Nas últimas semanas temos sido bombardeados com notícias de jovens e adolescentes que tem se mutilado e atentado contra própria vida, movidos por um “jogo perverso”, que tem se espalhado como rastilho de pólvora pelo mundo.
Essas notícias não falam de jovens e adolescentes de rua, não se referem à doentes terminais, refugiados, moradores de zonas de conflito, mas, falam de jovens e adolescentes “comuns”, como nossos filhos, vizinhos, irmãos, sobrinhos, netos e amigos; jovens e adolescentes de barriga cheia, teto sobre a cabeça, acesso à internet e muito tempo livre. Mas então, o que lhes falta? Qual a causa da angústia e da fuga da vida? Por que num mundo onde milhares de pessoas arriscam à vida, por liberdade, paz e talvez pela possibilidade de recomeçar, temos jovens de classe média que simplesmente desistem?
Por que, num mundo onde doentes terminais enfrentam a rotina de tratamentos dolorosos e extenuantes, tentando acrescentar dias e meses a sua vida, jovens e adolescentes aparentemente saudáveis fazem o caminho inverso?
Para respondermos tais perguntas, devemos nos questionar enquanto sociedade, refletindo sobre o que estamos fazendo? Ou então, o que não estamos fazendo? Onde estamos falhando? Para então, tentarmos entender, a brutalidade das tragédias ligadas ao “desafio da baleia azul”. Talvez as respostas estejam, numa análise mais profunda da sociedade e não dos indivíduos envolvidos.
Zygmunt Bauman, filósofo, sociólogo e escritor polonês, faz inúmeras referências em sua obra, à uma sociedade formada de indivíduos cada vez mais individualistas, cujas relações, afetos e valores tornaram-se líquidos e, portanto, instáveis, rasos e utilitaristas, somos tendenciosos ao desapego e ao egocentrismo. Como exemplos disso, observamos indivíduos com milhares de amigos nas redes sociais, no entanto, nenhum com quem possa contar no mundo real, ou então, famílias que só são felizes e unidas nas selfies, porque fora dos retratos e das redes sociais, cada membro encontra-se muito mais preocupado com seu smartphone, que com as necessidades, medos e insatisfações do outro.
Já não temos tempo para visitar e realmente dar atenção aos nossos amigos e parentes, no entanto, temos tempo para curtir, compartilhar e comentar no Facebook. O tempo só aparece quando acontece alguma tragédia, aí nos reunimos com amigos e familiares para chorar a morte de alguém querido.
Sei que parece trágica, tal comparação, mas, a mensagem que muitos de nós tem passado aos jovens é que só a morte e a tragédia são passíveis de plateia, de forma, que até dá para não estranhar o número de jovens que tem se deixado envolver por psicopatas como os criadores e administradores de jogos como a Baleia Azul.
Creio que não há nada mais eficaz para combatermos essa onda que nos assola, que aplicarmos em nossa vida em sociedade e familiar os ensinamentos e exemplos de Jesus Cristo, “amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, (..) amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. Mt 22: 37-39.
Se amo meu próximo, vou cuidar, zelar e dar apoio aos que me cercam, e sendo amparados não estarão vulneráveis a jogos como “Baleia Azul”. Se amo à Deus mais que tudo, vou dar valor à vida que Ele me deu, vou olhar a minha volta e ver que meus dilemas e dores não são maiores que o Deus que deu seu único Filho por amor à humanidade, vou deixar de lado todo egocentrismo, para ver que existem pessoas ao meu redor, com problemas semelhantes e/ou maiores que os meus; que posso usar essa vida que julgo não valer nada, para algo útil em prol do meu próximo.
Convido você caro leitor, a abrir seus olhos para enxergar e braços para abraçar aqueles que por algum motivo, estão suscetíveis, pratique o amor ao próximo, ame e cuide dos seus, não permita que tragédias, como as noticiadas nos telejornais continuem se abatendo sobre nossa sociedade.
(Prof.ª Silvia Patrícia Marques, Mestre em Geografia, Membro da Igreja Presbiteriana de Pinhão).
Mais profundo que um jogo: uma reflexão sobre o jogo Baleia Azul
27/04/2017 - 16:33
Autor: Naor Coelho