Aos 24 anos, Thiaguinho, do Sesc RJ, representa a renovação da tradição de grandes levantadores do vôlei brasileiro
por Luiz Humberto Monteiro Pereira – humberto@esportedefato.com.br – Foto: Hélio Melo/Sesc RJ
Atual campeão olímpico e finalista das quatro últimas Olimpíadas, o vôlei masculino brasileiro firmou-se como um dos mais fortes do mundo. Parte dessas conquistas passou – literalmente – pelas mãos de grandes levantadores que o país gerou ao longo das últimas décadas, como Ricardinho Garcia, Marcelinho Elgarten, Bruninho Rezende e William Arjona. Entre os cotados para manter a tradição brasileira na posição, um dos destaques é Thiago Pontes Veloso, o Thiaguinho. Aos 24 anos, o levantador paraibano já tem no currículo diversos títulos nas categorias de base da seleção brasileira – da prata no Sul-Americano Infanto-juvenil de 2010, na Venezuela, ao ouro como a seleção sub-23 na Copa Pan-Americana de 2015, nos Estados Unidos. No time principal, foi prata nos Jogos Pan-Americanos de 2015, no Canadá. Nas Olimpíadas do Rio, o técnico Bernardinho optou por jogadores mais experientes na posição – Bruninho e William. “Meu sonho é defender a seleção brasileira nas Olimpíadas”, avisa Thiaguinho. De volta ao Brasil desde agosto, após jogar uma temporada no Exprivia Molfetta, da Itália, o levantador encara a temporada 2017/18 pelo Sesc RJ, do técnico Giovane Gávio. “Eles me apresentaram um projeto muito bem estruturado, que vem para ficar e disputar títulos. Isso era tudo o que eu estava buscando”, comemora.
Esporte de Fato – Como o vôlei surgiu na sua vida?
Thiaguinho – Surgiu na época da escola, em João Pessoa. Eu tinha oito anos e meu irmão mais velho, Ylton, foi chamado para entrar na escolinha pelo nosso técnico Claudio Saci. Daí, eu e meu outro irmão, Michel, seguimos os passos dele. Naquela época eu praticava vários esportes: judô, basquete, futsal e vôlei. No ano seguinte, fiquei apenas no vôlei.
Esporte de Fato – E como o vôlei evoluiu de um hobby para uma carreira profissional?
Thiaguinho – Depois de começar a jogar em João Pessoa, minha família se mudou para Recife. Eu tinha 11 anos. Lá fui campeão pernambucano várias vezes, eleito melhor jogador mirim e disputei dois Jogos Escolares Brasileiros (foi vice-campeão em uma edição e terceiro colocado na outra). Com 14 anos, em 2008, fui para São Paulo fazer um teste no Centro Olímpico e passei logo de cara. Fiquei um ano lá e fui campeão em todas as competições em que participei. Depois fui para o Pinheiros, onde permaneci durante três anos e lá ganhei todos os campeonatos paulistas que participei pelo clube. De lá fui para o Sesi, onde fiquei a maior parte da minha carreira – foram cinco anos. Ganhei Copa São Paulo, Campeonato Paulista, fui vice-campeão da Superliga duas vezes e terceiro colocado também. Ano passado fui para o Molfetta, na Itália, onde joguei, na minha opinião, no melhor campeonato do mundo. Isso me ajudou a conseguir essa oportunidade que estou tendo de jogar no Sesc RJ.
Esporte de Fato – Como foi a experiência de jogar no Exprivia Molfetta?
Thiaguinho – Acho que o campeonato italiano ainda é mais forte que o nosso. As principais equipes da Itália e do Brasil têm um nível parecido, mas lá todo jogo é muito difícil. O nosso campeonato está caminhando para essa direção, porque tem muitos times bons. Hoje em dia não se pode jogar mal e achar que vai ganhar. E é o que acontece lá há muitos anos. Todo domingo é pedreira, confronto difícil, e você tem de se superar. São muitos estrangeiros no campeonato italiano, o que deixa a competição ainda mais forte. E muita gente rodada, que disputa a Liga Mundial. Enfim, é a elite do vôlei em um único campeonato de 14 times. A Superliga brasileira tem tudo para chegar no nível deles. A diferença é basicamente essa. E ser contratado como estrangeiro na Itália faz com que você ganhe uma responsabilidade um pouco maior. E isso é o que te faz evoluir. A cidade de Molfetta é apaixonada pelo vôlei e as pessoas não só nos reconheciam nas ruas, como nos chamavam para jantar e tomar café. Fiz muitos amigos que eram da torcida.
Esporte de Fato – O que o atraiu para a função de levantador?
Thiaguinho – Quando comecei na escolinha fazia um pouco de tudo. Mas, por ter começado cedo, jogava com um pessoal mais velho e acabava sobrando o papel de levantador para mim. Todos só queriam atacar. Acabei pegando o gosto pela função, que é muito importante dentro de uma equipe. Porque toda a construção do sistema ofensivo passa pelas mãos do levantador. É como um técnico que tive costumava falar: um levantador bom faz um time ruim ganhar, e um levantador ruim faz um time bom perder. Então vou trabalhar muito para ser esse levantador bom e levar muitas equipes à vitória. É uma função mágica.
Esporte de Fato – Como vê as perspectivas de brigar por uma vaga na seleção brasileira do técnico Renan Dal Zotto, nessa fase de renovação da equipe que foi campeã olímpica no Rio com o técnico Bernardinho?
Thiaguinho – Estou muito ansioso para ter uma chance de mostrar o meu trabalho. Acho que nessa renovação tem um lugar para ser disputado. O Bruninho é titular absoluto como levantador e acho que a ideia do Renan é renovar um pouco. E acredito que me encaixo nessa renovação. Vou tentar fazer uma Superliga pelo Sesc RJ que me leve à seleção brasileira, para que eu possa buscar esse espaço. É o meu objetivo principal estar nesse ciclo olímpico para 2020.