Mario e a esposa Maria Aparecida Torres | Foto: Nara Coelho/Fatos do Iguaçu
Um sonhador, um visionário, um apaixonado, um realizador
Por Nara Coelho
No dia 26 de junho de 1978, o engenheiro florestal Mario Torres, como diziam os antigos, fichou na Copel – Companhia Paranaense de Eletricidade e no dia 27 chegava ao município de Pinhão, mais precisamente na localidade de Faxinal do Céu, onde aconteciam as obras da Vila Residencial da Copel e da construção da Usina Hidrelétrica Governador Bento Munhoz da Rocha Neto, com a missão de cuidar do viveiro de reflorestamento.
Na terça-feira, 26 de junho de 2018, os colegas de trabalho do engenheiro Mário Torres, que formam a equipe da Copel que atua na Vila do Faxinal do Céu, e os terceirizados que os ajudam a cuidar do Jardim Botânico, fizeram uma homenagem descontraída e carinhosa ao engenheiro pelos seus 40 anos na Copel e desses, 35 dedicados a cuidar da natureza e do embelezamento da Vila da Copel e com uma atenção mais que especial ao Jardim Botânico, que nasceu dos seus sonhos e por suas mãos. Já que por razões contrárias á sua vontade, durante um período teve que trabalhar em outros locais de atuação da empresa.
No mês de outubro, a Copel realiza um jantar em homenagem aos funcionários que atuam a algumas décadas na empresa, mas os colegas do Mário consideraram que eles não poderiam deixar a data passar em branco.
A HOMENAGEM
Quem contou para o Mário que não era uma reunião com a vigilância sanitária que aconteceria no auditório Rousseau e sim uma homenagem dos colegas de trabalho a ele, visivelmente emocionado, foi o presidente da Fundação Para o Desenvolvimento Regional – Copel (Fundere), Justo Mânica. “Estamos aqui para homenagear o Mário, que está fazendo 40 anos de dedicação à empresa Copel, ao trabalho que ele é apaixonado e a toda essa beleza que é Faxinal do Céu, local que vivemos. Quando ele chegou aqui, a área era pequena e rústica, foi crescendo, para realizar toda essa beleza, foi enfrentando os pequenos e os grandes desafios, que não foram poucos. Graças à persistência desse idealizador, sonhador, hoje temos o jardim botânico. Para nós, isso é motivo de muito orgulho”. Justo encerrou a fala com um forte abraço no companheiro de mais de trinta anos de caminhada juntos.
O HERDEIRO
O engenheiro florestal, Murilo Barddal, que foi trazido para Faxinal do Céu pelo Mário, teve a missão de entreter o homenageado durante o dia para que ele não desconfiasse da surpresa e garantisse que ele fosse, pois todos sabem que entre o caminho do Mario para uma reunião sempre pode aparecer uma árvore, uma planta que precisa ser cuidada e que não pode esperar.
Murilo falou do orgulho que sente quando as pessoas dizem que ele é o herdeiro do Mário no que se refere ao cuidado e trabalho com o Faxinal do Céu e com o Jardim Botânico. “Quando as pessoas me dizem que eu sou o herdeiro do Mário, isso é para mim um privilégio, é um orgulho”. Ele brincou, “Às vezes da vontade de pegar o Mário e antecipar o recebimento da herança, (muitos risos de todos), mas as nossas diferenças fazem parte do nosso trabalho, muitas vezes as pessoas não compreendem esse jeito sonhador do Mario que vislumbra um amanhã diferente e melhor, mas são essas pessoas que movem o mundo e o que devemos fazer é aprender com ele a ter essa paixão pelo que fazemos e acreditar que é possível”.
Mario recebeu dos amigos um vinho, uma de suas paixões, e um pulôver em decote V, como ele gosta.
