Por Dominique Acirema S. de Oliveira

Em nossa nação qual seria a tradição mais cara? O que diante dos “estrangeiros” é típico ao brasileiro? Não gostaria de responder a essa pergunta com algo muito político ou histórico.

Para tanto, e já dar o ar e a tônica, cito: “o homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre”, essa frase foi atribuída ao filósofo francês Voltaire, mas mesmo não sendo o pai de tal declaração ele era um iluminista, assim como Rousseau o menino peralta que desenvolveu a teoria da vontade geral.

Mas o que isso tem a ver com a história de nossa tão amada “idolatrada salve salve” Brasil? Gallo traz uma visão francesa:

“Mas é preciso responder prontamente à impaciência do popular. Portanto, julgar o rei, condená-lo, executá-lo também é uma maneira cômoda de mostrar ao povo que a República é impiedosa com os poderosos, de que o rei se torna a encarnação, o símbolo. Se ele for morto, que rico fazendeiro, que agiota, que financista, que deputado ou ministro estará ao abrigo do castigo? Não se sabe como combater a miséria, mas sabe-se julgar e decapitar o rei.”

Nossa curta memória poderia dar nossa tipicidade, o desprezo pela história que nos permeia e trouxe-nos até aqui, o descaso pelas tradições (pensando bem, que tradição?), a repulsa que nos ensinaram a ter sobre livre mercado, a ideologia freiriano de um materialismo e luta de classes herdado diretamente de Marx e outros.

De certa forma enforcamos nossos reis, iludidos nas premissas iluministas e racionalistas, de revoluções sanguinárias e que hoje ganham títulos de libertadores, de gênesis dos direitos de TODOS os humanos. (o Direito Inglês manda um: opa, bão? “Saudade do que não vivemos”😏)

Nos ensinaram a negar particularidades e buscar o bem comum, a vontade geral (ah Rousseau), sim, homens reunidos fazendo uso da razão podem chegar à vontade comum, ao bem comum e os direitos de todos os humanos. (patacoada).

A vontade geral de homens letrados e semiletrados os quais em discussões que cheiravam a “alta cultura”, iluminados por filósofos, produziram a guilhotina, leis de sequestro de bens, de suspeitos, extradição…

Não temos uma sequência histórica de defesa de valores nacionais bem destacados, não carregamos em nosso peito varonil a disposição da defesa da pátria, ao contrário, vem carregado em nos um sentimento de impotência e de total dependência Estatal, de acovardamento e depressão nacional.

Como um filho de um pai ausente, que aparece no natal e manda um cartão no ano novo, ele nos dá esperança nas promessas de direitos e garantias fundamentais e em sua ampliação, abrange com suas palavras todos meus anseios mais primitivos: saúde, segurança, alimentação, moradia…

O Estado me abraça forte e com sua mão ligeira “bate” minha carteira, acena da porta e promete voltar. Agora não adianta, “somos os filhos da revolução somos burgueses sem religião somos o futuro da nação”. Agora danou-se.

Enforcamos nossa esperança nas cordas tecidas pelo descaso, afinal, dos cercos iluminados filosóficos de tempos idos nasceu um projeto universalizante, generalizante e até refrigerante, que contaminou o mundo político: a arrogância de que homens podem construir a torre de Babel filosófica e que será, como a primeira, um farol condutor da alma humana.

Que arrogância que ambição! “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, (…)”, a não ser em questão tributária, de sexo, de origem, de religião… A lei produzida politicamente resulta em um Direito falho cheio de lacunas e obscuridades.

Rousseau, assim como outros iluministas transformaram a razão em dogmatismo, creram que o resultado racional é o melhor para a condução humana (e ai de você que não concordar racionalmente).

Finalmente, agora temos um vislumbre, nossa tradição judiciária é permeada por ativismo político, nosso legislativo é amarrado em questões judiciárias, o executivo atado a uma constituição produzida racionalmente, abstratamente, que desvinculada com a realidade da nação, mas com ares iluministas cheinha de promessas vazias.

Nascemos sob toda essa confusão constitucional que tradição podemos ostentar, defender? Juízes políticos e políticos juízes. “Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos”.

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