O livro: ” Vitor Hugo chez lui”, inclui a curiosa visita, Realizada pelo Imperador, a 22 de Maio de 1877, ao célebre poeta.
Não li a obra, mas a tradução, que Ramalho fez a 30 de Julho, para a ” Gazeta de Noticias”; mais tarde incluída, pela Livraria Clássica Editora, em: ” Notas de Viagem”.
- Pedro II desejava, ardentemente conhecer Vítor Hugo, em pessoa, mas receava comparecer em sua casa.
Resolveu, então, pedir-lhe, através da embaixada brasileira, se lhe dava a honra de o vir visitar.
Respondeu-lhe Vítor Hugo, que não ia a casa de ninguém.
Combinaram, todavia, encontrarem-se no Senado; mas também não se concretizou.
Uma manhã, pelas nove horas, o Imperador, pôs de parte o receio e o protocolo, e bateu timidamente, à porta da casa de Vítor Hugo.
Segundo a tradução livre de Ramalho, o encontro decorreu deste jeito:
– ” Peço-lhe Sr. Vítor Hugo, que me diga uma palavra de animação; acho-me cheio de timidez” – disse D. Pedro.
O poeta ofereceu-lhe, gentilmente, um fauteuil.
- Pedro II agradeceu, e continuou:
– ” Sentar-me em um fauteuil ao lado de Vítor Hugo, eis o que verdadeiramente me produz o efeito de ocupar um trono.”
E falando das monarquias, prosseguiu:
– ” É preciso, não queremos demasiadamente mal aos meus colegas: são homens de tal forma rodeados, de tal modo traídos, por tal forma enganados, que na verdade eles não podem pensar como a gente pensa.”
Ao que Vítor Hugo, respondeu:
– Oh! Vossa Majestade é único…felizmente
Como D. Pedro mostrasse gosto de conhecer a família, Vítor Hugo mandou chamar os netos, que como avô, dedicara-lhes o livro: ” L’Art D’être Grand-Père”:
“Jeanne (menina de olhos azuis, que o poeta amava enternecidamente) apresento-te o Imperador do Brasil.”
E logo de seguida:
– ” Tenho a honra de apresentar, meu neto Jeorge.”
O Imperador fez-lhe um carinho, e:
-” Aqui, meu jovem amigo, não há senão uma majestade; é a do seu avô.”
E virando-se para Jeanne:
– ” Queres dar-me o prazer de me abraçar?…
Deu-lhe a face para o Imperador beijar.
-“Então?… vamos, abraça-me tu, que é o que eu te peço!”
Jeanne (a medo) abraça o pescoço de D. Pedro.
-“Bastará – Jeanne, bastará! Creio que não quererás dar o luxo de começar o teu dia esganando um Imperador!…”
A conversa continuou:
Contou-lhe, o poeta, a sua vida e seus hábitos, em Paris: todos os dias após o almoço dava uma volta pela cidade, no alto de um ómnibus. Prazer que o Imperador não podia…
-” Privado, eu, de trepar ao alto dos ómnibus. Mas de modo algum! É precisamente no alto dos ómnibus que eu tenho o meu lugar – um lugar de imperial.” – Disse D. Pedro.
Vítor Hugo interroga-o se não receava sair tanto tempo do Brasil:
– ” Não: eu sou substituído no Brasil por gente que vale tanto e que vale mais de que eu. Além do que, não perco o meu tempo aqui. Reino sobre um povo jovem e é principalmente em o esclarecer, em o guiar, em o melhorar, em o fazer progredir que eu desejo usar dos meus direitos…Ou antes…Não me exprimi bem…Eu tenho direitos. Do que uso apenas é do poder que recebi do acaso, da sorte e da herança da família.”
Vítor Hugo amaciando a voz:
-” A família de Vossa Majestade é venerável. Vossa Majestade é um filho de Marco Aurélio.”
O aprazível encontro durou meio-dia. D Pedro foi convidado a jantar, no dia seguinte. Vítor Hugo oferece-lhe o último livro, com dedicatória: ” A D. Pedro de Alcântara, Vitor Hugo.”
Depois desta visita, a família de Vítor Hugo, tornou-se grande amiga do Imperador.
Os diálogos apresentados, foram transcritos, literalmente do livro: “Vitor Hugo chez lui”, segundo a tradução livre de Ramalho Ortigão.
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