Clícia Roquetto, uma mulher

Elegante, alegre por natureza, que tem um sorrisão cativante

Conversar com essa mulher é ter a certeza de que se poderá falar de vários assuntos.

Clícia é uma mulher que tem a fé como seu ponto de apoio e os pais seus grandes amigos e alicerce.

Uma mulher que até devido à profissão parece séria, durona, porém, tem um coração solidário, que se preocupa com o outro. Que ama muito os bichos.

Que se mostra como é direta, firme, de forma educada e elegante.

É perfeccionista, teimosa, nada pode ficar para amanhã e muito exigente consigo mesma com quem trabalha com ela.

É uma mulher simples, que não se impressiona com o ter do outro, mas é atenta ao ser de cada um que dela se aproxima.

Homenagem

Ao contar um pouco da história dessa jovem mulher, seus sonhos, realizações e pensares, Fatos do Iguaçu deseja homenagear a todas as mulheres do campo e da cidade, as que trabalham no lar e em todas as funções e profissões. Parabeniza  todas as mulheres que no seu fazer, sonhar e realizar vão tornando o mundo um lugar melhor de se viver.

Foto: Arquivo/Pessoal

Clícia Maria Roquetto Silva nasceu e se criou no interior de São Paulo, na cidade de São João da Boa Vista. É filha do casal José Expedito Lucas Silva e Cléria Maria Roquetto Silva e tem o irmão José Expedito Filho, “Sempre fomos muito amigos”.

A educação foi rígida

Foto: Arquivo/Pessoal

Clícia não nasceu num berço de ouro, mas cresceu num lar cheio de amor e carinho, acompanhado por uma educação rígida, “Minha infância foi feliz, meus pais eram rígidos, estudos sempre em primeiro lugar, nós íamos à missa nos finais de semana”.

Uma infância feliz

Uma educação rígida sim, que fez a diferença na vida da Clícia, mas ela brincou e se divertiu muito, “Cresci numa rua que tinha muita criança, que era sem saída, ali a gente se reunia depois da escola e brincávamos muito, amava brincar de boneca, minha infância foi tranquila e feliz”.

Ler sempre foi uma paixão

Desde pequena gostei de ler, uma paixão que trouxe para a vida e que me ajudou a conquistar o que tenho hoje”.

A vida muda

A tranquilidade da infância e adolescência é quebrada com algumas mudanças, no final do colegial, a família dela adquiriu sua casa própria, porém, num bairro afastado do centro. “Não nasci em berço de ouro, no ano que ingressei na faculdade, minha família passava por um momento financeiro complicado. Me lembro como se fosse hoje, que o valor da mensalidade pesava no orçamento familiar”.

Faculdade e trabalho vieram juntos

“Desde sempre quis fazer direito e ser juiza”, ela até chegou a ter um pensamentozinho em veterinária, “Eu amo bicho, cheguei a pensar em veterinária, mas gosto demais deles, não ia conseguir tratá-los, pois ficaria com dó (muitos risos).

Clícia passou no vestibular, foi cursar Direito na faculdade UNIFEOB, na sua cidade, mas a faculdade era particular … “Na época, era uma menina de 17 anos, cheia de sonhos e sem a menor ideia de como fazê-los acontecer. Cursei o primeiro semestre e não tinha conseguido pagar nenhuma mensalidade, precisava renovar matrícula, decidi pedir uma bolsa de estudo, assim passei a trabalhar na faculdade, ganhando uma bolsa que pagava 50% da mensalidade”.

Jogaram o sapo na água

Clícia fez os 5 anos do curso trabalhando, “Estudava no período vespertino, e após assistir as aulas, ia para a biblioteca, colaborar com os funcionários. Desde  pequena já “devorava” livros, e quando a Dona Nazaré  me disse que havia uma vaga na Biblioteca, ganhei um presente, passar parte dos meus dias rodeada de livros era uma felicidade sem fim”.

 

Essa mulher sempre quer ir além, resolveu participar da seleção para o  Escritório Modelo, do curso de Direito, “Passei por uma prova, uma entrevista, fui tomada por uma imensa alegria quando fui selecionada, a vida se complicou, passei a trabalhar de manhã na biblioteca, à tarde estava estagiando no Escritório Modelo e à noite assistindo as aulas, os trabalhos e estudo para as provas era de madrugada e nos finais de semana”.

