Deixe estar.
Deixe comigo.
Ela vai se ver quando tudo isso terminar.
O tempo passou e, um dia, no mais inusitado dos lugares, eles se reencontraram:
“Lembra-se de mim?”
– Infelizmente não me lembro, senhor. De onde nos conhecemos?
“Não acredito que você simplesmente pode me dizer que não nos conhecemos.”
A moça começou a ficar assustada com a insistência do desconhecido.
Sem saber o que fazer, ela pediu licença, passou por ele e foi para um ponto da loja onde não seria vista:
– Não faço ideia de onde aquele senhor me conhece.
Nessa hora, bem nessa hora, seu chefe entrou no estoque procurando por ela:
“Bianca, tem um senhor lá fora procurando por você.”
– Ele está me perguntando se o conheço. Acredito que nunca o vi, mas ele insiste em que o conheço. Estou com medo.
“Vamos lá esclarecer isso uma vez por todas. Eu vou com você.”
Eles saíram.
– Aqui está, senhor. Vamos esclarecer essa situação logo.
O senhor em questão olha a moça da cabeça aos pés e começa:
“Então seu nome é Bianca?”
– Sim senhor – disse a moça como se segura estivesse.
“Tem certeza de que nunca me viu?”
– Senhor, acredito perfeitamente que nunca nos encontramos.
Ele sorriu placidamente e começou:
“Você foi ao casamento do Glauco e da Sandra?
– O Glauco filho da dona Carmen e a Sandra filha do Sr. Amaro?
“Isso mesmo. É de lá que nos conhecemos.– Ah! Assim, O senhor já estava me assustando.
“Desculpe-me, não foi minha intenção.”
O chefe, observava em silêncio o diálogo.
A moça mais calma olha atentamente para o senhor bem vestido á sua frente:
– Por acaso o senhor é o moço que derramei quatro litros inteiros de refrigerante no casamento?
“Sim, sou eu mesmo.”
A moça fica vermelha como se de cera fosse:
– Sempre quis me desculpar. Naquela noite, depois de derramar o refrigerante fiquei tão sem graça e com tanta vergonha, que fui embora na mesma hora. O senhor pode me perdoar?
O moço que passara o último ano procurando aquela bela distraída, responde:
– Claro que desculpo, desculpo sim.
Bia começou a sorrir aliviada.
Foi quando ouviu:
– Eu desculpo, mas vou precisar de um favor seu.
“Pode pedir, Senhor. Vou ficar muito feliz em saber que fui desculpada pelo senhor. Pode falar.”
O moço abriu um sorriso satisfeito e começou:
– Aquela era uma noite muito importante pra mim. Era o casamento da minha filha mais nova e eu estava muito feliz. Aí, de um minuto para o outro, me vi completamente encharcado no meio da festa. Absurdamente molhado e grudando. Afinal, você derramou, na minha cabeça, quase quatro litros de refrigerante.
A moça coitadinha, ao ouvir o relato foi se encolhendo, encolhendo, querendo sumir.
“O que posso fazer para ser desculpada?”
– O que eu vou pedir pode soar estranho, mas vai ser o único jeito de me fazer esquecer tudo que aconteceu naquela noite.
“Pode dizer. O que o senhor quer?”
Ele deu um suspiro, como quem está prestes a dizer o maior de todos os absurdos e começa:
– Meu objetivo era me vingar, ele disse sorrindo. Mas não se preocupe, eu não desejo o mal.
Eu só quero que você se arrume com aquele vestido vermelho que você estava no casamento.
Vista-se do jeitinho que estava aquela noite e vamos a um casamento no sábado comigo. Pode ser?
Ela, mesmo achando tudo muito estranho, rapidamente respondeu:
“Claro!”
E, no sábado, ela, toda bonita, arrumada e perfumosa, chegou ao lugar da festa.
Foi recebida pelo senhor, também muito bonito, que a colocou para dentro da festa.
Lá pelas tantas, quando ela nem se lembrava mais o que fora fazer ali, o moço a convidou para ir até um canto da pista de dança.
Ela foi.
Quando chegaram lá, ele falou:
– Lembra que você está aqui como parte de uma vingança?
A moça ficou pálida, mas manteve a pose:
“Claro!”
– Então, não corra. Com a sua licença.
Dizendo isso ele derramou diretamente na cabeça da moça 40 litros de refrigerante.
Ela tomou o banho de refrigerante, sem correr ou reclamar.
Quando a última gota caiu em seus cabelos ele veio correndo com uma toalha na mão:
– Bianca, ali tem um banheiro onde você pode tomar banho e trocar de roupa. Á porta tem um carro que poderá levar você para casa. Muito obrigada por deixar que eu lavasse minha alma.
A moça ensopada foi conduzida gentilmente até onde poderia tomar um banho e se trocar.
E o senhor vingativo agora estava livre para esquecer aquela história para sempre.
Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.wordpress.com
A vingança
21/02/2017 - 09:20
Autor: Naor Coelho