O encontro buscou reunir poder público, sociedade organizada, empresários e deficientes físicos para debater sobre acessibilidade
Por Nara Coelho | Foto: Nara Coelho/Fatos do Iguaçu
A Câmara de Vereadores de Pinhão foi palco do Encontro Temático sobre Acessibilidade promovido pelo Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência na tarde de sexta-feira, 10 de novembro, com o apoio da Secretária Municipal de Assistência Social, com o objetivo de discutir com os representantes dos setores públicos e privado sobre a acessibilidade e colocar esses setores para ouvir as pessoas com deficiência sobre as dificuldades que essas encontram para se movimentar na cidade. A secretária de Assistência Social, Maria do Belém Siroka, ressaltou a importância da temática e questionou a pouca participação da sociedade.
O Encontro iniciou com a arquiteta da prefeitura, Elenice Tesseroli explanando sobre a mobilidade urbana, da importância em pensar a cidade para as pessoas e não para os veículos, como hoje, e nesse contexto, todos estariam incluídos, pessoas com deficiência ou não e que necessariamente ao pensar em mobilidade urbana se pensa em acessibilidade para todos.
O secretário municipal de obras, Denilson de Oliviera, iniciou dizendo que naquele momento sentia-se frustrado por ainda não ter conseguido fazer a quadra modelo e de atendimento para a acessibilidade em frente à APAE e Caps, que, dentro dos padrões da acessibilidade, foi feita uma calçada na frente da Escola Professora Eroni, que iniciou um diálogo com a Associação Comercial e Empresarial de Pinhão, ACIAP, sobre os estacionamentos.
“Temos consciência que a acessibilidade é importante e delicada, mas ela faz parte das nossas preocupações e objetivos. Sabemos que dependendo do enfoque que a cidade dá à conformação das vias urbanas e também dos edifícios públicos e privados, pode-se ter uma cidade com maior ou menor inclusão de todos”.
O presidente do Conselho, Nivaldo de Oliveira, deficiente visual, chamou a atenção que muitas pessoas ficam em casa devido às péssimas condições das ruas e calçadas. O Carlos Alberto Gonçalves, deficiente físico e usa cadeira de rodas, exibiu um vídeo mostrando as dificuldades que ele enfrenta para se locomover na cidade, até mesmo para fazer suas compras no comércio. O deficiente auditivo, Ricardo, apresentou as dificuldades que ele e os demais deficientes auditivos enfrentam. Mostrou alguns objetos e construções que podem auxiliá-los na acessibilidade e ressaltou que algo que deixa os deficientes auditivos bem chateados é dizer que eles são surdos-mudos, quando na verdade a denominação correta é apenas surdo ou deficiente auditivo.
O advogado Mauro Krupp, que é deficiente visual, ressaltou a importância de haver mudanças em relação à acessibilidade. “A nossa cidade é cheia de barreiras e nós encontramos dois tipos de barreiras – as físicas, que são os meios fios, os postes, árvores, escadas, mas temos as barreiras atitudinais que não são visíveis, inclusive poucas pessoas percebem-na. As físicas se rendem a qualquer picareta ou marreta. As atitudinais são muito difíceis de vencer, primeiro, porque poucos a admitem. E a nossa sociedade ainda não tem sensibilidade para perceber, por exemplo, que uma pessoa cega precisa de ajuda para atravessar a rua, ou que na fila de banco essa mesma pessoa não consegue visualizar no monitor quando será a sua senha, logo, precisa da ajuda de alguém. É preciso trabalhar essa sensibilidade nas pessoas de repente começar com as crianças. A cidade não precisa ser construída para os deficientes, se elas forem pensadas tendo as pessoas como prioridade, a acessibilidade será garantida para os deficientes, os idosos, as mães com bebês, enfim, para todos”, declarou Mauro.
O prefeito Odir Gotardo, (PT) encerrou o Encontro concordando e ressaltando as palavras do advogado Mauro. “Por que não temos acessibilidade na maioria dos comércios? Porque o mundo é capitalista e vocês não são um público que impactam a economia. Por que o poder público não se preocupa com acessibilidade? Porque ele se orienta pelo barulho e pela quantidade de voto. Vocês são poucos, não tem muito votos e agora que começaram a fazer um pouco de barulho, então ficam esquecidos. Assim, tenho que concordar com o Mauro, essa sensibilidade para a dificuldade do outro só tem quem vive muito intensamente o problema, a grande maioria de nós olhamos, mas não vemos, a mudança e sensibilidade se dará pelo debate. Eu tenho vergonha do Carlos quando ele vai na prefeitura e tem que enfrentar todos os obstáculos que há lá para se movimentar. È preciso trabalhar pela mudança de comportamento porque ela levará a novas ações. Claro que eu, como prefeito, tenho a obrigação de fazer ações que garantam a acessibilidade, tem que ter o olhar desperto para essa questão”. Ele ainda chamou a atenção do quão árduo será o trabalho de sensibilização.
“Vocês vão ter que ter muita força, muita energia e muita paciência para submeterem todos os dias várias pessoas à reflexão da realidade que vocês e nós vivemos, porque vejam, a chuva será o álibi de muita gente para se justificar por não estar aqui, mas se não houvesse a chuva, não se teria muito mais gente, pois as pessoas não estão sensíveis ao problema, não se sentem preparadas para discutir o problema, e isso leva que as barreiras físicas fiquem, pois ainda não vencemos as maiores barreiras, que são as comportamentais”.