Fotos: Nara Coelho/Fatos do Iguaçu

Por Nara Coelho – Portal Fatos do Iguaçu

Na manhã da terça-feira, 15 de abril, o plenário da Câmara de Vereadores de Pinhão-PR foi palco de um momento histórico para as comunidades faxinalenses do município. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) promoveu uma consulta pública para a criação de duas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS), abrangendo os territórios de Bom Retiro, com 36 famílias, e São Roquinho, com 26 famílias. A iniciativa busca consolidar um processo iniciado ainda em 2007, marcando uma etapa decisiva na proteção legal e ambiental da cultura faxinalense na região.

Celebração Cultural e Participação Popular

O evento teve início às 9h com uma apresentação cultural conduzida por agricultores faxinalenses, destacando os elementos identitários do modo de vida tradicional que integra criação coletiva de animais, extrativismo sustentável de pinhão e erva-mate, além da agricultura familiar voltada à subsistência — práticas essas que são conduzidas com profundo respeito à natureza e contribuem para a preservação da Floresta com Araucária, um dos biomas mais ameaçados do país.

Presenças e Autoridades

Com o plenário lotado, a mesa de autoridades contou com a presença de representantes dos três níveis de governo. Estiveram presentes o presidente da Câmara de Vereadores, João Paulo Mendes, o prefeito municipal Valdecir Biassibetti, os deputados Antenor Gomes de Lima (estadual) e Tadeu Veneri (federal), além de membros do ICMBio, como Walter Steenbock, gerente regional da região Sul, e Maria Helena Reinhardt, coordenadora de criação de unidades de conservação. Também compuseram a mesa os defensores públicos Nuno Castilho Coimbra da Costa (União) e David Alexandre de Santana Bezerra (Paraná), o geógrafo André Fialho Eiteres, do IAT, além de vereadores, lideranças locais e representantes da sociedade civil.

A Voz da Comunidade

Durante a abertura, lideranças locais, representantes do poder público e especialistas reforçaram a importância de valorizar a cultura faxinalense. O defensor estadual David Bezerra destacou o papel da Defensoria Pública na garantia dos direitos das comunidades tradicionais:

“Esse é um momento de justiça social e acesso à cidadania. A criação dessas RDS é o reconhecimento de uma cultura viva e resistente, que protege o meio ambiente e merece respaldo do Estado.”

O deputado Antenor ressaltou o valor ancestral e a sabedoria do modo de vida faxinalense:

“Os faxinalenses são o exemplo mais puro de sustentabilidade que temos no Brasil. Preservam a floresta, a água, a vida — e partilham tudo com dignidade e respeito.”

Já o deputado federal Tadeu Veneri fez uma defesa enfática da importância política do momento, enfatizando o papel do atual governo federal em viabilizar a retomada de políticas públicas de conservação e justiça socioambiental.

Mesa Técnica e Esclarecimentos.

Na segunda parte do evento, a mesa técnica — composta por representantes do ICMBio, o professor Roberto Martins de Souza do IFPR e lideranças faxinalenses — detalhou o processo de criação das RDS e suas implicações. Foram apresentados os mapas das áreas envolvidas e esclarecimentos sobre as fases da consulta, estudos técnicos realizados e os próximos passos. A consulta pública segue aberta até 15 de maio de 2025, com envio de contribuições pelo e-mail: consultapublica@icmbio.gov.br.

Maria Helena Reinhardt explicou que as RDS são categorias de Unidades de Conservação que conciliam preservação ambiental com permanência das comunidades tradicionais em seus territórios:

“Essa proposta reconhece os faxinalenses como protagonistas de uma forma de viver que cuida do ambiente ao mesmo tempo em que garante soberania alimentar e cultura popular.”

Avanço e Reconhecimento

O evento foi encerrado por Dimas Gusso, liderança da Associação Paranaense de Faxinalenses (APF), que ressaltou que a criação das RDS é resultado de décadas de resistência e organização social:

“Lutamos muito para sermos vistos. Hoje é um passo gigantesco para garantir que nosso território e nossa cultura continuem vivos. Mas ainda temos um longo caminho.”

Um Marco para o Pinhão e o Paraná

A criação das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Faxinalenses é mais que um avanço jurídico e ambiental — é um reconhecimento simbólico da importância dos saberes e práticas de um povo que resiste e cuida da terra há séculos. Como bem disse o representante do ICMBio, Walter Steenbock:

“Sem os faxinalenses, não há araucária. E sem a araucária, perdemos parte da alma do Paraná.”

O Portal Fatos do Iguaçu continuará acompanhando as próximas etapas desse processo histórico que pode colocar Pinhão no mapa nacional da justiça ambiental e cultural.

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