Uma expressão que frequentemente ouvimos ser repetida por caboclos, dos mais variados naipes, é aquela onde o sujeito afirma que ele pensa com os seus próprios miolos e que, por isso, não repete de maneira alguma o que alguém, investido ou não de autoridade, diga, pois, “sacumé”, esse tipo de gente considera-se tremendamente crítica por acreditar nisso.

Tudo bem, está certo, o abençoado não repete nada que seja reverberado pelos outros, mas afirma a mesma coisa que muitíssimas outras pessoas também afirmam: que tem uma opinião própria, todinha sua, vertida de sua moringa pensante. Não apenas isso. Na maioria das vezes essa opinião, “todinha sua”, é literalmente a mesma de muitos outros que, também, é idêntica àquela que é diuturnamente repetida por incontáveis veículos de mídia.

Por essas e outras que, como nos lembra C. S. Lewis, essa busca por “originalidade” é uma tolice sem par e, em regra, quem muito quer ser original não tem nada de original para apresentar para ninguém. Nem para si mesmo.

E tem outra. Penso que ter uma opinião [supostamente] todinha nossa é um trem pra lá de irrelevante. É ridículo. Pouco importa se o ponto de vista afirmado por nós seja de nossa autoria ou da lavra de um terceiro; o que realmente interessa é que o que esteja sendo dito por nós seja verdadeiro, pouco importando quem tenha dito primeiro, porque a verdade é o que é e, sempre, segue sendo ela mesma, mesmo que todos digam o contrário.

Todavia, como todos nós estamos carecas de saber – alguns no sentido literal da palavra – a soberba abunda em nossos corações, como abunda. Por isso, admitir que o que estamos dizendo pode não ser verdadeiro e, principalmente, que possivelmente não é nem um pouco original, é algo que não cai muito bem no cardápio do nosso dia a dia.

Frequentemente, quando essa ululante e desconfortável obviedade é lembrada, num estalar de dedos aparecem, aqui e acolá, um e outro caboclo dizendo: “bem, pelo menos eu tenho uma opinião ‘própria’ sobre o assunto, não sou um papagaio feito você”.

Ora, prova maior de alienação inconsequente, provavelmente, não há, do que vaidosamente crermos que a nossa autoridade autoproclamada seria o critério mais elevado de credibilidade e de veracidade que existiria ali e por cá.

Dito de outro modo, quando nos embrenhamos por esse caminho soberbo, passamos a utilizar como critério de verdade e de credibilidade a nossa inflamada vaidade. Ou seja: para esse tipo de mentalidade, se concordo com algo é porque, esse algo, é verdadeiro; se discordo, é porque é uma mentira deslavada. Se me agrada, logo, é ciência; se me desagrada, logo é nagacionismo, e assim por diante.

Sei que isso é uma obviedade gritante, mas, lembremo-nos dela: a verdade não depende da nossa aprovação ou reprovação, da mesma forma que ela, a verdade, não precisa que gostemos dela para que ela possa existir. Simples assim e, por isso mesmo, é tão difícil para apartarmos alhos de bugalhos em nossa cansada consciência.

Há também outro ponto que, penso eu, seja de fundamental importância para refletirmos sobre essa questão. Vejam, frequentemente procuramos problematizar tudo que desprezamos, porém, raras são as vezes que procuramos questionar as nossas “ideias originais” e bem como as “nossas opiniões próprias” que foram [hipoteticamente] construídas de maneira “crítica”. Por isso, façamos, com franqueza, esse exercício reverso de julgamento e passemos a apontar o nosso crítico dedo acusador para nós mesmos.

Vamos lá: nós realmente sabemos qual é a fonte e o fundamento daquilo que dizemos ser a verdade expressa em nossa [suposta] “opinião própria”? Nós saberíamos dizer, com segurança, se isso que estamos afirmando é fruto de nosso esforço sincero para compreender um assunto, ou se seria apenas uma resposta que frutificou de nossos impulsos e desejos desordenados? Bah!

E tem outra: por um acaso, tais pontos de vista, que acreditamos ser todinhos nossos, não poderiam ser um mero fruto do acaso, estimulados por um meme qualquer que chegou até nós, ou por algo que o valha? Nossas opiniões não poderiam ser tão somente a racionalização de um remorso pueril, ou de um ódio infantil? Não poderiam ser, talvez, o subproduto do nosso egoísmo inconfessável? Enfim, não poderiam ser o resultado de uma crendice ideológica que colocamos no lugar da procura pela verdade e acima do bem, do mal e de Deus?

Pois é. Muitas das opiniões, que acreditamos serem nossas, fruto exclusivo de nossos miolos, podem, na verdade, ter como fonte alguns desses caminhos tortos apontados linhas acima, e de outros mais que não citamos aqui. Porém, para identificá-los e, desse modo, podermos avaliar nossas ideias, valores, crenças e opiniões, precisaríamos realmente estar dispostos a fazer essas perguntas que, sejamos sinceros, faríamos alegremente para um desafeto nosso, mas que, por razões tão óbvias quanto inconfessáveis, nós trememos na base só de cogitar a possibilidade de levantá-las para nós mesmos.

Mas, se preferirmos continuar nessa toada soberba, crendo que aquilo que dizemos é único, original e crível só porque foi dito por nós com uma pose criticamente crítica e cheia de marra, tudo bem, cada um é dono da sua moringa pensante e, obviamente, cada um pode dispor dela como bem quiser.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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