Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

(i)

É incrível como, hoje em dia, muitas pessoas confundem tristeza, profunda ou rasa, com a tal da dita cuja da depressão. Basta que um fardo um pouco mais pesado que o de costume pese sobre os ombros para que o sujeito diga todo macambúzio: “Tô deprimido”.

Muitas vezes, como nos aponta Theodore Dalrymple, não é nada disso. Não é depressão. É apenas tristeza.

Porém, tamanho é o estímulo à fragilização do caráter dos indivíduos que hoje impera que muitos, sem perceber, acabam tornando-se almas desfibradas ao ponto de se deixar abater por um olhar torto, ou com meia dúzia de palavras ríspidas, vendo nisso um imenso desterro que demandaria uma atenção especial, um tratamento singular ou, ao menos, um colinho estatal.

Resumindo a peleja: nosso país não está deprimido não; ele é triste e carece urgentemente de símbolos culturais que arrastem os indivíduos a abandonarem de vez a cidadanite do mimimi para abraçar de peito aberto o indispensável senso aristocrático que é exigido por uma democracia para, desse modo, deixarmos de ser uma massa amorfa para nos tornar, de fato, um povo.

Que isso aconteça em larga escala e num curto prazo de tempo é praticamente uma impossibilidade. Estou sabendo. Agora, nada impede – nada – que mudemos o rumo de nossa existência agora mesmo e de modo resoluto para longe da direção que sonsamente caminha a brasilidade contemporânea. Nada mesmo.

(ii)

Há tempos em que o amarelado do sol apresenta-nos uma feição doentia ao ponto de fazer a vida em nosso em torno parecer cabisbaixa e sem brilho.

Nesses mesmos tempos as noites acabam nos engolindo com seu assustador negro manto de ébano que devora a presença luminosa de tudo e todos que estão em nossa volta.

Esses dias tristes e essas noites escuras são um tempo propício para voltarmos nossas vistas para o luzeiro que habita o íntimo de nosso coração e que, na correria nossa de cada dia, acaba passando totalmente despercebido e mesmo ignorado por nós.

Esse luzeiro é o que José Ortega y Gasset chamava de “o fundo insubornável do ser” que, por seu turno, os medievais chamavam simplesmente de olhar onisciente de Deus.

Olhar esse que nos guia pela noite escura e nos vivifica nos dias plúmbeos quando, é claro, estamos dispostos a mirar nosso passo na direção que nos é indicada por onisciente luzeiro.

(iii)

Pessoas boazinhas cultivam a pose de boa gente, agradando tudo e todos, até terem a oportunidade de agir de modo cínico e descarado e, mesmo assim, fazem isso sem perder aquele jeitão afetado de superioridade postiça. É assim mesmo. Não adianta. Nesses casos o amor ao ridículo é sempre maior que o desejo de agir de modo verdadeiramente bom.

(iv)

Toda essa folia raciocinante que se apresenta pelo garboso nome de educação crítica, ou que responde pela linda alcunha de formação crítica para uma cidadania ativa, não passa duma vil transmissão de rabugices de segunda e perene infância, duma geração criticamente mimada que não quis e não quer abandonar a criancice, para outra que não quer de modo algum ter de carregar o fardo da maturidade.

(v)

Deus está vivo ou morto? Nem uma coisa, nem outra. Ele é. Simples assim. Agora quanto a mim, bem, no momento estou vivo e, um dia, para felicidades de alguns, morto estarei. Não tem jeito. É simples assim também.

E tem mais! Passar-se-á algumas semanas e minha passagem por esse mundo será esmaecida e, em pouquíssimos anos (nem isso), serei esquecido de tal forma que se terá a impressão de que eu nunca teria existido [com você não será diferente não]. Sei que isso é phoda, mas é a mais pura verdade.

Porém, todavia e, entretanto, Deus, que é tido por muitos sonsos, como uma mera ilusão, continua e continuará sempre presente e atuante sobre o mundo, mesmo após o anuncio de sua morte que fora feito pelo enlouquecido e falecido filósofo alemão de bigodão.

Pois é, e se Ele fosse uma ilusão, não consigo parar de pensar o quanto isso torna maior a minha insignificância cósmica, haja vista que, desse modo, uma “ilusão” será lembrada e amada por milênios e eu – tão real quanto carnal – num pestanejar torno-me um ninguém mais que esquecido.

Enfim, não é à toa que a Sagrada Escritura nos diz que tudo que está debaixo do sol não passa de vaidade; vaidade das vaidades.

(*) Professor, cronista e bebedor de café

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