tinha o seguinte pensamento, saí da casa dos meus pais sozinha, como vou voltar com mais cinco crianças? Sentia-me ameaçada pelo meu ex-marido, que chegou a tentar me matar com um punhal, fui salva por um dos meus irmãos”. Comecei a trabalhar fora, tinha pouco estudo, sem experiência, pois só tinha trabalhado na roça até então. Consegui um trabalho na Farmácia da dona Elisa, estava começando vida nova. Não foi fácil, nos dias de pagamento, minha cunhada, que tinha apenas um filho, vinha a meu encontro no meio da rua, eu tinha que dividir o meu salário com ela. Sobrava pouco para mim e as crianças”
E depois de 10 meses trabalhando ela foi obrigada a sair do trabalho, pois seu ex-marido continuava a ameaçá-la. Mas a persistência e determinação não a abandonaram e para poder sustentar seus filhos foi trabalhar como diarista em casa de algumas famílias, foram quatros anos assim.
Mas a oportunidade chegou, foi contratada pela prefeitura entre 1984 a 1989 e sua vida começou a tomar novos rumos. Em 1990 ela fez o concurso da prefeitura, foi aprovada e até hoje desenvolve suas funções com muito carinho e dedicação.
Aliviada por estar em um emprego seguro, dona Carolina foi realizando algumas conquistas e participando do crescimento e da vida dos filhos, que também começaram a trabalhar para ajudá-la em casa. Hoje estão todos casados,a Gilcinei mora em Guarapuava, Giane no município catarinense de Jaraguá do Sul, Gilson possui um pequena empresa e Geneci, que é avó de João Davi, é funcionária no Nosso Supermercado, estes dois por morarem próximos, estão sempre junto dela nos finais de semana.
MEU CASTELO
Hoje ela contabiliza uma séria de vitórias, os filhos preferiram trabalhar para poderem ajudar e não continuaram os estudos. “Se eles quisessem se formar, fazer uma faculdade, a gente dava um jeito, mas não queriam e eu não insisti. Estão todos bem, trabalham, são pessoas honestas e de bem. Cada um tem seu cantinho, e sempre que podem, estão todos reunidos, principalmente no Natal e Dia das Mães. A que mora em Jaraguá do Sul demora mais tempo para vir e quando chega é uma alegria só. Ganhei um lote de uma das minhas irmãs. Está legalizado. A principio construí uma casa bem pequena e com o dinheiro que recebi de herança dos meus pais pude aumentá-la. Lá é meu castelo, meu lar, meu refúgio, o lugar que recebo os filhos, os netos, os amigos as pessoas que amo. Foi uma grande conquista ter meu canto”.
OS FILHOS DO CORAÇÃO
Após a efetivação na prefeitura, dona Carolina foi designada a trabalhar na antiga Benfan por cinco anos e no Lar do Idoso por oito anos. Depois foi removida para o 4º Pelotão de Policia Militar. “Troquei o lugar com outra servidora que estava doente e queria ficar no Lar do Idoso, vim para ficar um pouco receosa, jamais imaginei que ficaria por tanto tempo, pois estou aqui há mais de 20 anos”.
Em seus muitos anos de vida ela define que os 20 anos que está trabalhando no Pelotão é um capítulo especial. Adotou cada um dos policiais que por lá passaram ou que ainda desempenham suas funções. “Gostaria que nenhum partisse, que apenas chegassem e não fossem embora. Penso neles o dia todo, sei o que cada um gosta e o que não gosta. Presenciei muitas alegrias e fatos muito tristes também com eles devido à profissão que escolheram. É um amor incondicional, não sei explicar. Eles já me fizeram festa de aniversário surpresa e me ajudam muito, é uma família para mim. Considero todos como meus filhos do coração. Teve um período em que eu temia por eles, tinha medo de que saíssem para atender uma ocorrência e acontecesse algo com eles ”.
LÁGRIMAS
Relembrou que, quando chegou, o primeiro a cumprimentá-la foi o tenente Valdecir Biasebetti, hoje na reserva, na época era soldado Biasebetti e tantos outros que por lá passaram, uns ficaram anos, outros apenas alguns meses. Estas chegadas e partidas ela comparou a uma viagem de trem, alguns chegam, outros se vão e a viagem continua.
Mencionou a saudade que sente e tristeza na despedida do capitão Clever, mas não conseguiu segurar as lágrimas quando relembrou a despedida do Sargento Nilson, que ficou em Pinhão por mais de três anos. Chorou como uma criança, um pranto de tristeza ao recordar o abraço de despedida que recebeu dele. Repetiu que ama cada um deles, e em soluços falou que apesar do carinho de todos por ela, o sargento Nilson era muito especial, um filho, um amigo, uma pessoa muito querida e que faz muita falta. “Se eu tivesse a oportunidade de fazer um pedido, seria que o Capitão Clever e o sargento Nilson voltassem. E o tenente Caio, que chegou recentemente, também já não quero que vá embora”.
CONTAGEM REGRESSIVA
Passadas as lágrimas, ela confidenciou que quando entra em férias, já começa uma contagem regressiva para voltar às suas atividades. “E quando eu me aposentar, não sei como vai ser, será que a pessoa que vai ficar no meu lugar vai cuidar deles direitinho? Quando estou de férias fico pensando: será que a pessoa que está aqui tá fazendo o serviço certo, pois é gratificante ter uma ocupação, sair de casa e ter um trabalho a realizar”.
RECONHECIMENTO
O soldado Luciano Machado está no Pelotão há mais de dois anos e diz que a dona Carolina é de fundamental importância para eles. Realiza suas tarefas com afinco e responsabilidade, é uma mulher especial. “Temos um carinho muito grande com ela, nos dá o suporte necessário, faz com que tudo funcione, está sempre pronta para nos servir. O nosso bom trabalho na rua é também o reflexo dos bastidores. São 20 anos aqui no Pelotão, se um dia ela sair daqui, com certeza vai fazer muita falta. È uma mulher excepcional para todos nós”.
Com a historia de dona Carolina, que é um exemplo do ser mulher, o Fatos do Iguaçu homenageia todas as mulheres pinhãoenses e reservenses, que no seu dia a dia fazem a diferença nos seus lares, bairros, comunidades e município, com sua determinação, sensibilidade, garra e carinho.