Trabalhar foi

“Trabalhar na biblioteca foi maravilhoso, além de ser um lugar que amo, lá tinha acesso a tudo que precisava para estudar, pois, na época não tinha condição de comprar livros, além disso, eu tive nesse período muita gente boa que me ajudou e sou muito grata a elas e a Deus por esse momento da minha vida”.

Trabalho fez a diferença na vida

Esse trabalho foi o que a preparou para a vida profissional, “Aquele trabalho na biblioteca e aquela equipe de funcionários me ensinaram o companheirismo, a ter responsabilidades, a atender bem as pessoas, a trabalhar em equipe, entrei ali como uma menina tímida, sem experiência profissional e com a ajuda de pessoas incríveis, fui me tornando uma mulher dinâmica e preparada para enfrentar os desafios da vida”.

Novos desafios

O primeiro fruto que a jovem Clícia colheu da sua dedicação ao estudo foi passar na OAB na primeira vez que realizou as provas.

Após formada, em 2008, veio um novo desafio, como Clícia tinha vontade de seguir a carreira da magistratura, decidiu ir para São Paulo, “Parti para estudar na Capital. Morar em São Paulo foi uma experiência desafiadora, diividir apartamento com pessoas que não conhecia muito bem, comecei uma pós na Faculdade de Direito Damásio de Jesus, ao mesmo tempo que fazia um cursinho voltado para concursos públicos”.

Isso só foi possível porque ela teve o apoio da família, “A minha vó materna sempre viveu num sitio, como ela já estava com uma certa idade e não conseguia tocar mais o sítio e nenhum dos filhos, inclusive a minha mãe conseguia tocar, ela decidiu vender e vir morar na cidade. Ela já dividiu o valor do sítio entre os filhos e com esse dinheiro a minha mãe pagou um ano do meu curso de pós na Damásio”. Ela fez questão de complementar, “Sou grata muito grata a ela, a meus pais, hoje na situação que a minha família se encontra não teríamos deixado ela vender, mas, não época, não podíamos ajudar, foi o melhor a ser feito”.

São Paulo

“Ir para São Paulo foi uma loucura, eu nunca tinha saído da minha cidade, tinha ido para São Paulo umas duas vezes nessas excursões de escola. Fui morar com mais 3 meninas que eu não conhecia, era longe do cursinho, como vivia da mesada dos meus pais, para economizar, não pegava o metro, eu ia a pé, eram 50 minutos caminhando para ir e 50 para voltar. Eu ia de manhã e voltava à noite.

Depois de um ano, fui morar com outras duas meninas numa quitinete que tinha um quarto, mas era perto do cursinho, depois fui morar com outras meninas, somos amigas até hoje”.

Não perdeu oportunidade de aprender

Clícia recebeu o convite do juiz e professor Dr. Ricardo Chimenti para integrar sua equipe de conciliadores do Fórum João Mendes, aceitou e teve que conciliar esse trabalho com os estudos. “O período que morei em São Paulo não foi fácil, todas as experiências vividas lá me ajudaram a amadurecer.

Mudança de rumos

Eu queria muito fazer o concurso para juiz, fui para São Paulo estudar para fazer o concurso para juiz, além de estudar eu tinha que ter 3 anos de prática exercendo a advocacia”.

Porém, a vida tem suas artimanhas, uma conversa muda os sonhos da jovem Clícia, “Um dia estava sentada nos degraus do Complexo Damásio, quando um colega me perguntou, “Clícia você não quer prestar concurso para cartório?”, respondi rápido, não, mas ele insistiu, eu disse mas eu nem sei o que faz um cartorário, ele me falou, com entusiasmo, sobre o concurso, me explicou a importância da carreira, resolvi tentar a sorte”.

Precisou de muita dedicação

Uma das características dessa jovem mulher é a dedicação e a busca pela perfeição e a autocobrança, assim, não tinha como prestar um concurso às cegas, sem conhecer, “Não passava pela minha cabeça ir lá só fazer uma prova, mas, continuava sem grana, precisava estudar, disse para o meu amigo: agora você vai ter que me emprestar os livros, ele me emprestou, porque tinha todos os livros, me dediquei e estudei muito e fui me apaixonando pelo tema”.

Lambari

“Lembro da alegria que tomou conta de mim em 2009 ao ver meu nome na lista de aprovados no concurso para Notários e Registradores do Estado de Minas Gerais. Liguei para meus pais e dividi com eles toda aquela felicidade. Ah, meus pais… eles sempre foram minha base e meu ponto de equilíbrio”.

