Sempre existiu amizade, entre os Imperadores e a população da cidade da Virgem; e desta, pelas terras de Vera Cruz, pois muitos foram os portuenses, que fizeram fortuna no Brasil.
Seu pai, D. Pedro I, chegou mesmo a legar, ao burgo tripeiro, o coração, grato pela forma como sempre foi recebido nessa cidade.
D. Pedro II realizou duas visitas à cidade do Porto.
Na primeira, foi recebido apoteoticamente pelo povo, que com entusiasmo O aplaudiu ao longo do trajecto, entre a estação ferroviária das Devesas, em Gaia, e a cidade do Porto.
Na segunda, o Imperador, viu falecer, no burgo portuense, a Mulher (filha do Rei Francisco I,) o que agravou, ainda mais, a aflitiva angustia em que vivia, pela afronta que lhe fizeram ao destrona-Lo. Ele, que sempre foi correcto, justo, pronto a perdoar a todos mesmo aos antagonistas.
Acerca de D. Pedro II, Ramalho Ortigão, escreveu, em Junho de 1971, nas “Farpas”,Vol. XII:
“O Sr. D. Pedro II cultivou o seu talento: é filólogo, é naturalista, conhece a história, a filosofia, a química, a medicina. De sorte que, quando um grande homem faz um discurso ao imperador, o imperador remunera-o fazendo um discurso ao grande homem”
Existe interessante livrinho, impresso em Coimbra, no ano de 1872, intitulado: “ Viagem dos Imperadores do Brasil em Portugal”, que minuciosamente descreve a primeira estadia do Soberano:
Desembarcou, o Imperador, no dia 1 de Março de 1872, pelas seis e meia da manhã, vindo de comboio, na estação das Devesas (Gaia), sendo recebido pelas autoridades e muito povo. A banda de música do Palácio de Cristal, animou a recepção.
Seguiram os Soberanos, para o Porto, atravessando a bela Ponte Pênsil, que fora engalanada de vistosas bandeiras, assim como todas as artérias, por onde passava o Imperador, com: galhardetes, arcos e bandeiras.
Nesse mesmo dia, visitou, na Igreja da Lapa, o mausoléu, que contem o coração de D. Pedro – Seu Pai.
Deslocou-se depois: à Igreja de S. Francisco, à Igreja da Misericórdia, ao antigo Convento de S. António, em S. Lázaro e à Academia de Belas Artes.
À noite D. Pedro II concedeu, no Hotel do Louvre – que ficava na esquina da Rua do Rosário e a Rua do Triunfo (actual D. Manuel II) – recepção, a numerosos convidados, que durou cerca de duas horas.
Assistiu, de seguida, no teatro Baquet, à comédia de Machado de Assis: “ O Caminho da porta”.
No dia seguinte, o Imperador, aguardava, no hotel, a visita do romancista Camilo Castelo Branco, mas este desculpou-se de não estar presente, invocando motivo de saúde.
Sem vaidade, simples, como sempre foi, D. Pedro II, resolveu deslocar-se à casa do escritor.
Luiz Oliveira Guimarães, em: “ O Espírito e a Graça de Camilo” – Edição Romano Torres – 1952, – conta-nos o curioso encontro:
“ Em 1872, Camilo que morava, então, no Porto, na Rua de S. Lazaro, foi visitado pelo Imperador do Brasil, que o condecorou com a Ordem da Rosa. Na pequena sala do romancista, havia, pendurados na parede, além de vários retratos dos Braganças , o retrato do poeta Béranger. O Imperador detinha-se a examinar a pequena galeria, quando Camilo observou:
“ – Vossa Majestade está a contemplar os retratos dos seus avós…
“-Mal imagina, meu amigo, em que eu estou a reparar! Estou a reparar que Béranger tem expressão muito mais feliz do que os meus antepassados…
“ – E sabe Vossa Majestade porquê?
“ Porque é menos perigoso fazer versos, do que decretos!”
Mais tarde o escritor dedicar-lhe-ia o romance: “ Livro de Consolação”.
A segunda visita e última à cidade, pelo D. Pedro II, foi, como disse, angustiosa e dramática:
D. Pedro II hospedou-se no Hotel do Porto, na Rua de Santa Catarina. A Imperatriz, muito doente, faleceu, a 28 de Dezembro de 1889, dizendo angustiosas palavras de tristeza: “Ó Brasil… minha terra tão linda e não me deixam lá voltar!…”
Era preciso translada-La para o Panteão de S. Vicente (de Fora) em Lisboa. O Imperador não possuía a quantia necessária.
O médico, Mota Maia, condoeu-se da atroz aflição, e foi contar ao Cônsul, o embaraço de sua Majestade. Este, movido de compaixão, lembrou-se do Visconde de Alvares Machado, homem rico, que fizera fortuna no Brasil.
Avisado pelo Cônsul, o Visconde, prontamente emprestou a quantia solicitada – vinte contos fortes.
Deste modo evitou-se o constrangimento de se pedir empréstimo bancário, e que a noticia caísse no domínio publico.
Doente, amargurado, triste, o Imperador (e Família,) partiu para o exílio, onde faleceu, a 5 de Dezembro de 1891 – com 66 anos de idade, – no hotel Berdford, em Paris.
D. Pedro II era um homem culto, inteligente, notável intelectual, admirado e respeitado em todo o mundo.
O prestígio granjeado pelo Imperador, levou o governo republicano de França a realizar as exéquias só prestadas a Chefes de Estado, na igreja Madeleine.
A urna, que continha terra brasileira, terminada a cerimonia, foi transportada, de comboio, para Lisboa, onde foi sepultado no mausoléu Real de São Vicente de Fora, ao lado de Sua Mulher, a Imperatriz Tereza Cristina Maria.
Trinta anos depois da sua morte, era proclamada a lei do banimento, que permitiu, que os restos mortais do Imperador e Sua Mulher – a 8 de Janeiro de 1921, – fossem trasladados para Petrópolis, Brasil.
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