Uma pergunta frequente que se faz, uma pergunta que nos fazemos, é o que leva algumas sociedades prosperar e outras malograr em termos sociais e econômicos?

Uma pergunta justa e com inúmeras respostas possíveis. Algumas delas interessantes, porém insuficientes; outras são encantadoras, mas que, por sua deixa, não passam dum punhado de floreios retóricos, de pouco valor, do princípio ao fim.

Ciente desse cipoal todo que permeia a questão referida acima, por certo que não me aventurarei em apresentar uma resposta cabal e definitiva para a mesma e, por um misto de prudência e preguiça, não procurarei aqui, nessas linhas, dissertar sobre as teorias equivocadas e insuficientes que se apresentam para tentar responder a tão premente indagação. Não “merrrmoo”.

Contentar-me-ei, nestas linhas, apenas em apresentar uma resposta que, ao seu modo, possa nos ajudar a contemplar um dos elementos que se faz presente nos países que embarcaram no dito cujo trem da prosperidade e que, em regra, não conseguiu criar raízes profundas nas sociedades que não embarcaram na aventura da bonança social e econômica.

Seguindo por essa vereda, o historiador Neil Ferguson, nos chama a atenção para a importância que as instituições sólidas e claras têm na formação duma base estável para o desenvolvimento duma sociedade.

Trocando por miúdos, o que o referido historiador nos chama a atenção é para o fato de que onde não há regras claras para se jogar, não há competição; o que haveria seria apenas a luta pura e simples pela sobrevivência a partir das regras brutais ditadas pela volatilidade das circunstâncias e, por isso, se o ambiente formado por uma sociedade é ordenado por uma constante instabilidade, os estímulos sociais acabam tornando-se viciados e viciosos ao invés e fomentar atitudes virtuosas.

Quando voltamos os olhos para o nosso triste país, podemos, se assim desejarmos, matutar a respeito do quadro institucional dessa terra de desterrados para termos um vislumbre dum dos grandes entraves de nossa sociedade; digo, o entrave dos entraves.

Quando paramos pra prestar a devida atenção na forma como boa parte das pessoas procura se virar para ganhar o pão de cada dia, vemos, com grande clareza, o quanto o brasileiro é empreendedor, trabalhador, batalhador e inventivo. Como dizem, a maioria dos filhos dessa terra dão seus pulos para honrar os seus bigodes.

Doutra parte temos nossas instituições e, ao lado delas, uma chusma de elementos que sustêm sua existência parasitando a sociedade através da manutenção dum punhado de anacronismos que, como direi, arrocham insistentemente nossas instituições carcomidas.

Se fôssemos resumir o entrevero, seria mais ou menos assim: enquanto muitos querem trabalhar e produzir, alguns querem atrasar para se locupletar; usufruir, do bom e do melhor, em nome do bem de todos, é claro. Sempre em nome do povo.

E como dar um jeito em nossas instituições desajeitadas? Francamente, não saberia nem por onde começar e de que maneira iniciar, tendo em vista que esses trens, as tais instituições, são, como diria Norbert Elias, um produto das relações de interdependência que são construídas histórica e socialmente entre indivíduos e instituições sociais; e tudo aquilo que é construído no passo vagaroso do tempo dificilmente pode ser mudado num estalar de dedos.

Por isso imagino que, para começo de prosa, poderíamos passar a pensar as nossas vidas para além dos ditames cínicos da “lei de Gerson”, dando um basta a esse hábito de “querermos sempre nos dar bem” e começarmos a conhecer e respeitar devidamente tudo o que recebemos de nossos antepassados; matutar serenamente a partir desta herança recebida e agirmos, no presente, tendo em vista o Brasil que iremos legar para aqueles que estão por nascer nesta pátria de chuteiras.

Se formos capazes de revogar o dito cujo do “jeitinho brasileiro”, creio que um dia teremos jeito. Caso contrário, que siga o entrevero até o enterro da pátria que nos pariu.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela.

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