Tudo que está debaixo da saia vistosa da majestade solar não passa de vaidade. Vaidade das vaidades, tudo desde priscas eras é tão somente isso mesmo: vaidade. Todo mundo sabe disso e, todos nós, sabe-se lá porque cargas d’água, ignoramos isso.

E não tem lesco-lesco, não há uma única viva alma na face deste desolado planeta, esquecido no meio da vastidão cósmica, que uma vez ou outra não tenha tirado do meio do espiráculo bostal da torneira cagaritana alguma patacoada ideológica [supostamente] capaz de, num revertério visceral, resolver todo esse FEBEAPÁ que assola nosso triste país desde tempos imemoriais.

Abre parêntese: Ops.! Acho que acabei de ultrapassar a sutil e perigosa linha amarela da galhofagem. Fazer o quê? Agora foi. Escrevinhada que segue. Fecha parêntese.

Patacoadas ideológicas essas que, enquanto um pútrido fruto de nossa incurável vaidade, não se contentam em resolver um único problema que esteja realmente ao alcance de nossas mãos. Nada disso. Tais subprodutos de nossa soberba querem porque querem ver a solução de todas as encrencas e colocar um ponto final em tudo desde que, é claro, tenhamos o direito sacrossanto de ter a última palavra e que esta seja tremendamente crítica.

Por isso toda ideologia é o que é: um montinho de excremento envolto com palavras rebuscadas de forte apelo emotivo. E não sou eu que o digo. Nada disso. É Jorge Amado e, obviamente, não posso e nem desejo discordar do homem.

Não tenho como discordar do mestre baiano, pois, como todos sabemos, todo aquele que adere a um trem desse naipe não consegue desvencilhar facilmente a sua alma dos juízos que são ditados por ela porque, em regra – e não há muitas exceções a ela – todo aquele que entrega sua vida a uma causa, ou a uma ideologia, acaba por colocar essa visão, limitada e limitante da realidade, acima da verdade e no lugar da sua própria consciência.

E a grande tragédia sofrida por inúmeras figuras, que se entregam a essa situação de transe hipnótico, é que dificilmente elas conseguem se flagrar disso, se libertar, tendo em vista que, para elas, as suas projeções utópicas inconfessadamente totalitárias seriam a mais concreta realidade e, todos aqueles que estão fora do seu quadrado ideologizante precisariam ser despertadas do torpor alienante em que [supostamente] se encontram. Enfim, cegos querendo corrigir tudo e guiar todos.

De mais a mais, como essas figuras criticamente críticas negam a existência da verdade – que nos corrige todas as vezes que tropeçamos em nossa caminhada existencial por esse vale de lágrimas – elas acabam por colocar qualquer tranqueira no lugar dela, da verdade, e passam a crer, candidamente, que os seus véus políticos e panos ideológicos seriam uma espécie de revelação e elas, é claro, os seus arautos.

Todos nós, como havíamos dito no início dessa escrevinhada, podemos cair nesse tipo de esparrela, todos nós mesmo e, para tanto, basta que acreditemos que somos melhores do que os outros. Melhores não porque de fato façamos algo de forma exímia ou porque realmente sejamos pessoas portadoras de alguma qualidade moral, mas sim, por sermos meros devotos de uma ideologia que presume explicar tudo, que não resolve nada e, ainda por cima, degrada a todos.

Lembremos que muitos daqueles que, décadas atrás, se autoproclamavam os baluartes da ética, hoje defendem, com rodopios erísticos mil, o princípio do “rouba, mas faz”.

Enfim, sejamos francos: não é muito difícil cair nessa arapuca. Não mesmo. Porém, para sair dela, infelizmente, não é nem um pouco fácil não. Dá um José de um trabalho. Somente quem saiu dessa jaula sabe do que estamos falando.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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