Porém, não foi fácil

A vida é sempre complexa, mesmo concursada à frente de um cartório, a vida não ficou fácil, “O cartório era numa cidade bem pequena em Lambari/MG, fiquei 5 anos, trabalhando sozinha, sem funcionário, era uma salinha bem pequena, na verdade eu aluguei um apartamento e usei a sala para ser o cartório, era difícil, o que entrava de rendimento no cartório era muito pouco”.

O rendimento financeiro era pouco, mas o gosto pelo trabalho de cartorária foi crescendo, “Eu não sabia quase nada quando assumi, fui aprendendo, estudando e fui gostando e decidi que não queria mais ser juíza”.

Clícia se encontrou no cartório, descobriu que era isso que queria fazer, mas, as dificuldades econômicas continuavam, “Eu não tinha nada, nada mesmo, tive de comprar um carro para fazer as notificações, comprei em 60 parcelas, um gol duas portas, bem básico, nem ar condicionado tinha, mas era meu, paguei inteirinho, às vezes meu pai me ajudava com a prestação do carro”.

Podia ajudar

O que me fez ir gostando é que fui vendo que o meu trabalho ajudava as pessoas, trabalhava com as associações e pessoas muito simples, ajudava as pessoas explicando o que elas precisavam fazer, isso me fazia bem”.

Pinhão

Ela ficou 5 anos à frente do cartório em Lambari, mas sabia que para crescer, organizar a sua vida precisava sair de lá, assim continuou estudando muito e fazendo concurso, inclusive no Paraná, passou em 2017, escolheu o cartório de Registro de Imóveis de Pinhão.

Foto: Arquivo/Pessoal

Trabalhar com cartório eu já sabia que era minha realização profissional, mas, quando decidi vir para Pinhão foi difícil, chorei muito, porque tinha muitos amigos em Lambari, lá eu estava a 200km da casa dos meus pais, aqui passaram a ser 800 km, mas vim, sozinha, só com a minha cachorrinha Cacau e não conhecia ninguém, decidida a ficar e fazer minha vida aqui”.

Me sinto em casa

“Eu não me sinto deslocada aqui em Pinhão, sinto que posso fazer a diferença na vida das pessoas. Sou muita grata a Deus por estar aqui”.

Uma desconfiança no olhar

Mesmo se sentido no lugar certo, Clícia conta que não foi fácil, “Nos 6 anos à frente do cartório, amadureci, cresci, no começo ficava visível no olhar de algumas pessoas que elas achavam que eu não era capaz.

A força que eu tenho dentro de mim de fazer as coisas dar certo, tornava olhar de dúvidas das pessoas em um estímulo para trabalhar e estudar mais, mostrar que elas estavam erradas”.

Cartório é mais que assinar e carimbar

Foto: Arquivo/Pessoal

“As pessoas acham que no cartório a gente só bate carimbo (risos). Elas não veem a função social do cartório de esclarecer, auxiliar as pessoas a protegerem o que é seu.

O trabalho lá é dinâmico, cada dia tem uma situação, um problema novo a resolver, cada manhã é uma surpresa, nunca sei o que vou enfrentar. Pinhão tem todas as situações em relação à regularização fundiária.

Para mim, cada situação é um desafio, quero resolver o problema que a pessoa me traz, porque é importante para ela.

Foto: Arquivo/Pessoal

O cartório de registro de Imóveis é um dos motores que pode impulsionar o desenvolvimento do município, como no de título e notas

Os planos de Deus

Clícia é uma mulher de fé, que tem em Deus seu grande alicerce, que se entrega aos planos de Deus, “Os nossos planos às vezes não são os planos de Deus, foi sem querer que eu vim para a área do cartório, mas sou muito feliz e grata a Deus por trabalhar nessa área”.

Ter fé é o que nos alimenta todos os dias, é o que me faz sair da cama, agradecer e ter consciência que tudo que acontece na minha vida sem a permissão de Deus não ia acontecer. Com a fé, você aceita os desafios com mais tranquilidade, é onde eu encontro a minha força todo dia.

Leitora virou escritora

Ela que sempre leu, muito foi convidada a escrever sobre a área que atua, “Fui convidada e escrevi 3 livros na área notarial e registral para a editora Rideel”.

