São tempos estranhos, medonhos, ou no mínimo, “diferentes. Mas até num tempo desse, dá para descobrir muita coisa.

Muitos pais e mães descobriram o tamanho da importância das creches e escolas na vida dos seus filhos, e na sua própria vida e organização. Mas também descobriram o quanto é bom e necessário estar com os filhos, não apenas sustentá-los, mas conviver com eles! Pais e mães descobriram ainda o quanto professores são importantes e necessários para que seus filhos aprendam. Mas descobriram, outrossim, o quanto podem ensinar aos seus filhos, mesmo sem ter formação escolar, podem e devem ensinar aos seus filhos com amor a paciência, e que isso sim é ser pai e ser mãe!

Muitas crianças e adolescentes descobriram que a escola “chata”, para onde não queriam ir muitas vezes, faz uma falta danada. E que até mesmo os professores chatos, têm sua importância, é bem mais fácil aprender com eles. Mas descobriram também capacidades que jamais pensaram ter: estudar na frente de uma tela, fazer atividades sem “espiar” o colega, fazer as coisas sozinho e obter bons resultados nisso!

Muitas famílias descobriram que o bacana dos finais de semana não era a comida, a bebida, as fotos, o carro de cada um, o celular que cada um carregava, as roupas e maquiagens que cada um escolhia para as reuniões. O que tornava os encontros eram as pessoas. A presença, o contato, as risadas, as piadas. E também descobriram que ficar em casa de vez em quando, o casal e filhos, não se reunir sempre, também nos une. Une o casal e filhos, sem tanto trânsito de parentes e amigos no lar, e une também com os outros membros da família, pois a saudade faz desejar de fato estar com as pessoas quando possível.

Muitos casais descobriram que a vida pode ser mais do que o futebol dele e a academia dela, que “a cervejinha com os amigos dele” e o chimarrão dela com as amigas (ou vice versa). Isso faz parte da vida também, mas os casais descobriram que ficar em casa, a dois, pode ser tão reconfortante e proporcionar tanto relaxamento quanto qualquer atividade que os separe.

Muitos trabalhadores descobriram que a labuta diária, por mais que a gente se canse, reclame, é importante demais na nossa vida. E não falo da importância financeira, mas sim daquela rotina (criticada, mas necessária), aquele compromisso diário que nos faz focar em algo importante. Mas descobriram também que trabalhar e ganhar dinheiro não é tudo. Que a saúde da gente, dos nossos entes queridos, vale muito mais do que nosso salário. É preciso equilibrar!

Eu espero que muitos patrões tenham descoberto o tamanho da importância dos seus trabalhadores para suas empresas. O que adianta ter lojas, prédios, escritórios, salões, se não tem quem os abra de manhã e receba os clientes? De que adianta frotas de caminhões, tratores, se não tem quem os ligue de manhã e os guie? De que adianta ser uma empresa premiada e reconhecida, se não tem ninguém lá para fazer a máquina girar? Espero mesmo que tenham descoberto que não adianta produzir de tudo, ter de tudo para vender, fazer e acontecer, sem os seus colaboradores para que vendas se concretizem, viagens sejam realizadas, lavouras sejam colhidas, produtos sejam transportados, clientes atendidos.

Muitos consumidores descobriram que comprar é bom, andar pelo comércio é necessário, e que devemos sim ir atrás do que precisamos. Mas tenho certeza que muitos descobriram que estavam levando isso a um nível de escravidão. Podemos sim passar mais tempo com o que temos, aproveitar melhor aqueles artigos que já conquistamos. Comer em casa num sábado à noite pode não ser algo terrível. Não precisamos estar sempre gastando para sermos felizes, essa mentira foi colocada na nossa cabeça, mas ela só existe para dar mais lucro a quem vende. Descobrir um novo modo de consumir é necessário para nós, e para o meio ambiente!

Quantos descobriram o prazer de fazer uma horta, de cozinhar e inventar receitas, de reaprender um bordado, um crochê, um artesanato! Quantos descobriram o prazer de uma faxina em família, de fazer pequenos reparos em casa, de lavar o próprio carro! Quantos descobriram que pedir um lanche é bom, mas fazer uma comidinha juntos, e comer juntos pode ser ainda melhor!

Quantos descobriram a importância dos idosos, ao verem a fragilidade deles perante a doença, e a possibilidade de perdê-los? Quantos que só criticavam servidores públicos, trabalhadores da saúde, do comércio, da educação, e descobriram a importância desses trabalhadores para o nosso dia a dia? Quantos falavam muita bobagem, e descobriram a importância da ciência, das Universidades, da pesquisa para a busca de uma cura, de uma vacina? Quantos descobriram no medo, no pavor, no desespero, um caminho para se reencontrarem com Deus, com a religião verdadeira, aquela que nos mostra o quão frágeis somos, e não superiores aos outros? É claro também que muitos descobriram que podiam ser piores do que já eram, se transformando em masoquistas, negacionistas, sádicos do sofrimento alheio, mas não quero dar mais “Ibope” para essa gente de mentalidade pequena.

O momento que atravessamos é muito ruim, em vários aspectos. Precisamos ter essa consciência sempre, muitos adoecidos, sofrendo, internados, e outros tantos que não resistiram. Esse confinamento desesperador, esse medo do contágio, e muitas vezes uma sensação de que nunca vai passa. Vai passar, e ainda podemos tirar essas lições, e fazer descobertas que estavam escondidas por trás da cortina da “normalidade” que nos impuseram. E você, o que descobriu?

José Carlos Correia Filho – professor de História      #SePuderFiqueEmCasa     #Cuide-se

   

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