24 de janeiro de 2020

EDITORIAL

                    Rapidez na justiça, porém, é preciso ir muito além

Em menos de 90 dias o processo do assassinato da professora Franciely chegou à mão do juiz e esse aceitou a denúncia contra seu ex-esposo, e pelo andar da carruagem, muito em breve ele estará sentado no banco dos réus.

Isso é bom, pois rapidamente se está dando à sociedade uma resposta e dizendo aos homens que acreditam que são donos de suas namoradas, esposas, companheiras que a justiça pune aqueles que pensam que podem tudo em relação a uma mulher, inclusive tirar-lhe a vida.

Porém, o que de fato é importante, é que a sociedade reflita sobre esse crime que chocou todos. A reflexão deve ser no sentido de buscar compreender qual é a formação que se está dando aos homens que eles não conseguem aceitar o “não dá mais”, que os leva a se acharem deuses, que decidem se uma mulher vive ou morre.

Bem como pensar o que está se ensinando as mulheres que elas não conseguem reconhecer no homem os sinais de um ser violento, porque a violência nunca inicia com socos ou tiros. Ela inicia com não pode isso, não pode aquilo, com pequenos gestos que inibem, machucam, mas de leve, que tolhem a autoestima.

É preciso que se discuta essa formação que leva as mulheres sempre acharem que tem que perdoar tudo até os empurrões e bofetões. Que formação é essa que ensina as mulheres a se empoderarem para ir para o mundo do trabalho disputar cargos de lideranças, a serem mães que defendem seus filhos como leoas, mas não a ensinam a dizer não e basta aos pequenos gestos de violência.

Que não ensina que amor que tolhe, que humilha, que afasta de amigos e familiares não é amor, é obsessão, é doença, é qualquer coisa, menos amor. Com urgência  a comunidade precisa se unir para buscar caminhos para diminuir e quiçá acabar com a violência doméstica, com o feminicídio.

É preciso que lideranças da sociedade civil, que as autoridades do judiciário, do ministério público, da polícia civil e militar, que poder público, lideranças políticas, religiosas, educacionais, ou seja, que a sociedade passe a pensar e agir junto sobre a violência contra a mulher.

Não é um trabalho fácil e nem será rápido, pois é trabalhar para que ocorra uma mudança cultural, é preciso extirpar o machismo e reensinar homens e mulheres a conviverem. É preciso agir antes que novo feminicídio ocorra e choque novamente o município.

Esse agir não pode ser isolado, é preciso ser articulado, como a mudança será lenta e vagarosa é preciso encontrar meios mais eficazes do que os que já se tem para proteger a mulher que decide quebrar o ciclo da violência.

É imprescindível olhar para homens e mulheres e ver ambos como vítimas de uma cultura machista, sem endemoniar um e endeusar outro. O caminho é longo, o caminhar é urgente, o agir é imprescindível, pois os resultados e transformações serão lentos, mas se não for iniciado o processo de mudança, nunca acontecerá.

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