“SÓ POSSO AGRADECER”
“Eu só posso agradecer e agradecer, estou tentando resgatar o nome de todas as pessoas que trabalharam aqui, para Faxinal estar assim como vemos, mais de quinhentas pessoas nos ajudaram e um dia vamos ter todos esses nomes em um mural aqui no Faxinal” e reforçou “Só posso agradecer os que passaram e nos ajudaram e a vocês que estão aqui comigo nesse momento” Mario parou seu discurso, pois, a emoção foi maior que as palavras.
Mario Torres hoje está com 66 anos, iniciou seu trabalho na Copel com 26, mas não só trabalhou em Faxinal do Céu, também conheceu o amor da sua vida, a professora de Licenciatura em língua Inglesa Maria Aparecida, chamada por ele e pelos amigos de Cidinha e com ela teve duas filhas que cresceram brincando nas ruas e paisagens de Faxinal e o quase vovô Mario, já que uma de suas filhas está grávida, conversou um pouquinho com a reportagem do Fatos do Iguaçu sobre as emoções de ver um trabalho de 40 anos sendo reconhecido.
Quanto a se dedicar 40 anos a um trabalho, a resposta vem rápida, “Só posso agradecer, o privilégio de ter podido ficar todo esse tempo e passei a vida me dedicando ao que eu adoro”.
Se a ideia é parar, a resposta vem mais rápida ainda, “A cada dia eu estou mais empolgado, criando mais coisas, quero fazer mais. Não sei se agora bate aquela sensação, será que vai dar tempo de fazer tudo que quero fazer? E eu vou me envolvendo mais, quero é fazer muito mais”.
O SONHO
O sonho de criar um Jardim Botânico nasceu logo que o engenheiro começou a trabalhar na Agrovila. “Logo nos primeiros seis meses que comecei a trabalhar já passei a conciliar o trabalho de produção com jardim inspirado em livros e em paisagens. Até porque eu sempre gostei de paisagismo. Era um laboratório, quando cheguei já tinha algumas espécies e eu fui colecionando mais, conseguindo uma ali, outra acolá”. Completou Mario. “E fui conduzindo para que a parte de produção fosse virando um jardim, pois era mais fácil de manter, assim as pessoas que trabalhavam lá iam se empolgando e trabalhando melhor”.
Ele fala da importância dos que trabalham com ele. “Na verdade, tudo foi acontecendo porque as pessoas que trabalhavam comigo vestiram a camisa desde o começo, todos que passaram por aqui, e não foram poucos, também gostavam de fazer o trabalho e sentiam orgulho em ver o resultado, isso é importante, pois o forte, o duro do trabalho, quem faz são eles”.
A empresa Copel fez um vídeo sobre você e o Jardim Botânico, como foi ver o vídeo? “Na primeira vez que vi o vídeo, foi impressionante, porque entre a ideia de fazer, a montagem do roteiro, a filmagem e o vídeo acontecer, foi praticamente um ano, já nem lembrava dele, quando de repente, estávamos trabalhando com o Murilo, quando vimos o vídeo e foi uma alegria muito grande, uma surpresa maravilhosa”.
E o Mario pega na enxada? “Eu gosto de fazer, ajudo um pouquinho (risos) gosto de pegar na enxada, enquanto estiver caminhando vou estar participando, ajudando no trabalho direto” Complementou, “Até porque a cada dia vem novas idéias, e é preciso ir colocando elas em prática”. E elogiou a equipe atual que trabalha com ele, “Esse é o dia-a-dia da minha vida, quando eu tenho que viajar, eu já fico pensando duas vezes, quero ficar aqui para não perder um minuto e o convívio com essa equipe é muito bom, gosto de estar com eles, de trabalhar com eles”.
Receber a homenagem deles foi “Uma surpresa muito legal, me proporcionou uma felicidade muito grande, difícil de descrever”.
Qual o sonho hoje, desse eterno sonhador? Eu quero e vislumbro que o nosso Jardim Botânico vai chegar a ser um dos Jardins Botânicos, mais importante do mundo, até porque área nós temos, agora é só trabalhar em cima, é preciso uma equipe maior e buscar mais espécies. É muito importante conciliar com a educação e sensibilização das pessoas para com a natureza”.