Já se encontrou com alguém e ao perguntar:
“Como está a vida?”
Recebeu como resposta:
“Daquele jeito”?
Você fica sem saber se “daquele jeito” é o mais maravilhoso dos jeitos que alguém pode viver ou se “daquele jeito” é o mais tenebroso e sinistro de todas as maneiras que existem.
Ao usar “daquele jeito” para definir como está a própria vida, a pessoa em questão abre um leque de opções e terceiriza a definição de seu estado.
Ela responde dessa maneira mais aberta impossível e você, pobre coitado, fica desesperado tentando fazer uma leitura do que não foi dito nem demonstrado.
Procura no tom de voz, no meio sorriso, na linguagem corporal, enfim, em qualquer coisa, em qualquer pista do discurso não dito, o que quer dizer “daquele jeito”.
Algumas vezes consegue decifrar, após perceber rapidamente uma levantada de sobrancelha, que o “daquele jeito” é o jeito que a criatura sempre sonhou viver.
Outras, sai de perto da pessoa sem entender ou saber nada de nada.
Aí, ao chegar à casa, comenta:
“Encontrei com Ele hoje na rua.”
– Sério? E como Ele está?
“Daquele jeito.”
E a segunda pessoa, assim como você, tem a chance de ressignificar o jeito daquele.
É sorte de quem daquele jeito está quando cada um que ouve sobre a maneira em que se encontra a criatura não sai espalhando sua própria interpretação do que nem sempre foi dito.
Quando a coisa acontece exatamente ao contrário, o indivíduo que naquele dia de sol amanheceu “daquele jeito” fica sabendo tempos depois que está na verdade onde e como nunca esteve.
Por isso, cuidado, você aí que amanheceu hoje assim desse jeito.
Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.com.br