A pressa é inimiga da perfeição, ensina-nos o dito popular. Inimiga da perfeição e amicíssima da incompreensão petulante. Inimiga essa que, frequentemente, chamamos de nossa melhor amiga porque, “sacumé”, sempre estamos apressados quando o assunto são as informações que diariamente acabam sendo despejadas sobre nós pela grande mídia e pela mídia nanica.

Se fôssemos dar a atenção que é solicitada por todos os acontecimentos que nos são apresentados, iríamos parar todas as outras atividades que realizamos apenas para ficarmos de zóio no olho do furacão de notícias que ininterruptamente bate na porta da nossa alma. E o pior é que muitas vezes fazemos isso, crendo, candidamente, que ao final estaremos muito bem informados sobre todos os entreveros da atualidade, mesmo que estejamos cabalmente sem entender muito bem o que está acontecendo.

Não apenas isso. Muitas vezes achamos que nossa opinião sobre os acontecimentos teriam uma importância capital para os rumos que os mesmos irão tomar. Parlamos na mesa do bar, ou nas redes sociais, como se estivéssemos num púlpito, ou numa tribuna, sendo ouvidos por milhares de pessoas que estariam ansiosas, aguardando o nosso parecer para poderem continuar com suas vidas.

Tolice. Tolice nossa de cada dia que acaba nos levando a sermos somente mais um instrumento nas mãos daqueles que nos estimulam, freneticamente, a aderirmos a corrente de opinião apresentada por eles, dando-nos a impressão de que essas opiniões não seriam as que eles nos atiraram nas ventas, mas sim, que nós [hipoteticamente] as formulamos criticamente com nossas pensantes moringas fatigadas.

Aliás, sejamos francos: quando agimos apressadamente, com o intento de nos informar, a razão que nos move não é, necessariamente, o desejo de compreender melhor o que está acontecendo, mas sim, a de encontrarmos uma narrativa que melhor justifique a corrente de opinião que está arrastando nossa consciência pelo ermo das discussões vazias, onde o que mais importa não é a procura sincera e abnega pela verdade, nem mesmo uma compreensão minimamente razoável dos fatos, mas sim e tão somente, vencer o bate-boca acalorado do momento e poder, ao final, levar para casa um carrinho da hot wheels, ou algo que o valha, como prêmio de uma contenda sem propósito.

Toda semana a grande mídia apresenta uma ou mais manchetes escandalosas que, num primeiro momento – se estivermos desavisados e, é claro, assanhadinhos para um bate-boca – irá nos arrancar os cabelos e nos deixar com os olhos arregalados diante dos supostos escândalos. Porém, se estivermos realmente focados em nossas lides cotidianas, e em assuntos que realmente merecem toda a nossa atenção, teremos a devida paciência e iremos, estoicamente, aguardar que a poeira abaixe para que a visão do cenário fique mais clara para que, como nossos olhos mais descansados, possamos ver se realmente todo o alarde feito era para tanto. E, frequentemente, não é.

Digo isso por uma razão muito simples: reparem como a grande mídia utiliza-se de palavras gatilho para estimular no público toda ordem de sentimentos epidérmicos e, através delas, manipular um grande número de pessoas para que venham a aderir a corrente de opiniões pregada por eles mesmos.

Obviamente que nós, em nossa insignificância, pouco ou nada podemos fazer com relação a essa prática medonha, porém, podemos fazer muita coisa com relação a forma como nos relacionamos com essa estrovenga.

A indústria cultural – outro nominho fofo para a grande “mérdia” – é uma fábrica de sandices que não se cansa de  despejar seus dejetos sobre nossas cabeças, como se elas fossem latrinas para suas ideologias furadas, fantasiadas de informação isenta e profissionalmente elaborada.

Lembremos sempre que estar informado não é sinônimo de estarmos acompanhando tudo que essa birosca informacional – que são os conglomerados de mídia – nos apresenta, mas sim, sermos capazes de ligar os pontos que se apresentam a nós de forma desconexa e confusa.

Aliás, como nos ensina Lovecraft, nas hediondas linhas iniciais do livro “O chamado de Cthulhu”: “a coisa mais misericordiosa do mundo, acho eu, é a incapacidade da mente humana correlacionar tudo que ela contém. Vivemos em uma plácida ilha de ignorância em meio a mares tenebrosos de infinidade”.

Enfim, tornemo-nos cônscios disso tudo e, sem querer querendo, a verdade poderá nos libertar desse torpor nosso de cada dia em que nos encontramos muitas vezes imersos, ou fiquemos agrilhoados com nossa pressa de chegar a lugar algum sem razão nenhuma.

Imagino que cada um sabe o que fazer, não é mesmo? Pois é…

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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