Edmund Burke dizia, de modo lacônico, que os jornais seriam o quarto Estado. E ele tinha toda razão ao afirmar isso. Aliás, podemos dizer que tal observação é de conhecimento comum nos dias de hoje. Todos sabemos disso e, não é à toa que os grandes conglomerados de mídia ficaram passados, e continuam bem preocupados, com a perda do controle que eles tinham do seu, como direi, “feudo informacional” com o advento das mídias digitais.

Doutra parte, Napoleão Bonaparte, a partir da gélida atmosfera da sua mente de estrategista, afirmava que quatro jornais hostis seriam mais temíveis que mil baionetas. Ele sabia muito bem que o controle do fluxo de informação era, e continua sendo, uma peça de artilharia política poderosíssima e, por isso, procurava fazer o que todo tirano mais ama fazer: controlar o fluxo e o refluxo das informações que, em português bem claro, não passa de censura pura e simples, mas que, atualmente, em meios mais engajados e sofisticados, passou a ser chamado de “controle social da mídia” e “sistema de controle de fake news”. Os nomes são fofos, mas a parada é a mesma.

Fora das esferas do poder, o escritor Mark Twain aconselhava, sarcasticamente, como de costume, a quem tivesse ouvidos para ouvir, e olhos bem abertos para ler, que não é bom, nunca é bom comprar uma briga com quem compra boleiras de barris de tinta. Bem, hoje a tinta não mais é necessária para que as notícias, sejam elas verdadeiras ou falsas, caluniosas ou elogiosas, circulem pelos quatros cantos do mundo, e o estrago ainda pode ser muito, mas muito mais poderoso do que podemos imaginar.

Digo isso tendo em vista que não apenas as mudanças cavalares que ocorreram na forma como produzimos informações e a maneira como elas circulam na atualidade, mas sim, pelo fato de que tais transformações acabaram por transubstanciar a forma como nós consumimos essas tranqueiras que, de quebra, transformou de forma significativa a nossa maneira de ser e conviver.

Um bom exemplo disso, penso eu, são os chamados linchamentos virtuais que envolvem tanto a grande mídia como os enxames anônimos de haters que pipocam pelos ares da plúmbea atmosfera digital.

Detalhe importante: não refiro-me aqui às trocas de farpas que internautas trocam uns com os outros, muito menos às tretas que são protagonizadas por figuras públicas. Nada disso. Refiro-me mesmo a destruição da reputação de inúmeras pessoas que – por conta de uma besteira que foi dita de maneira impensada, ou escrita de forma irrefletida, e de um modo meio abestado – tem suas vidas literalmente destruídas porque, “sacumé”, o enxame digital não perdoa nunca e, a grande mídia, jamais se arrepende ou pede francas escusas.

Há alguns casos que são realmente emblemáticos onde a vida do sujeito é demolida de alto a baixo por conta dele ter sido acusado de algo que ele não é. Não apenas isso. Seus detratores sabem que ele não é, a grande mídia também sabe disso, os haters sabem que ele nunca foi e, mesmo assim, todos continuam agindo no ritmo ditado pela histeria coletiva do enxame que, de forma inclemente, tanto condena de forma caprichosa como corrompe a alma e o discernimento de todos aqueles que participam desse tipo de espetáculo dantesco, crendo piamente que, com isso, estão tornando a sociedade mais justa e transformando o mundo num lugar “mais mió de bão”, só que não.

E, algo me diz, que não adianta nadica de nada apelar para a consciência individual daqueles que se entregam a tal desfrute, tendo em vista que, ao que tudo indica, o enxame devorou-a todinha –  com molho barbecue – e tomou o seu lugar, alienando-as de si, da vida, tudo e de todos, sem que eles percebam no que eles se transformaram.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

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