Dados mais recentes do Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 (OOBr Covid-19) sobre mortalidade materna em virtude do SARS-CoV-2 são preocupantes. Os óbitos em 2021já somam 642, ultrapassando de longe o total de 2020 inteiro: 457.
Outro fato gravíssimo é que, desde o início da pandemia, uma a cada cinco gestantes e puérperas mortas pelo SARS-Cov-2 não tiveram acesso a unidades de terapia intensiva (UTI) e 33% não foram intubadas, o derradeiro recurso terapêutico que poderia salvá-las.
Em relação ao acesso à UTI, é essencial registrar que o Observatório só trabalha com os dados oficiais. Assim, o fato de pessoas falecerem sem acesso à possibilidade de tratamento adequado é igualmente estarrecedor, pois gestores e todos nós sabemos que casos mais complicados de Covid-19 exigem UTI e intubação orotraqueal.
Há ainda uma interrogação sobre a proporção de subnotificações. Várias gestantes e puérperas internadas, teoricamente acometidas por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), estão em lista diferenciada de óbitos. São mais de 270 mortes dificílimas de especificar a causa de origem.
De acordo com a dra. Rossana Pulcineli, uma das criadoras do Observatório, docente do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP e presidente da SOGESP, isso acende sinal de alerta quanto à baixa testagem:
“Da mesma forma que observamos em gestantes e puérperas, é plausível pensar que também esteja acontecendo em outros grupos de pacientes com Covid-19”, pondera ela.
Entre março de 2020 e 12 de maio de 2021 (quando da mais recente atualização semanal da base de dados SIVEP-Gripe do Ministério da Saúde), foram 11.664 casos de SRAG por Covid com 1099 óbitos – 9,4%.
Sem contar os outros 10.818 de registros da Síndrome com 274 mortes entre gestantes e puérperas, que, na avaliação dos pesquisadores, podem ser também episódios de SARS-Covid-19.
O Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 (OOBr Covid-19) visa a dar visibilidade aos dados desse público específico e oferecer ferramentas para análise e fundamentação de políticas para atenção à saúde de gestantes e puérperas em relação ao novo coronavírus.
Além da dra. Rossana Pulcileni, compõem o grupo de criadores. Mantenedores Agatha Rodrigues, docente do Departamento de Estatística da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e Lucas Lacerda, estudante de graduação em Estatística na UFES.
Reverter o quadro requer uma estruturação melhor da rede. Então é muito fundamental que, quando uma gestante precise de uma internação, já exista organização sistematizada para que ela saiba qual hospital deve procurar, para onde será transferida etc.
A vacinação é sim um caminho. Lembrando que, neste momento, o Ministério da Saúde prevê imunização apenas de gestantes com comorbidades.
“As gestantes e puérperas precisam continuar com todos os cuidados. Usar a máscara, evitar aglomerações. Agora há uma lei que oferece a elas a possibilidade de trabalhar em home office. É indispensável que ela se proteja independentemente de ter sido vacinada ou não”, orienta Rossana.
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