Que Camilo não foi exímio poeta, é sobejamente conhecido. O maior prosador português, escreveu, todavia, poemas que merecem ser lidos.
Para mim, o melhor, é: “ Os Amigos”, que relata, em verso, o que é a vida e o comportamento humano.
Na hipótese de haver leitor, que o não conheça, apesar, de a cada passo, ser citado em seletas, vou transcreve-lo:
Os Amigos
Amigos, cento e dez ou talvez mais
Eu já contei. Vaidades que sentia:
Supus que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal ente os mortais!
Amigos, cento e dez, tão serviçais
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que já farto de os ver me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.
Um dia adoeci profundamente:
Ceguei. Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.
-Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver!…
– Que cento e nove impávidos marotos.
(Da Revista Ilustrada)
Frequentemente abordo a “ ingratidão” e louvo a amizade de quase todos os caninos.
S. Paulo avisou Timóteo: que nos últimos dias haveria homens: “ desobedientes aos pais e mães, ingratos, profanos” – 2Tm3:2
Será que estamos nos últimos dias? Não sei. É perigoso especular sobre o tema, já que a Bíblia tem passagens obscuras, de difícil interpretação, sobre a Parusia e a Escatologia.
Muitos versículos do Livro Sagrado, diz Daniel: “ estão fechadas e seladas até ao fim dos tempos” (Daniel:l2,9)
É, portanto, para o leigo, arriscado tentar interpretar as palavras enigmáticas; mesmo teólogos experimentados se enganam.
Para mim a profecia, que mais me impressiona é a revelada em: Deuteremónio:30:1,5 – que relata o regresso dos judeus à Palestina:
“O Senhor, teu Deus, te reconduzirá à terra que possuíam os teus pais e te dará a sua possessão”.
Além dessa profecia, existem outros sintomas do fim do mundo. Se abrires a tua Bíblia, lá as encontrarás; mas não é meu propósito relatá-los, visto não ser exegeta para o fazer com autoridade.
Apenas pretendo falar da ingratidão que grassa pelo mundo: filhos abandonam os pais ao cuidado de estranhos; e netos maltratam os avós e pais, com palavras e atos.
Camilo lamenta-se que tendo numerosos amigos, perdendo a saúde e a influência, que possuía, não restou um só, que o fosse reconfortar.
O que aconteceu ao genial escritor, acontece a todos nós.
Quando se ocupa cargo de relevo, e a mass-media louva, a nossa casa parece a de Job, mas uma vez caídos em desgraça ou afastados por aposentação, os “amigos” desaparecem: – “ O que vamos nós lá fazer?” Já não nos pode ser útil!… – Dizem.
Outros, após receberem benesses, viram as costas, e declaram: – “ Já não preciso dele para nada!…”Mas já precisaram…
É pela ingratidão humana, que muitos preferem a amizade dos cachorros.
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