por Dartagnan da Silva Zanela (*)
Manter-se vigilante, eis aí uma das lições que o Tempo do Advento nos apresenta. Lição que, infelizmente, entra ano, sai ano, nós insistentemente deixamos pra depois. Um depois que nunca chega.
Cristo, no horto das oliveiras, conclamou os apóstolos a orarem com Ele e a manterem-se vigilantes. Bem, todos conhecemos o fim desse episódio. A rapaziada pregou os olhos enquanto Jesus, em agonia, orava.
Ao falarmos em vigília, não estamos aludindo aos desafios que a vida nos apresenta em seus caminhos e encruzilhadas, referimo-nos às sedições e seduções que se fazem presentes no âmago do nosso coração que, por pura distração de nossa parte, vira e mexe, acabam por ditar o rumo e o prumo dos nossos passos.
Ora, quantas vezes tomamos decisões tontas por termos dado ouvidos aos nossos caprichos, medos, ressentimentos e desejos desordenados? Com toda certeza o número não é miúdo. Aliás, nós realmente refletimos sobre isso? Pois é.
Sim, somos muito mais impulsivos que reflexivos e, por sermos assim, imaginamos que nossa reatividade infantil seria sinônimo de “bom senso”.
Vigiamos, atentamente, a vida alheia, especialmente daqueles que têm a infelicidade de estarem na lista dos nossos desafetos; mantemo-nos atentos a todas as miudezas, que fluem de boca em boca, pelas malhas do whatsapp e similares, para ficarmos bem informados sobre tudo aquilo que não nos diz respeito e, por isso, acabamos sempre subtraindo o pouco valor que tínhamos em nosso peito por um preço vil.
Agindo assim, fragmentamos a consciência que temos a respeito dos nossos semelhantes e, de quebra, terminamos por nos alienar de nós mesmos, por ignorarmos a presença e o poder das inúmeras inclinações tortas e desordenadas que atuam através de nós, como bem nos lembra Louis Lavelle.
Alienados, com o olhar turvado, acreditamos ser pessoas “do bem”, ou “de bem”, ao mesmo tempo que torcemos pelo cancelamento da humanidade daqueles que não caminham dentro do nosso riscado.
Por essa e por outras razões, o filósofo Leszek Kolakowski nos lembra que aquele que nunca parou para considerar a possibilidade de ser uma farsa é o mais infeliz dos homens, porque rendeu-se por inteiro aos inimigos da alma humana.
E quanto a nós, seríamos uma dessas pobres almas ou não? Eis aí o ponto que deveríamos levar em consideração.
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(*) professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.
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