Ouça a crônica:

O sociólogo Manuel Castells, em seu livro “Redes de indignação e esperança”, nos chama a atenção para uma obviedade ululante que, por ser gritante, precisa ser devidamente destacada para que não se perca entre as banalidades do nosso dia a dia.

Segundo ele, os movimentos sociais contemporâneos que se formaram, e que estão se constituindo na era da informação, de um modo geral, partem de uma série de emoções que são compartilhadas pelos indivíduos. Compartilhamento esse que se dá a partir de um acontecimento que, de certa forma, catalisa e simboliza esses sentimentos, sejam eles positivos ou negativos.

A partir dessas emoções compartilhadas as pessoas, espontaneamente, acabam se organizado em redes autônomas utilizando os meios de comunicação digital onde passam, gradativamente, a partilhar suas impressões sobre o que elas estão vivendo e testemunhando e, com o passar do tempo, começam a construir uma vivência em comum que vai tomando corpo e delineando uma identidade coletiva em torno de valores que todas elas consideram preciosos.

Notamos tal configuração nas ações políticas descentralizadas que são realizadas por inúmeros cidadãos comuns, que atuam em suas comunidades e que, em grande medida, apenas tornaram-se viáveis graças a partilha de vivências e informações que é realizada de forma dispersa através dos grupos de whatsapp, telegram, redes sociais e similares.

Nesses espaços virtuais, pessoas que até então sentiam-se isoladas e atomizadas tiveram a oportunidade de conhecer e irmanar-se com pessoas que partilham as mesmas emoções, as mesmas impressões e, com o tempo, acabaram descobrindo que tem possíveis valores e ideias muito próximas, dando a elas algo que até então lhes era negado: o desejo de tomar as rédeas de seu destino, de ser um sujeito ativo em sua comunidade e uma pessoa genuína em seus propósitos.

Creio que, se refletirmos um pouco, iremos perceber essa mudança em nossa maneira de ser e, ao constatá-la, iremos compreender que não é à toa que os tiranos e tirantes queiram tanto cercear essa liberdade que hoje tantos desfrutam.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

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