Ela vivia em uma pequena e charmosa casa de vidro.
A casa ficava em uma rua comprida e larga e lá no fim, lá bem longe, o rio.
Fora construída bem no meio do terreno.
Terreno grande tivera cada um dos seus recantos delicadamente planejados.
A casa ficava circundada por grandes e frondosos flamboyants e charmosos ipês amarelos, roxos e brancos.
Quando o inverno chegava, lá vinham os ipês mostrando a graça da terra seca e, quando a chuva dava o ar da graça, lá estavam eles, os flamboyants floridos e majestosos.
De dentro da casa de vidro era possível ver todo o jardim, pomar, horta e ainda ouvir a farra dos passarinhos que faziam companhia à moradora daquele paraíso.
Um dos cômodos da casa de vidro era seu charmoso ateliê.
Esse fora planejado para receber luz natural durante todo o dia. Ali, o sol entrava com delicadeza o ano todo.
Em nenhum momento era preciso fugir dele, mas ali ele sempre estava.
Havia passagens secretas que só os passarinhos conheciam e, por isso, entravam e saíam durante todo o dia, fazendo sua alegria, trazendo inspiração para suas pinturas.
E eu gostava de ouvi-la.
Passava horas ali, vendo seu trabalho progredir, conversando, aprendendo com sua sabedoria e mansidão.
Chegava sempre sem avisar e ia entrando.
Sempre, todos os dias que ali chegava, era recebida com o mesmo sorriso, o mesmo abraço apertado.
Ficava horas, muitas vezes calada, apenas observando.
Outras, tagarelávamos querendo competir com as maritacas das árvores do quintal.
As gargalhadas eram constantes.
Sempre que eu ia embora ao cair da noite, levava um saquinho de biscoitos quentes e um coração transbordado de amor e bons conselhos.
Meu riso leve e solto era indício, para quem por mim passasse, de que eu estivera na casa de vidro.
Na casa transparente que se mostra e transborda tudo que há de bom ali: amor, o mais puro e sublime amor.
Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.com.br