Ser Mulher

Foto: Arquivo/Pessoal

“Eu não me lembro de ter sofrido discriminação por ser mulher. Nunca vi o ser mulher como uma dificuldade, ou que me desprestigiasse frente a qualquer coisa que me propusesse a fazer, acredito que nós mulheres, temos uma força interior muito grande.

Gosto muito de trabalhar com mulheres, o meu quadro hoje é 100% de mulheres, a mulher presta mais atenção, é mais cuidadosa, detalhista, como profissionais, as mulheres são muito dedicadas

Ser Mulher Clícia e dona Cléria

Há uma grande diferença entre o meu ser mulher e o da minha mãe, ela cresceu numa época que a preocupação das famílias era arrumar um bom casamento para as filhas. Inclusive, naquela época, uma mulher que não formasse uma família era considerada uma pessoa não realizada, incompleta.

Mas, mesmo sendo fruto desse pensamento, ela me criou me incentivando a estudar, construir minha vida e independência financeira para depois pensar em casar, ela queria que eu namorasse só depois que terminasse a faculdade, (muitos risos).

Foto: Arquivo/Pessoal

Meus pais me trataram meu irmão da mesma forma, nos deram as mesmas oportunidades e sempre nos incentivando a voar.

Nossas vidas e o nosso ser mulher foram se formando em tempos diferentes.

A minha mãe ama limpar a casa, eu não gosto de limpar a casa. Hoje eu tenho uma profissão, sou independente, viajo sozinha, me sinto muito inteira e realizada como mulher.

Recado às mulheres

Eu acredito que a primeira coisa é a mulher ter fé que ela vai chegar aonde ela deseja, muitas mulheres não tem noção da força que há dentro dela, nós somos capazes de vencer qualquer obstáculo.

Estudar é essencial é a educação que muda a vida das pessoas, as mulheres precisam buscar uma formação,  só estou onde estou porque estudei. Muita fé em Deus e gratidão sempre por tudo, pelas menores coisas.

Recadinho à menina Clícia

Foto: Arquivo/Pessoal

Se me encontrasse comigo lá brincando, feliz na minha rua, diria: Acredite em você, segue que vai dar certo, pode fazer tudo igual, a gente erra, dei um monte de cabeçada, mas elas também me trouxeram até aqui. Pode seguir e ficar em paz porque você vai chegar aonde você quer. Mas, não faça muitos planos porque os teus planos não serão os de Deus.

Gratidão sempre

Clícia se mostrou uma mulher espiritualizada e muito grata a Deus, “Minha relação com Deus é direta, é de conversar todo dia, pois eu o vejo como meu grande amigo. Deus nos coloca onde precisamos estar, seja para aprender ou ensinar. Inclusive, sinto que não estou em Pinhão à toa, Deus me trouxe aqui porque tenho um trabalho a fazer, sei que vou conseguir realizar porque ele está comigo”.

Clícia é uma mulher

Foto: Arquivo/Pessoal

Realizada na questão profissional, não teria outro lugar melhor para estar do que onde estou, sou grata a Deus, me confiou uma responsabilidade muito grande, mas sou grata por esse desafio.

Gosto do que faço, meu trabalho me permite ajudar os outros. Com ele consigo ter uma vida confortável, tranquila, proporcionar bem-estar aos meus pais que são tudo para mim.

Se estou onde estou é porque eles me deram base, me incentivaram, acreditaram em mim.

Estar em Pinhão trabalhando, lutando pela questão da regularização fundiária, que é de interesse social, não me traz lucro, é ao mesmo tempo um desafio e uma realização pessoal, pois esse trabalho vai ajudar as pessoas e o município crescerem.

Me sinto realizada porque estar aqui não foi fácil, precisou foco e determinação, deixei de ir a muitos casamentos, curtir os finais de semana para estudar, cheguei aqui porque me dediquei.  Hoje, faço mestrado, estudo nos livros que eu posso comprar, isso é o máximo para mim.

Sonhos

Não tenho sonhos em ter isso ou aquilo, quero terminar meu mestrado, ajudar e estar próxima ao máximo que eu puder dos meus pais.

Meu grande sonho hoje é contribuir para resolver problemas da regularização fundiária de Pinhão.

Gosto de viajar, quero viajar muito com os meus pais, meu sonho mesmo é ser uma pessoa boa e ser lembrada pela pessoas como uma pessoa boa.

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