Por Dartagnan da Silva Zanela (*)
O GRANDE PROBLEMA DO NOSSO PAÍS, do nosso não tão amado Brasil, é que seus problemas, grandes e pequenos, são praticamente insolúveis. E o são não porque as soluções não existam ou que as mesmas sejam impensáveis. Não é nada disso não. Aqui, nessa terra de botocudos, qualquer probleminha torna-se uma baita encrenca porque, na maioria dos casos, não temos meios para resolvê-los e nem sabemos como fazê-lo e, se isso já não basta-se, imaginamos, tola e soberbamente, saber exatamente o que deve ser feito, mesmo que não saibamos por onde deveríamos começar.
Seria mais ou menos assim: muitos dos indivíduos que teriam os meios para realizar tal empreitada não desejam abrir caminho algum para a resolução das pendengas nacionais porque, para eles, é muito vantajoso que o circo fique na lona. Mesmo assim, lá estão eles, fazendo a pose de estadistas responsáveis ou de cidadãos comprometidos com o bem comum. Outros, que detêm os meios, mas não tem vontade, boa vontade, não querem ser fritados à toa, como eles mesmos diriam, por aqueles que sugam a vitalidade da nação e, por isso, desavergonhadamente, fazem-se de Pilatos, lavando suas levianas mãozinhas.
Há também aqueles que, infelizes que são, simplesmente ficam à deriva, aguardando melhores dias e torcendo para não naufragar de maneira mais que indigna. Por isso, acreditam em qualquer populista de ocasião, flertam com toda ordem de charlatão, porque a única coisa que esperam do amanhã é que, se possível, ele chegue sem dar-lhes um tombo muito feio. E não nos esqueçamos de todos aqueles, que não são poucos, que apenas esperam um cadinho duma tetinha para poder degustá-la deitadinho, do alto da soberba de sua mediocridade, algo que não lhe é devido, mas que, não se sabe porque cargas d’água, acreditam lhe ser merecido.
Por fim, em meio a esse caudal de gente pusilânime e oportunista, que dá forma, ou deforma, a brasilidade, temos inscrito praticamente em todas essas gentes, mal e porcamente descritas aqui, uns mais outros menos, aquela presunção fantasiosa que faz qualquer sujeito crer ser o detentor da solução para todas as pendências da nação sem, ao menos, um dia ter cogitado a resolução de um pequenino problema vivido por ele em sua vida civicamente pueril. Solução essa, hipoteticamente válida, somente nas horas perdidas numa mesa etílica qualquer.
Bem, por essas e outras que a brasilidade, na pequenez de cada uma de suas individualidades, é a encarnação mais que perfeita daquele verso de Manoel Bandeira que nos adverte dizendo que vivemos uma vida que poderia ter sido, mas não foi. E, ao que tudo indica, nunca será. Ao menos, não tão cedo quanto imaginamos querer.
(*) Professor, caipira, escrevinhador e bebedor inveterado de café.